09 de maio este ano é o Dia
das Mães; um dia mãe – e cada mulher – não será só a “rainha do lar”, mas sim
soberana da própria vida.
13 de maio é abolição da
escravatura; uma data quase bela. Só não chega a tanto porque não houve
abolição, mas sim abandono e leis eugênicas.
O acesso às escolas
públicas foi franqueado à população livre e vacinada. [...] A matrícula em
escolas públicas era, porém, expressamente proibida aos escravos.
O suposto geral era
que o ensino primário seria suficiente para as camadas pobres. Já o ensino
secundário não era obrigatório e, como consequência, acabava restrito a uma
parcela seleta da população livre. Tanto o curso secundário como o superior,
aqueles que facultavam a entrada para as atividades intelectuais mais
prestigiosas e para os cargos públicos, ficavam nas mãos das classes
senhoriais, sendo que o restante da população deveria contentar-se com a
dedicação aos trabalhos manuais.
Para
as garotas que frequentavam o ensino primário, a doutrina cristã, a leitura, a
escrita e o cálculo mais elementar pareciam suficientes, juntamente com as
aulas de bordado e costura. A formação de meninas visava à vida no lar,
doméstica, sendo a pública reservada aos homens. Por isso, os poucos casos que
alcançavam o secundário eram geralmente destinados para o magistério feminino.
Libertação era
entendida pelos proprietários de escravos e pelo Estado como uma espécie de
presente; desses que se “recebem” e que “impõem” a obrigação de demonstrar
gratidão e retribuir.
Libertos
nascidos no Brasil eram considerados livres, mas não gozavam dos mesmos
direitos dos cidadãos nascidos livres.
Não nasci
preto; não me denigre. Minha avó veio da África e aqui outro preto africano lhe
fez filhos. Graças à escravidão minha avó foi salva pelo loiro Senhor Jesus que
se apiedou dos escuros africanos e os trouxe para limpar suas sujas peles.
Não nasci
preto, não me denigre. Minha mãe era preta brasileira e seu senhor lhe fez
filhos.
Não nasci
preto, não me denigre. Se minha mãe tivesse importância eu seria cria de preta
brasileira. O que influi é meu branco pai.
Os
ventre-livres são brasileiros sem serem cidadãos, pois são pretos. Mas não
nasci preto nem ventre-livre.
Me chamam de macho. Mas se eu fosse macho só serviria para procriar se fosse preto ou ser artesão se fosse ventre-livre.
Não nasci
preto; nasci de branco numa incubadora preta. Nasci de branco sem ter pai; o
que tenho é padrinho. Alguns dizem que ele é pai meu e de outros. Mas meu
padrinho é branco, portanto é homem direito.
Meu
padrinho é senhor que fora criado pela minha avó, praticamente irmão da minha
mãe. Não sendo eu preto me fez estudar. Ainda bem que não sou mulher. Nem
mulher nem fêmea podem instruir-se. O pouco que mulher aprenderia era para ser
boa esposa ou professora de criancinha; mas não todas as criancinhas, só às
menininhas. E fêmea serviriam para serem incubadoras e as que conseguiram se
limpar de sua pretitude até poderiam ser subprofessoras de outras fêmeas também
semipurificadas.
Homem X
macho. Meu pai nasceu homem e se nasci parecendo macho provei que sou homem,
pois não nasci preto.
Por ter
provado que não nasci preto; que nasci homem pude estudar e agora trabalho como
escrivão da quarta seção do almoxarifado do Arsenal da Marinha.
Não nasci
preto nem sou macho. Posso votar como se fora... Posso votar igual a um homem.
Ofereço como presente aos
aniversariantes:
Luã Mérus, Nancy M. Maestri, Camila
Mendonça, Pablo Cardoso, Marília Costa e Eraldo Maia.
Recomendo a leitura de:
“Lima Barreto: triste visionário”
(mais informações abaixo);
“O Verso da Vida”, de António MR
Martins:
http://poesia-avulsa.blogspot.com/2021/05/o-verso-da-vida.html
SCHWARCZ, Lilia Moritiz. A
professora Amália Augusta. Lima Barreto:
triste visionário. São Paulo: Companhia das Letras, 2017. P. 31-41.
Citação inicial e cronto inspirado
nas páginas acima. Manuscrevi acompanhando minha mãe no hospital; dois dias
antes de ser assassinada por Boçalnato e seus cúmplices (seus eleitores)
através do covid-19.
Rubem Leite
é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário:
aRTISTA aRTEIRO. É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É
graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do Ensino da
Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua
Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”. Autor dos artigos
científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e
Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola,
Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e
“Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro
Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
Imagens: fotos da capa do livro “Lima
Barreto: triste visionário” tiradas pelo autor. E foto do autor tirada pelo
próprio.
Escrito na ala F, acompanhante de
minha mãe no leito 39a, no meio da manhã de 12 de fevereiro; digitado oito dias
depois e trabalhado entre 15 de abril e 09 de maio de 2021.
Nenhum comentário:
Postar um comentário