É uma bela noite. Nári canta depois de minha apresentação de teatro. Sentado à mesa do bar a ouço. Chegam três pessoas. Um é conhecido meu e os outros são um casal. Chamo-os para sentarem comigo e ouvirmos as belas músicas. Nári está apresentando o seu xou NáriFarias em Estação 120. Realmente é uma negra voz passeando pela música mineira.
Entre uma música e outra e bebericando vinho a gente conversa. Onze horas. Meia noite. Uma hora vou embora a pé, pois não tem mais ônibus.
Na semana seguinte encontro o casal no teatro. Está chovendo. Fomos assistir uma peça de BH. Conversamos um pouco antes da apresentação. Foi casual nossa esbarrada. E depois falamos bastante. Mas tive que ir embora nem todas as noites posso vadiar. Sou um homem sério. Tenho que ajudar nas despesas da casa e de manhã tenho que trampar. Afinal, artista pode ser ocioso, mas nunca vagabundo. Nem todos, pelo menos.
Ah! Os vagabundos... São todos gente boa. Bem! As pessoas dizem que eles são vagabundos. Eu não os acho. Mas seguindo o que eles dizem falo o que vejo:
Quatro “ripes” que conheci em Varginha. Fizemos amizade. De quatro dias, mas foi muito bom e ainda hoje eles não saem de minha cachola. Cachola... Palavra antiga. Nem sei se você sabe o que significa... Não sabe? Pegue o dicionário. Ah! Você conhece. Legal!
- “Raaauuuuu!”. Pegando minha mão coloca um bracelete de bronze ou cobre. Simples. Rústico. Gostei! E dando outro pulo vai embora. Assim nos despedimos. O presente me encantou muito menos que os poemas que eles me recitaram e as conversas que tivemos.
Ah! Quantos outros vagabundos conheci. E todos são lembranças que me agradam e enriquecem.
Semanas, mais de um mês. Uma noite chuvosa. Um dia chuvoso. Outra noite chuvosa. Não quero sair. Mas fazer o quê? Saio! Vou ao cinema. E o casal lá.
- Benito!
- Éder! Diana!
- Vai assistir algo?
- Sim!
- Qual?
- Manda Cascar. E vocês?
- O mesmo.
Assistimos. Rimos. Vamos para a praça de alimentação.
- O que você vai fazer agora, Benito!
- Ir pra casa.
- Vamos dar uma esticadinha. Diz Éder.
- Vamos pra nossa casa.
- Tenho que trabalhar amanhã cedo.
- Trabalhe! Mas vamos lá pra casa.
- De manhã, depois do café você vai.
- ...
- Vamos!
- Vamos!
- Vamos!
Nós! Eu e ela. Ela e ele. Eu e ele. Nós e ela. Nós e ele. Eles e eu. Dormimos. Acordamos. Na empresa:
- Que ce á pensando, Benito? Ta tão aéreo.
- Numas coisas que aconteceram ontem?
- O quê?
- Nada demais.
Com um casal? É minha primeira vez. Estranho. O que a igreja diz sobre isso? Não deve ser coisa boa. Não devia ter ido. Mas foi bom. Nem sei quem é melhor. Se Éder ou Diana. Será que dei conta dos dois? Pra mim foi muito bom. Que isso, Benito! Isso é pecado. Bem! Já ta feito. E quero mais. Mas não sei se devo. O que fazer?
E a chuva não para.
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