segunda-feira, 11 de junho de 2012

RÊ NASCIMENTO


Obax anafisa.

Eu sou um cacto.
Conforme você os veja
verá a mim.

É véspera do Dia dos Namorados. E antevéspera de Santo Antônio de Pádua, exemplo a ser seguido.
E a pergunta que não quer calar é
Até quando haverá militantes da infelicidade alheia?
Pessoas que dizem como o outro deve ser, o que o outro deve fazer; que mais investem em impedir os outros de ser feliz do que em ser, eles próprios, felizes.
Meu cronto é uma súplica a tais militantes: vivam e deixem viver. É uma exortação aos que buscam ser felizes: vivam e deixem viver.
E para todas as pessoas digo:
Música desnuda bajo la luz del sol, ninguna palabra, sólo un aullido final”¹.
Digo também para todos – militantes ou não:
Queres ter sempre Deus no coração? Vigia sobre ti mesmo. (...) Não te queira fazer outro diferente daquele que Ele mesmo criou e, desta forma, terás sempre a Deus no coração”².



- Bom noite, amor!
- Para com isso.
- Como?
- Para de me chamar de amor em público. Já disse que não gosto.
- Mas a gente se gost...
- É... Não... Isso é, não dá, cara. Não dá.
- Que é isso? Vamos conversar. Tenho algumas coisas para dizer que...
- Não tem conversa. Não está certo. É! Não tá certo. Não quero levar essa vida... Virar piadinha.
- Por que está dizendo isso? A gente se dá bem.
- Não damos não. E tem mais, estou saindo com Meirezinha e é com ela que vou ficar. Estou trabalhando e você? Só estudando. Eu não, eu quero um futuro de sucesso e com você não será possível. Francamente!
- Por que não? Eu tenho algo para lhe dizer que...
- Não tem conversa, já falei. Tive um dia duro na Usina e agora quero me relaxar. Estou indo para casa da minha namorada. Então não me procure mais, Rê. Se me vir na rua, finja que não me conhece porque eu não te conheço.
Enquanto a sombra se afasta, nos olhos, uma lágrima teimosa e no coração, uma ferida besta.
Ainda olhando para o nada, pouco percebe quatro pessoas sentadas na esquina fumando pedras. Na outra esquina, atrás de um tronco morto de uma árvore, escorado no muro, um rapaz sentado com pernas arreganhadas, joelhos dobrados, cabeça baixa. Sua pedra é um sinal de vida morta.
- É claro que você é vencedô. Jesus é a vitória que Deus te mandô. – Canta uma mulher num vestido rosa com estampa de rosas brancas saindo da esquina do rapaz sentado e virando na esquina do grupinho.
Em algum ponto entre as esquinas um homem de cabeça baixa, ora balança-a, ora não. Agora não. Seu ombro direito escorado no portão laranja, barriga estufada, bundinha bem feita, pé direito levemente à frente do outro, perna esquerda esticada, joelho direito flexionado. Imóvel. Um minuto. Dois minutos. Cinco. Mais.
- Óóóóóóóóó! Échi úmachi dechigráchia, Basil. Óóóóóóóóó! Échi uncho chofripento. Échitacabando ôchi Echatado Junido. Óóóóóóóóó!
Um motoqueiro passa, ouve espantado os lamúrios gritados do homem e continua indo.
- Óóóóóóó! Pai é mãããe. Êêêêê. Pai é mãããêêêêê. Pai é mããããe. Óóóóóóó!
- Jesus é bão e o diabo não. Tô cum Deus. Tô cum Deus. Tô cum Deus, mermão. – Canta a mulher saindo da esquina do grupinho e voltando para onde veio.
Rê levanta os olhos e com o pouco que percebe caminha para a casa. – Tenho trabalho da faculdade para entregar. – Balbucia várias vezes, sem pensar. Sua vida continua. Igual a todos, ele tem momentos bons e ruins. Mas não falemos sobre isso. O que eu tinha para contar já foi dito. Eim? Se você chegou até aqui é porque não desistiu da leitura e está querendo saber mais? Ok, ok! Façamos assim, não vou dizer nada sobre Rê Nascimento, além de que ele se formou, montou com dificuldade um escritório de engenharia, encontrou alguém e se casaram no civil. Ah! Agora você quer saber sobre o cara que lhe deu o fora? Casou-se com Meire, tiveram três filhos, engordaram, se enfastiaram, divorciaram. Ela assistente de enfermagem e ele pião na fábrica. Já se passaram quase vinte anos e três ou quatro vezes se toparam na rua. Rerrê! O outro puxou conversa uma vez e Rê, espantado, educado e desinteressado, lhe respondeu. Nas demais, passou direto, quase sem percebê-lo.



Ofereço como presente de aniversário à
Fabi Dolabela, Ana P.P. Bejar, Mª Lurdes Carvalho e Lorena Rodrigues.

Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas flores para você e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

Escrito entre 24 de maio e 11 de junho de 2012.

¹ Alejandro Vera – músico do Uruguai – escreveu numa madrugada e postou no meu facebook.
² Frei PILONETTO, Adelino G. (organização) – Santo Antônio de Pádua: homem do Evangelho, confidente do povo – Petrópolis: O mensageiro de Santo Antônio, 1995 – FFB, nº 2.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

SETE CASCAS, MAIS OU MENOS


Obax anafisa.

Eu sou um cacto.
Conforme você os veja
verá a mim.



Terceiro domingo de maio no Pq. Ipanema com a boa companhia de um livro. E para brincar, um desenho de uma trepadeira sete cascas. Rapazes treinam “isleique laine” (slackline) entre o teatro de arena e o caramanchão, onde estou. Sento meio de lado da sete cascas, olho e, não digo retratá-la porque além de não saber desenhar quero apenas me inspirar e brincar.
- Benito! A gente se encotrô de novo. Legal!
Falam-me os irmãos Augusto e Guilherme e então conversamos sobre livros e desenhos. Que gostariam de desenhar como eu; que não gostam de ler. E eu repito o que falei semana passada “Basta desenhar pela diversão e pegarem em livros para descobriram o prazer da leitura”. Os garotos se entreolham duvidando.
- Pensem só. Vocês estão sem nada para fazer. Peguem uma revistinha da Turma da Mônica e se divirtam. Com o tempo procurem também outros tipos de leitura.
- É, Mônica eu gosto.
- Pois então. Leia e se divirta, Augusto.
- Revistinha tudo bem. Mas livros... Acho chato e difícil entender.
- Já ouviram falar no poema Ismália, de Alphonsus de Guimaraens? Vejam só uns pedacinhos “Quando Ismália enlouqueceu, pôs-se na torre a sonhar. Viu uma lua no céu, viu uma lua no mar. As asas que Deus lhe deu ruflaram de par em par. Sua alma subiu ao céu, seu corpo desceu ao mar”¹. Viram a imagem? Entenderam a história?
- Não... – Augusto falou meio indeciso, feito um aluno sabatinado pelo professor.
- Pensem bem. O que Ismália viu no céu?
- A lua. – Fala Guilherme
- E ela não viu mais nada?
- Viu outra lua na água. – Diz Augusto.
- O que ela fez?
- Pulou?
- Sim, Guilherme. Por que a louca fez isso e o que aconteceu?
- Ela queria a lua, mas acabou morrendo. – Responde depressa Augusto.
- Viram? Vocês entenderam! Não é um poema bonito? Triste, mas bonito.
Vou juntando minhas coisas, eles vão se levantando e então nos despedimos.
Sete rapazes treinam “isleique laine” ao pé do morrinho do teatro de arena. Um deles, mais gordinho, pisca para mim. Acho interessante o esporte e me abrigo à sombra de uma árvore. Entre leitura do conto “O que faz um escritor” e evolução do esporte cai uma chuva. Eles não desistem e eu me levanto diminuindo a possibilidade de me molhar. Ir embora? Parece ser dessas chuvas passageiras. Penso, então fico olhando e lendo. Agora são nove pessoas e o que me cumprimentou me dirige a palavra
- O que tá lendo?
- O Gato Sou Eu, de Fernando Sabino. Conhece?
- Não! Ele é de onde?
- É mineiro. Acho que foi um dos “Quatro Cavaleiros do Apocalipse”². Já ouviu falar?
- Não! O livro é bom?
Leio um trecho do conto Uma noite inesquecível “Eu estava perdido: a veneziana deixava passar riscas de luz, zebrando meu corpo nu de cima a baixo. Eu me sentia como se estivesse em exibição numa jaula. Espremido atrás da porta, mal conseguia respirar. Não era só o medo que me arrepiava a pele: era a humilhação de ser apanhado de calça na mão”.
- Puxa! – Sorri para meu sorriso. – Que legal. Posso pegar?
Entrego-lhe o livro. O rapaz folheia e lê umas páginas enquanto seus colegas caminham. Então lê para mim, olhando para mim, sorrindo para mim, as últimas linhas de Apenas um sorriso diferente “ao se pentear diante do espelho, notou que expressão surpreendida pelo marido em seu rosto já não lhe parecia tão estranha, como se agora fizesse parte de sua natureza: não apenas um sorriso diferente, mas, a ele acrescentado por antecipação, um ar de indefinível volúpia”.




Ofereço como presente de aniversário à
Bruno Grossi, Isa Zeff, Carlos G. Hidalgo, Adriana Garcia, Leandro Silva, Lua Salles, Amanda Vita.

Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas flores para você e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

Escrito entre 27 de maio e 04 de junho de 2012.

SABINO, Fernando – O Gato Sou Eu – Rio de Janeiro: Record, 1984

segunda-feira, 28 de maio de 2012

BANAIS UTILIDADES


Obax anafisa.



Tarde de Dia das Mães no Pq. Ipanema com a boa companhia de um livro de contos ingleses. E para brincar, um desenho da ilha.
- De quem é essa bola? É sua?
Vozes de dois garotos perguntam para um homem num banco que responde algo que não ouço por preferir meu lazer. Passam-se alguns minutos, acho, e um garoto fala “que desenho maneiro”. O outro “Eu também desenho desse jeito”. E o primeiro retruca “Desenha nada”.
- Você desenha bem, moço. – O mais velho fala para mim.
- Obrigado! Mas acho que ele está certo. Deve desenhar do mesmo jeito que eu. Eu não sou desenhista.
- Não? Por que desenha então?
- Só por diversão, para brincar.
- Você desenha legal. – Fala o segundo.
- Obrigado, mas ainda concordo com você. A gente deve desenhar do mesmo modo.
O mais velho senta ao meu lado e o mais novo se mantém de pé, de frente para o irmão, escorado na bicicleta. Então pergunto o nome deles e me apresento.
- Eu sou Benito e vocês, como se chamam?
- Augusto.
Diz o mais velho e o caçula completa.
- Guilherme.
- Posso ver? – Augusto pergunta e deixo os dois manusearem o caderno. – Gostaria de saber desenhar assim.
- É só sentir prazer e fazer por brincadeira, pela diversão. Sem nenhum compromisso.
- Huuuum! Num acho não.
Sorrio e digo que é sim.
- Fez tudo isso hoje?
- Não! Só o último.
- Vai desenhar mais?
- Não! Agora vou voltar a ler.
- Não gosto de ler. – Fala Guilherme.
- Talvez porque ainda não descobriu o prazer que é a leitura.
Os garotos se entreolham duvidando.
- Pensem só. Vocês estão em casa, sem nada para fazer. Nada interessante na tv, lugar nenhum para ir. Peguem uma revistinha da Turma da Mônica e se divirtam. Com o tempo procurem também outros tipos de leitura.
- É, Mônica eu gosto.
- Pois então. Leia e se divirta, Augusto. Maurício de Souza te apresentará à grandes obras brasileiras e estrangeiras. Já ouviu falar de Shakespeare?
- Não!
- Huum! Já ouviu falar em Romeu e Julieta?
- Já!
- Viu, você conhece algo de Shakespeare, um dos maiores escritores da humanidade. Lendo a Turma da Mônica acabamos conhecendo muitas obras boas, né. Assim, comece lendo Maurício e depois procure também outros tipos de leitura. Quem sabe você não acaba gostando de livros.
Enquanto falo vou juntando minhas coisas, eles vão se levantando e então nos despedimos.
Vejo um sujeito se aproximar do lago, escorar sua máquina numa árvore e fotografar a garça pescando. Vou-me embora olhando as árvores, as flores, as crianças, as famílias e pensando, não sei por que, em pessoas que conheci. Hoje, Ricardo Escudero. Thiago Domingues? Tem um ano já. E ambos pelo “feicebuque”. Tiago Costa, uns três ou quatro anos e também virtualmente. Bruno Grossi, em 2004, na Praça da Liberdade em BH. Com sua namorada e amigos distribuía a versão impressa da revista cultural Nota Independente. Na época voltada para o roque. E no princípio de junho Brunão aniversaria. Nossa! Tenho uma lista imensa, graças a Deus! Para eles e em especial, como um pedido de desculpas, por não ter citado, aos meus demais amigos virtuais: “Essas distâncias astronômicas não são tão grandes assim: basta estenderdes o braço e tocar no ombro do teu vizinho”¹. Dois rapazes treinam corda bamba ao pé do morrinho do teatro de arena. Um deles, o que está no chão, pisca para mim e sorrimos. No topo do morro os roqueiros baseiam e conversam nas arquibancadas. Um conhecido, pessoa querida, na sua roda discute qualquer coisa. Olha para mim sorrindo, então me aproximo. Trocamos banalidades e me despeço.



Ofereço como presente de aniversário à
Ivone M. Andrade, Kilder Andrade, Gabriela Macedo.

Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas flores para você e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

Escrito entre 13 e 28 de maio de 2012.

¹ QUINTANA, Mário – Para viver com poesia / Mário Quintana; seleção e organização Márcio Vassallo. – 2ª edição – São Paulo: Globo, 2010.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

OLHAI OS LÍRIOS DO PÂNTANO


“Olho-te com olhos de abelha que vê um laranjal repleto de flores!”.
Nena de Castro, poeta (Ipatinga MG).

Obax anafisa.


Calça de algodão branca, levemente encardida. A blusa também. Pés descalços andam no riacho de redondos seixos e água com cor semelhante às roupas, mais suave e transparente, no entanto. Uma hora, um dia, uma semana, um mês. Não se sabe o tempo. Se sente sede pega um pouco e a bebe nas mãos em concha. Fome não percebe. O sol escaldante não lhe fere. As sombras refrescantes não lhe alcançam. – Sol e sombrio. – As margens no estreito riacho lentamente vão se afastando, o riacho alargando. Água e lama. E ele não vê. Nem pensa em querer. Apenas caminha pensando vagamente numa flor. Um copo de leite, talvez. Ou um lírio. Completamente branco em folhas muito verdes.
Subpensamentos se perdem na flor que lhe vagueia.
- Eu sou...
O IPTU veio tão alto que apavorou a todos. Discussão. Graças a Deus sem gritos. A mãe foi para um lado, Benito para outro. Quanto lhe custa visitar sua mãe. O dinheiro pesa. Não tanto quanto o sentimento dela.
Pensamentos se perdem na flor que lhe vagueia.
- Eu sou... Eu sou! Quem?
Levanta-se do sofá e vai ao quarto. Senta e se levanta num susto. Ao seu lado uma pequena aranha morta, sem algumas pernas e sem parte do corpo. No chão, outra. E outra. E outra. Todas do mesmo modo mortas. Anda assustado e vê uma que lhe vigia. Marrom de corpo pequeno, mas de pernas fortes. Dá a volta e ela gira seu corpo, ele afasta, a aranha o segue. Corre e ela pula, pegando-o na coxa. Sente a coisa na pele, dá um tapa esmagando-a na pele perfurada. Um pontinho preto num círculo vermelho.
Pensamentos no lírio que lhe vagueia.
- Eu sou Benito!
O sol se torna conscientemente quase percebível, mas não ainda. Alguma névoa na cabeça não lhe deixa ver em seu íntimo o Sol iluminando a Terra, diretamente sobre o Brasil. Há nuvens sobre toda América.
Pensamentos no lírio.
- Eu sou Benito Bardo Junior! Sou meu senhor. Não desisto. Eu persisto.
Pensamentos.
- Eu sou o lírio ao sol. Sol que ilumina diretamente Minas Gerais, o Brasil. Toda América bem iluminada. Nada, nem nuvens, interpõem entre o Sol e a Terra. Eu sou o lírio ao sol.
Realidade!
Resiliência!


Ofereço como presente de aniversário aos meus caros
Vinícius Cabral, Tiago Costa, Sinésio Bina, Morgana Magalhães, Marquim de Faria, Maria M. Queiroz, Léo Coessens, Geraldo Valentim, Emanuel M. Lima, Beto de Faria e Adê Araújo. A todos, felicidades e resiliência sempre.
E ofereço ao casal Thiago Domingues e Luah Kugler,
que dia 16 passado fizeram um ano de namoro.
Para o casal, meus votos:
Sorria! Quem decide não deve recuar!! Vá e Vença!!!

Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas flores para você que me lê e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

Escrito entre 03 e 21 de maio de 2012.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

TEM OU NÃO TEM?


Obax anafisa.



- Ei! Tá lembrado de mim?
- ?
- Eu trabalho na empresa em frente de onde cê mora.
- ...
- Estou chateado, cara! Estou me separando e minha mulher veio aqui ontem e fez o maior escândalo durante o trabalho. Falou de mim para minha chefe. Eu já tava entrando no caminhão quando ela chegou e atrasou o serviço de todo mundo. Até que o caminhão saiu e eu tive que ficar, né. Estou sem tomar banho desde ontem. Não estou sujo, só suado, mas é como se não tivesse limpo, né. Cê já ficou assim?
- Eu...
- Pois é. Muito desagradável. Estou vindo hoje obrigado! Não queria. Trabalhar num sábado... e depois de uma baixaria... Porra, ninguém devia passar por uma dessa. Concorda?
- Eu...
- Pois é. E sabe por que estou me separando? Porque peguei a fulana na cama com outra mulher. Nem era cum hômi. Era cum mulher. Não dá para descer a porrada num caso assim, né. Pois era cum mulher. Mas se fosse cum hômi eu tinha baixado o sarrafo neles. Mas mulher cum mulher num tem sexo, né. Ela cum otra mulher só pude ficar bravo, decepcionado, né. Uma senvirgunhice. Concorda?
Pelo cheiro de cachaça nele, nem tentei responder. E nem daria tempo.
- Estou sem tomar banho desde ontem, cara! – Eu, Benito, penso: Ai meu Deus! Será que ele vai querer tomar banho na casa de minha mãe? – Minha chefe olhô pra mim com uma cara... E estou sem tomar banho desde ontem. – Eu penso outra vez: Ai meu Deus! Será que ele vai querer tomar banho aqui em casa? Que desculpa darei? Bem... é residência de minha mãe e tem uma tia visitando. Duas senhoras... Não dá para levar marmanjo desconhecido para lá. – Dormi na casa de um cara que nem conheço. – Penso: ... na casa de um homem... que nem conhece... dormiu... – Minha mulher largô aqui na empresa todas as minha roupa. Eu é que fui traído, e cum uma mulher, e estou sendo tratado pela bandida como se eu fosse o safado. Pode uma coisa dessas?
De novo, mantenho o silêncio.
- Num sei o que fazê. Você que é um hômi instruído, um escritô, será que pode me dar uma luz? – Eu? Penso. E como ele sabe que escrevo? É, artista é observado mesmo sem perceber. Algumas vezes tudo bem, mas outras... O rapaz continua: Passei a noite numa casa estranha, deixei lá todas as minhas roupa. Que garantia terei de encontrá-las no fim do dia? Vim trabalhar contrariado. Olha bem pra mim e me diga o que fazê.
Olho para ele. Tem um rosto masculinamente bonito, mas dentes feios, separados. Que poderei lhe falar? Mas eis que sou salvo pelo gongo: chega um colega dele. Esse eu conheço.
- Chegaqui, Ernani! – Ernani, convocado pelo rapaz, tenta passar direto, porém volta. Não sei se por solidariedade. E o infeliz conta tudo outra vez. Na primeira brecha que encontro, aproveitando a presença de Ernani, me despeço deixando-os. Tenho pão para comprar.



Ofereço como presente de aniversário à
Elisangela Guilherme, Roseny A.M. Souza, Rosangela F. Sulidade.

Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas flores para você e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

Escrito entre 05 e 14 de maio de 2012.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

O ADOLESCENTE E A ADOLESCENTE


Obax anafisa.



- Eu amocê e ocê miama. Pedro tamém tiama. Ieu num gosto dissu.
Falava o adolescente para a adolescente na madrugada da rua Uberaba. Estavam debaixo de um oiti sentados na calçada. Estranhei a presença dos dois e como quem frequenta essa rua é morador ou usuário de craque pensei que eram novos no pedaço. Usuários. Discretamente olhei para a feição dos dois e os achei feios. Enquanto eu me aproximava lentamente por causa do Haicai, que sempre demora a chegar ao fim da rua porque está sempre cheirando fetichemente às árvores, postes, meio-fios, lixos e tudo mais. De lá ao fim do passeio matinal ele é mais rápido, mas até lá... Porém, como eu dizia, à medida que eu me aproximava o rapaz abaixava a voz sem, contudo, ficar insuficiente para meus ouvidos, que nem são dos melhores...
Virei à esquina, esperei o Haicai meio escondido para não ser inconveniente. Tentando não ouvir o que falavam. Mas uma curiosidade quase inexistente me fez ouvir um pouco mais do que diziam. Enquanto isso, Vitório e Decidido corriam para lá e para cá. Farejando tudo que podiam e comendo uma graminha ou outra. Eles estão fazendo muito isso; o que não é bom sinal. O assunto do casalzinho não mudou muito nem ficou mais interessante. Fiquei aliviado, porque seria a desculpa necessária para não cuidar da vida alheia e seguir minha jornada matinal e cuidar de minha vida no correr do dia.



Ofereço como presente de “boas vindas em minha vida” aos novos amigos que fiz sábado durante a Solenidade de Premiação do 11º circuito de literatura CLESI e
lançamento da Coletânea Vinte e Cinco Anos de Poesia:
Eder Rodrigues, Edson R. Silva, France Gripp, Gustavo Espeschit e Luís Kifier.

Em especial ofereço como presente de aniversário à
Luan Luna, Diogo Henrique e Geraldo Oliveira.

Em banto, obax anafisa significam flores e pedras preciosas. O texto é minhas flores para você e faço votos de que encontre nele pedras preciosas.

Escrito entre 30 de abril e 07 de maio de 2012.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

SOB A LUA


De amores um pacto
Pedras sobre terra e areia
Desmembrou-se o cacto.

Feliz aniversário, Luah Kugler!