sexta-feira, 3 de outubro de 2008

A SUJEIRA

De Rubem Leite
para Cida Pinho.

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Cheio de árvores
Uma toda amarela
Deixa o chão todo sujo de amarelo
É a coisa mais linda.

Depois de uma noite fria
O Sol me acaricia
Vejo que há mais valia
Em semear
Que esperar a flor
Que a vida me prometia

Admirando rubras e amarelas boninas
Vi de relance um jacu
Que voou
Posou num galho
E posou para mim.

Enganam-me os olhos
São dez horas de uma noite clara
Verde e cinza
Rasgada por amarelas nuvens
Que a luz veste.
Há tanta beleza
Há tanta dor
E ainda espero na fé.

“Deus sempre conduz você ao rumo certo”,
Diz a Seicho-No-Ie.
Não há céu
Tudo é uma nuvem
Cinza-azulada
Mas o sol a ultrapassa.
Aves cantam
E a fábrica geme.
O que sou em minha história?

Entre o sol matinal que virá
E após a brisa da tarde que se foi
Fica a esperança das manhãs
A fé da tarde
E a amizade que vence as noites.

Ontem vi um guacho
E seus vários ninhos
Conheci e comi “mangamamão”
Hoje não acordei
Fui despertado pela cantoria dos pássaros.
Trem bão não me falta.

Uma serra corta o silêncio.
Lendo me viro de costas
Da janela o cinza me impede ver
Fecho os olhos,
Entro na grande sala de livros
E me refresco.

Ontem na estrada
Pensei/orei
Por você
Olhando a noite
E apesar do escuro
Vi estrelas
enquanto caminhei firme e forte.

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