sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

DUAS VIDAS ou QUISERA SER 2 ...

Sou um cachorro preto, peludo e com muita fome. Fome saciada por um rapaz. Gostaria tanto de me aproximar dele, morar com ele, de não sentir mais frio. Frio e fome. Mas e o medo? Menino, que medo os homens me dão. Querer ou não querer? Ter ou não ter? Poder ou não poder? Quem sou eu? O que é você?

Sou um rapaz branco, magro e que nunca passou fome. Mas que nunca se sentiu saciado por ninguém. Pouco vi, se é que realmente vi alguma vez, alguém que valorizasse a arte como ela é: manifestação da vida. Minhas artes. As artes de todos. Todas as artes. Artistas de todos. Angústia! É isso que me define hoje. Angústia!

O cachorrinho preto tem quem lhe dá água. Vejo a vasilhinha. Vi outro e outro cão de rua com vasilhinhas de água e comida no canto de calçadas em outras ruas. Sorri! Que bom, bom mesmo, que eles têm alguma proteção.

Cadê as crianças com fome? Não existe mais nenhuma? Cadê as crianças sem lar? Não existe mais nenhuma? Cadê as crianças “sexusadas”? Não existe mais nenhuma? Que paraíso isso seria... Ou não existem porque foram exterminadas?

Quanto a mim gostaria que o cachorrinho preto não tivesse medo de mim e que eu pudesse acolher todos os cães de rua. Gostaria que as crianças nunca fossem de rua nem que precisassem fugir das ruas...

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