domingo, 19 de junho de 2016

A QUEM? POR QUÊ?

¿A QUIÉN? ¿POR QUÉ?

Potira itapitanga.


Em agradecimento pela autoria do “poema” Franciso Mário, que Nivaldo Resende e Maria Alice criaram em parceria, ofereço os versos a seguir; retirados dos acentos do Teatro de Arena do Parque Ipanema (Ipatinga MG), cujos verdadeiros autores são anônimos, mas que eu apropriei e chamo “Célula Revolucionária”:
Me dê/lírios
Pois
A poesia brota da ruína
E
Faz de mim sua eterna poesia
E se toda poesia fosse um pedaço de mim para você
Penso e sinto que:
Todo coração é uma célula revolucionária.


Em português

Vinte e uma horas de lua crescente, saindo do Hospital Márcio Cunha, desço seu longo declive e só paro no Cemitério Nossa Senhora da Paz; longe dali. Três corpos foram relatados pela polícia (alguém a chamara). Chegamos; eu, o médico legista e dois enfermeiros. No início do trabalho, um tiro; uma enfermeira cai morta. Com o desespero cada um corre para um lado em busca de abrigo; mas não existe; só há campo aberto e algumas poucas árvores. Mas um silêncio se fez presença e sem saber o que fazer, eu, o médico, o enfermeiro e cinco policiais nos reunimos em um bolinho tentando escapar dos atiradores; agacho-me vergonhosamente no meio (só me preocupa escapar com vida); olho para o alto à minha frente e um atirador se posiciona para matar.
Entre os gritos e os estrondos, estes vão diminuindo e o silêncio se instaurando. E ainda, ficam somente o canto dos pássaros, as flores sob o voo das borboletas e as árvores bailando com o vento.


En español

Nueve horas de una bella noche de luna creciente, al salir del Hospital Nacional Edgardo Rebagliati Martins, recorro su largo camino y solamente me quedé en el Cementerio campo Fe (del Huachipa). Tres cuerpos fueron relatados por la policía; un los hay llamado. Llegamos; el médico legista, dos enfermeros y yo. En inicio del trabajo, un tiro; una enfermera cae muerta. Delante del desespero cada un corre para lados distintos; todos en búsqueda de refugio; pero no hay ningún; solamente hay campo abierto e unos pocos árboles. Sin embargo, un silencio se ha hecho vivo y sin saber qué hacer, los cinco policiales, el enfermero, el médico y yo nos unimos, espaldas con espaldas, intentando escapar de los tiradores; me agacho vergonzosamente en medio del grupo (escapar vivo es mí única preocupación); miro arriba, frente a nosotros, y un tirador se posiciona para matar.
Entre los gritos y estruendos, estos se van disminuyendo y el silencio se instaurando. Y todavía, en el campo santo, se quedan solamente el canto de los pájaros, las flores bajo del vuelo de las mariposas y los árboles y los vientos bailándose.


Ofereço como presente de aniversário a:
Luiza Carreiro, Adriane Lima, Lígia Schmidt, Elizabeth M. Reis, Wagney Machado, Vinícius Siman, Raquel Marquesis, Rinaldo A. Gomes, Júlio Madeira, Camila Giacometti, Tiago Neri, André Q. Silva, Carolina Ferreira, Maria I. Lopes, Feliciana Saldanha, Ana C. Silva e Elecir J. Macedo.

Recomendo a leitura de “¿Qué Representan los Cultos Neopentecostales?”, de Javier Villanueva; “O inferno está cheio”, de Vinícius Siman. Respectivamente:


Escrito alta noite de 19 de setembro de 2015; partindo de um sonho. Trabalhado entre os dias 19 de abril e 19 de junho de 2016.

domingo, 12 de junho de 2016

A FOME

Potira itapitanga.


The spider dead walks to Isabella and kiss her.
And she… Pah!
The rain falls on the body and Isabella open eyes.
The sister of the spider of the Spider Man that makes first walking dead the word.

Ou

La araña muerta camina hasta Isabella y la besa.
Y ella… ¡Pah!
La lluvia cae en el cuerpo e Isabella abre los ojos.
Fue la hermana de la araña del Hombre Araña que hizo la primera muerta viva del mundo.


A noite em Ipatinga já vai avançando. É dito que em outros países já é dia, mas aqui a noite está em seu meio e longe da madrugada que antecede o... dia? Não estou só. Comigo estão Edgar Alla Cat e Don Perro de La Mancha, os amigos de um amigo. O gatinho olha soturnamente para as sombras e o cachorrinho rosna ameaçadoramente para os objetos que as geraram. Mas nada acontece; nem outros movimentos além dos nossos, nem outros sons se somam aos que produzimos.
Nada acontece; ninguém nos aparece. E continuamos andando sem saber para onde; sem saber o que ou quem procurar. Simplesmente andamos, andamos e andamos na noite que, eu sei, tardará a terminar. Quando a madrugada começa, uma casa. Enorme! Quatro andares, quarenta metros de largura, quarenta de comprimento. Enorme, caindo aos pedaços e, creio, vazia.
Don Perro e Edgar Allan param diante de sua porta. Experimento o trinco; está aberta; empurro-a; olhamos para seu interior; escuridão; entramos no momento que sons e movimentos desconhecidos surgiram atrás de nós. Fecho a porta; algo a arranha; dou dois passos para trás; o trinco não se move; na casa nada se move.
No céu lá fora não se via nenhuma luz, nem da lua nova. Através do telhado de vidro do casarão se vê a lua; cheia. Como? Por quê?
Andamos pela casa. Da sala vemos uma aranha estranha em outro cômodo. Ela parece doente. Com seus pequenos olhos observa-nos como se nos apreciando... Com suas patas feridas e podres se mexe na teia branca como seus olhos. Mas assim mesmo, passando o mais longe possível, vamos ao cômodo  um salão de vinte por vinte metros. Olhando para cima se vê os três andares superiores. No canto direito, uma escada. Subimos. Don Perro à frente e Edgar Allan em meu colo. Estamos famintos, mas sem nada para comer. O gato olha para uma porta no último andar: “Miaumore”; o cão fareja a porta e abana o rabo; abro-a e entramos. Um quarto com uma grande cama no centro; grandes janelas na parede à esquerda da porta dão para a escuridão completa; grandes baús na parede à direita; e um grande espelho de frente para a porta mostra um retrato de um busto de mulher acima do umbral; olhos e cabelos negros enfeitam sua pele morena; traja um bonito vestido vermelho; seu sorriso não é alegre; e apesar de parecer estar morta ela é bela.
Com fome deitamos. E dormimos com Edgar olhando a pintura. No meio da madrugada Don Perro se desperta e rosnando nos acorda. Com medo olho para a porta; com coragem me levanto, vou até ela, mas Edgar e Don Perro se posicionam na minha frente; parecem querer me impedir de sair. Abro-a assim mesmo e vou para fora. Os amigos do Benito agora são meus amigos também e me acompanham. Do corredor olhamos para baixo. Pessoas estão deitadas no salão. Três, cinco, dúzia de gente.
- Quem são vocês? O que querem? – Pergunto.
Os deitados se sentam e me olham. De uma porta vem uma mulher gorda; olhos e cabelos negros enfeitam sua pele morena; ela traja um desbotado vestido vermelho; sorri com pouca alegria e muitos, muitos dentes; dentes demais.
- Desça! Você deve estar faminto. Vem comer com a gente!
Desço e meus amigos me seguem relutantes. As pessoas no salão agora estão de pé, sujas, feias, assustadoras. A mulher gorda, sorrindo, faz sinal para que a siga. Entramos na cozinha do casarão. No fogão várias panelas fumegam soltando um cheiro bom de comida.
- Ponha a toalha na mesa do salão. – Ela me diz e fala para duas mulheres magras na cozinha: “depois ponham os pratos e talheres”. Virando-se para mim: Temos hoje carne assada e ensopado de carne. Gosta?
À mesa posta, sentamos todos. Três mulheres, treze homens; doze de nós pegam com a canhota um talher e... Falta o braço direito em cada um; das panelas o cheiro bom de carne. Penso em sair, mas não posso. Estou faminto e como. Algo muda em mim e... E então vejo o gato e o cachorro saindo pela janela em direção à madrugada que se converte outra vez em noite.
E logo eu e os demais homens sairemos.


Ofereço como presente de aniversário a
Claudiane Dias, Pedro Claudino, Raphael Vidigal, Ariene Medina, Maria L.F. Lopes, Marciliane E. Silva, Anderson Oliveira, Bruno Coelho, Juliana Santos, Marcela Gomes, Ton Xavier, Alexandre R. Lecko e Gianmarco F. Cerdan.

Recomendo a leitura de “A máscara da traição e o mordomo que roubou 500 milhões de cruzeiros”, de Javier Billanueva; “Poeta-se”, Xúnior Matraga; respectivamente:

Escrito partindo de um sonho na madrugada de 03 de setembro de 2015. Trabalhado entre os dias 08 de março de 2016 e 12 de junho 2016.

domingo, 5 de junho de 2016

OS BONS POETAS...

LOS BUENOS POETAS…


Potira itapitanga.

Body immovable in heart oppressed
I dance limply to the sound of Vivaldi
Trees dance stiff with the wind
We seek to purge air pollution.


Em português
Se lhe for possível leia ouvindo, de Zeca Baleiro, Você Só Pensa em Grana:

- Amor de minha vida! Eu te amo muito. Muito mesmo. Mas… Quando você vai morrer? Não pense mal de mim, amor. Mas poeta bom é poeta morto e preciso de dinheiro para ter o mundo inteiro. Você me ama? Então, quando vai morrer? – Um momento de silêncio. – E não me diz nada, amor?
- Corpo imóvel em coração opresso / Danço molemente ao som de Vivaldi / Árvores dançam rijas com o vento / Busca de expurgar poluição dos ares.
- O que você disse, amor de minha vida? Não entendi.
- Não falei nada e somente os ninguéns me compreenderiam. Quer mais alguma coisa?
- Sim! Peça uma bebida.
- Marcelo, pode fazer algo gostoso? Duas, na verdade. Um para mim e outro para ela. Pouco doce para mim e muito doce para ela. Coisas como a vida.
O dia no Feirarte está escuro e Zeca Baleiro canta meu coração.
- Sonho de minhas tristes noites, aquela não é uma amiga sua? Vá até ela.
Ela olha aonde seu amor apontou, levanta e se vai. “Obrigado, Deus! Me quero sozinho agora”. Olho as árvores, olho Don Perro de la Mancha e Edgar Allan Cat. E os observo me olhando. Não demora e Don Perro começa a correr atrás dos maus duendes travestidos de pombas... Entretanto, Edgar Allan me diz “Miaumore?”.
- Não sei! Amigo…
- Benito!
“Não! Quero-me sozinho”...
- Benito, que bom te encontrar.
- Bom dia! – Falo olhando o aparelho de som do músico e constato a marca da empresa dona do aparelho.
- Que cê tá fazendo aqui, rapaz?
- Bebendo! E o senhor?
- Senhor? Por que está me chamando de senhor?
- Desculpa! Por que está aqui?
- Eu vim pra ficar bebinho, bebinho.
- Então... Fiquemos os dois.
Debaixo da árvore que nos assombra penso em quem me assombra.
- Vamos sair? Ir embora?
Fora da árvore que nos assombrava não penso mais em quem me assombrava. E os bichinhos nos acompanham.


En español
Siéndote posible lea oyendo, de Zeca Baleiro, Você Só Pensa em Grana¹
¹[traducción libre: Tú Solamente Piensa en Pasta (o Plata)].

Perdóname cualquier error de español. Aún soy mero estudiante.

- ¡Cariño de mi vida! Te quiero, mi amor. ¡Te quiero! Pero… ¿Cuándo has de morirte? No piensas mal de mí, cariño. Es que poeta bueno es poeta muerto y necesito de dinero para tener el mundo entero. ¿Me quieres? Entonces, ¿cuándo has de morirte? – Un rato de silencio. – ¿Y no me dices nada?, cariño.
- Cuerpo inmóvil en corazón opreso / Bailo flacamente al sonido de Vivaldi / Árboles bailan recias con el viento / Búsqueda de expurgar polución en los aires.
- ¿Qué dices?, cariño de mi existencia. No lo he comprendido.
- No hablé nada y solamente los nadie han de comprenderme. ¿Quieres algo más?
- ¡Sí! Pida una bebida.
- Marcelo, ¿me puedes hacer algo exquisito? Dos en verdad. Uno para mí y otro para ella. Poco dulce para mí y mucho dulce para ella. Cosas como la vida.
El día en el Feirarte está oscuro y Zeca Baleiro canta mi corazón.
- Sueño de mis malas noches, ¿aquella no eres una amiga tuya? Ve hasta ella.
Ella mira adonde su amor apuntó, levanta y se va. “¡Dios, gracias! Me quiero solo ahora”. Miro los árboles, miro Don Perro de la Mancha y Edgar Allan Cat. Y los observo mirándome. No tarda y Don Perro empieza a correr tras los malos duendes travestidos de palomas… Sin Embargo, Edgar Allan me dice “¿Miaumore?”.
- ¡No sé! Amigo…
- ¡Benito!
“¡No! Me quiero solo”…
- Benito, que encanto es encontrarte.
- ¡Buen día! – Hablo mirando el aparato de sonido del músico y constato la marca de la empresa dueña del aparato.
- ¿Qué haces acá?, muchacho.
- ¡Bebiendo! ¿Y usted?
- ¡Usted! ¿Por qué me llamas así?
- ¡Perdóname! ¿Qué haces acá?
- He venido para emborracharme.
- Entonces… Quedemos los dos.
Bajo el árbol que nos asombra pienso en quien me asombra.
- ¿Vamos salir? ¿Irnos de aquí?
Lejos del árbol que nos asombraba no pienso más en quien me asombraba. Mientras mis mascotas nos acompañan.


Ofereço como presente de aniversário a
Marcelo S. Marinho, Leandro Silva, Danielle Guerra, Lua Salles, Kaique S. Drummond, Amanda Vita, Moisés Salatiel, Carmen Ligia, Thieres Tayrone, Ubirathan do Brasil, Jeferson Lana, Luciano R.A. Maciel, Auíri Tiago e João C. Pimentel.

Recomendo a leitura de “Estatísticas e trapalhadas, um raio x do golpe”, de Javier de Villanueva; “Uvas Passas” e “Cultura do Estupro: a culpa também é nossa”, ambos de Vinicius Siman;

Potira itapitanga são duas palavras que vem do tupi e significam “flor” e “pedra vermelha” (rubi). É meu desejo que cada leitor encontre em meus textos flores e pedras preciosas.


Escrito originalmente em espanhol na manhã de 30 de agosto de 2015. Trabalhado nas duas línguas entre os dias 05 de fevereiro e 05 de junho de 2016.

domingo, 22 de maio de 2016

QUEM

QUIÉN – WHO


Potira itapitanga.


Em português

A pomba anda suja, solta e solitária entre os pés humanos. Busca o que comer e eu penso em quem. Chega alguém que gosto e que em meu íntimo queria para mim. Meu interior, confesso, quer e nada quer, deixando-me sem rumo.
Conversamos.
Sua presença vale por si. Algo mais não seria ruim, mas não imprescindível.
Conversamos. Bebemos.
A pomba, entre outras pombas, voa suja, solta e só.


En español

La paloma camina sucia, suelta y solitaria entre los pies humanos. Busca cosas para comer y pienso en alguien. Llega uno que me gusta y que en mi íntimo deseaba. Mi interior, confieso, quiere y nada quiere, dejándome sin rumbo.
Charlamos.
Su presencia me encanta. Algo más no sería malo, pero no imprescindible.
Charlamos. Bebemos.
La paloma, entre otras palomas, vuela sucia, suelta y sola.


En English

The dove walk dirty, loose and alone between human feet. It seeks to eat and I think of who. Someone what I like arrives and what in my heart I wanted it to me. My inner, I confess, wants and wants nothing, makes me adrift.
We talked.
Your presence stands on its own. Anything else would not be bad, but not indispensable.
We talked. We drank.
The dove, between other doves, fly dirty, loose and alone.


Ofereço como presente de aniversário:
Alysson Jhony, Adê Araújo, Jaquelaira Prado, Filipe Boanerges, Vinícius Cabral, Eloy Santos, Ladislau Lauson de Lau, Hiago Gomes, Kátia G. Paula, Fernando Campos e Rosa Kanesaki.


Escrito originariamente em português na tarde de 16 de agosto de 2015. Eu bebia drinques produzido pelo Marcelo, no Feirarte. Trabalhado nas três línguas entre os dias 20 de agosto de 2015 e 15 de maio de 2016.

domingo, 15 de maio de 2016

REAGIR URGE

Potira itapitanga.


Observou com agrado como fazia dia tão limpo, tão claro, tão lavado, e como um dia assim traz às pessoas uma grande sensação de paz.
RIBEIRO, 1984.


- O senhor é um anjo. Me alimentou quando eu tava com fome; sem se preocupar que eu era um viciado; sem me olhar de lado, feio, criticando. O senhor é um homem bom!
Porque dizem que eu sou bom? Não posso ser chamado de mostro, creio, mas eu não me sinto bom. Nem sempre faço o bem ou faço bem às pessoas. Amo meu irmão, mas não quero cuidar dele. Mas tenho. O que lhe aconteceria sem mim? Ir para as ruas ou para uma instituição? Não posso abandoná-lo, mas não quero cuidar dele. Nem sempre tenho paciência com ele; esbravejo e chocalho; e depois me sinto mal comigo mesmo. Eu o amo, mas não o quero. Não entendo como posso ser tão contraditório. Se não compreendo, como explicar aos outros meu coração?
- Benito! – Gritam-me da janela. – Está na hora. Vamos!
Vou com Vinicius Siman para a Câmara Municipal para a votação das emendas do plano municipal de educação que visa proibir a discussão sobre gênero nas escolas da cidade. Chegamos, sentamos e lhe falo de um poema que li de Rubem:
A fábrica ruge
A política gozosa geme
Frio, feio, povo, treme
Reagir urge.
Discutimos também sobre o golpe de 2015.
- Há que diz que votamos no Temer então não podemos reclamar...
- Votamos para vice, não para presidente, traição e golpe.
- E tem gente que fala que não foi golpe porque se a “impitimaram” é porque a constituição prevê.
- Prevê que apenas em alguns casos podem ocorrer o “impítima”; e as acusações feitas contra ela foram esclarecidas; então a julgaram por motivos não previstos na Constituição. Por isso é golpe¹; por desacato à Constituição.
Enquanto discutíamos ouvimos duas mulheres conversando.
- Sabe aquela mocinha moreninha com quem tivemos conversando? Pois é. Lhe falei que tenho uma sobrinha lésbica, mas nós a amamos. Ela não vai na casa de minha avó porque não é aceita, mas nós a amamos. A gente perdoa ela por ser lésbica, apesar de ser errado. Mas não é que a moreninha me olhou com uma cara? Então eu lhe disse...
Intrometo na conversa das duas: Morena ou negra?
- Bem... É negra, sabe. Mas é que gosto de dizer morena, sabe. Prefiro falar assim.
- Mas se ela é negra, porque a chama de morena? Morena é a pessoa de cabelos negros, não é pessoa de pele negra. Você é morena; branca de cabelos pretos.
- Sei lá. Desde criança falamos assim, sabe.
- Sei! É porque você acha feio chamar alguém de negro. Para você preto é coisa suja, inferior? Ai, então, por piedade, diz que é morena... Afinal, a infeliz não tem culpa de ter nascido assim, né? Suja, feia, inferior; negra!
- Dizer moreno é eufemismo. – Vinicius intervém e retomo a palavra:
- Mas porque você acha ser errado sua sobrinha ser lésbica?
- Uai! É porque está na Bíblia!...
- Mas a Bíblia diz que você, por ser mulher, é suja, imunda, impura, infecta, indigna, incapacitada.
- Diz não. Diz que a mulher deve ser submissa ao homem.
- Diz isso e tudo o que falei acima.
- Pois eu nunca li isso na Bíblia.
- Sinal que nunca a leu. Passou apenas os olhos. Ou então leu apenas o que lhe mandaram ler; seguindo as palavras dos homens, não a Palavra de Deus.
Enquanto ela me olha enviesado alguém me chama para a votação. O plenário já abriu as portas e entramos todos.


“Ai, sim, pensou ela, o rosto em brasa e o meio das pernas não molhado, mas seco, ardido e estraçalhado, não razão de orgulho e contentamento, mas de vergonha, nojo e desespero. (...) E também não podia mexer-se nem fazer qualquer som, como se o pescoço que o Barão de Pirapuama havia apertado com uma só mão houvesse ficado para sempre hirto e congelado, mal deixando que passasse o ar, ela paralisada, muda, um peixe morto, endurecido. (...) O Barão de Pirapuama observou com agrado como fazia dia tão limpo, tão claro, tão lavado, e como um dia assim traz às pessoas uma grande sensação de paz”.
RIBEIRO, 1984.



Ofereço como presente aos aniversariantes:
Marilene Vitor, Elisangela Guilherme, Joneisson Araujo, Mariana Mamede, Marceli Pereira, Robinson A. Pimenta, Andreia Lima, Rosangela Sulidade, Josmar D. Ferreira, Reinaldo Maciel, Flávia Gusmão, Guebel Stevanovich, Jonas Nogueira, Leo Coessens, Beto de Faria, Tiago Costa, Deivid Paula, Sinésio Bina e Geraldo Valentim.

Recomendo a leitura dos poemas de Pedro Du Bois; e Poema do Homem Temente a Deus, de Mailson Furtado. Respectivamente:

¹ https://www.youtube.com/watch?v=OvnNFQugnDM

RIBEIRO, João Ubaldo. Viva o Povo Brasileiro: romance. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984. Páginas 133 e 145.


Escrito entre os dias 31 de agosto de 2015 e 15 de maio de 2016.

domingo, 8 de maio de 2016

PEDIDOS

PEDIDOS – REQUEST


Potira itapitanga.
Parabéns a todas as mamães do Brasil e do mundo.


Em português

O planeta gira ao redor do sol; os deuses contemplam o orbe e se divertem com as coisas que acontecem aqui. Calamantã, o tranquilo deus dos vegetais, presenteia a vida com os criadores de ar.
Em uma baía, um menino nasceu com o nascimento do dia. A baía pediu ao sol um brilho para ele. O sol disse sim. A baía pediu à lua paciência para ele. A lua disse sim. A baía pediu ao mar força para ele. O mar disse sim. A baía pediu às estrelas beleza para ele. As estrelas, inteligentes, perguntaram por quê. “Para ele não ficar triste”. Então elas disseram sim. A baía pediu à montanha inteligência para ele. A montanha disse sim. Então tudo foi sempre fácil para ele.
E quando o menino cresceu se tornou um sujeito cruel.
Ao mesmo tempo, uma árvore nasceu com a truculenta tempestade que caminhava assustadoramente no bosque. Ela agradeceu ao sol por seu brilho. O sol sorriu. Ela agradeceu à lua por sua serena luminosidade. A lua sorriu. Ela agradeceu ao rio pela água que lhe revigora. O rio sorriu. Ela agradeceu às estrelas por seu encanto. As estrelas, inteligentes, perguntaram “Deseja um pouco de meus encantos?”. “Muito obrigada! Mas admirar seu esplendor é meu prazer”. Então as estrelas sorriram. Ela agradeceu à montanha pela tranquila grandiosidade. A montanha sorriu. Então tudo foi fácil para ela.
Quando cresceu, transformou-se na árvore mãe do bosque.
Muitas mulheres se apaixonaram por ele. Elas provavam sua paixão matando pessoas. Quanto mais elas matavam, mais sua paixão crescia. Doente paixão.
Enquanto isso, escondidas debaixo das burcas, muçulmanas jogam pedras nas mulheres sem véu. E escondidos atrás das Bíblia, cristãos homossexuais jogam palavras duras nos homossexuais livres.
Um dia, o homem ruim planejou destruir a árvore. Entretanto, o fim foi tranquilo. O sol, a lua, o mar, o rio, as estrelas, a montanha e até a baía uniram suas forças, lutaram contra seu ex-protegido e eles transformaram o malvado em um velho.
No fim, em um brilho no céu, Calamantã, o tranquilo deus das árvores, converteu a humilde árvore na Árvore da Verdade, lar da humanidade.


En español

El planeta gira alrededor del sol; los dioses contemplan el orbe y se divierten con las cosas que acontecen acá. Calamantán, el tranquilo dios de los vegetales, regala la vida con los creadores del aire.
Una niña en la bahía nació con el nacimiento del día. La bahía pidió al sol un brillo para ella. El sol dijo sí. La bahía pidió a la luna paciencia para ella. La luna dijo sí. La bahía pidió al mar fuerza para ella. El mar dijo sí. La bahía pidió a las estrellas belleza para ella. Las estrellas, inteligentes, preguntaron por qué. “Para ella no se quedar triste”. Entonces ellas dijeron sí. La bahía pidió a la montaña inteligencia para ella. La montaña dijo sí. Entonces todo fuera siempre fácil para ella.
Y cuando la niña creció se cambió en una mala persona.
Al mismo tiempo un árbol nació con la truculenta tempestad que caminaba escalofriantemente en el bosque. Él agradeció al sol por su brillo. El sol sonrió. Él agradeció a la luna por su serena luminosidad. La luna sonrió. Él agradeció al río por el agua que le ha revigorado. El río sonrió. Él agradeció a las estrellas por su encanto. Las estrellas, inteligentes, preguntaron “¿Deseas un poco de mis encantos?”. “¡Muchas gracias! Pero, mirar su esplendor es mi placer”. Entonces las estrellas sonrieron. Él agradeció a la montaña por tranquila grandiosidad. La montaña sonrió. Entonces, todo fue fácil para él.
Y cuando el árbol creció se convirtió el árbol en padre del bosque.
Muchos hombres estaban apasionados por ella. Ellos probaban su pasión matando personas. Cuanto más ellos mataban, mas su pasión crecía. Enferma pasión.
Mientras tanto, escondidas bajo la burka, musulmanas tiran piedras en las mujeres sin velo. Y escondidos tras la Biblia, cristianos homosexuales tiran palabras duras en los homosexuales libres.
Un día, la mala mujer planeó destruir el árbol. Sin embargo, el fin fue tranquilo. El sol, la luna, mar, río, estrellas, montañas y hasta la bahía unieron sus fuerzas, lucharon contra su ex protegido y ellos cambiaron la mala en vieja.
Al fin y al cabo, en un brillo en el cielo Calamantán, el tranquilo dios de los árboles, convirtió el sencillo árbol en el Árbol de la Verdad, lar de la humanidad.


En English

The planet resolves around the sun; the gods contemplate the globe and they have fun with the things that happen here. Calamantan, the placid god of the vegetation, presents the life with air creators.
A babe in bay was born with birth day. The bay borrowed to sun a shine at him. The sun said yes. The bay borrowed to moon a patience at him. The moon said yes. The bay borrowed to sea force at him. The sea said yes. The bay borrowed to stars good looks at him. The stars, intelligent, asked why. “For him not to be sad”. Then the stars said yes. The bay borrowed to mountain intelligence at him. The mountain said yes. Then everything was easy at him.
When he grew up it became a bad man.
At the same time, a tree was born with a truculence storm trudge in forest. She thanked to sun for its shine. The sun smiled. She thanked to moon for its serenity radiance. The moon smiled. She thanked to river for water her that invigorated. The river smiled. She thanked to stars for its charm. The stars, intelligent, asked “Do you want some of my charm?”. “Thank you, but I’ve happy to see your splendor”. Then the stars smiled. She thanked to mountain your calm grandiosity. The mountain smiled. Then everything was easy at her.
When the tree grew up it became the tree the mom of the forest.
Many women passionate him. They proving your passion killing the persons. How much more they killed, more the passionate for him growing up. Passion sick.
Meanwhile, hidden under the burka, women Mussulmen flings rocks in the women without veil. Hidden behind the Bible, homosexual Christians flings hard words in the free homosexuals.
A day the bad man wanted destroyer the tree. However, the finish was easy. The sun, moon, sea, river, stars, mountain and until the bay it united your force, fight against you ex-protected and they turned the bad man on old man.
Ultimately, in a shine in sky Calamantan, the peaceful god of trees, turned the simple tree in Tree of the True, home of the humanity.


Ofereço aos aniversariantes:
Rejane Balmant, Carlos Aldair, Bel Aquino, Antonia Katumbo Tchitumba, Nancy N. Maestri, Lizandra Mª Melo, Camila Mendonça, Janete Reis e Railson Silva.

Recomendo a leitura de “Das Medusas de Vanuza”, de Vinícius Siman: http://siman.blogs.sapo.pt/das-medusas-de-vanuza-48702


Escrito originalmente em inglês, no fim da manhã de 13 de agosto de 2015. Trabalhado nas três línguas entre os dias 15 de dezembro de 2015 e 08 de maio de 2016.

domingo, 1 de maio de 2016

TERRÍVEL TERROR ATERRADOR

TERRIBLE TERROR ATERRADOR – TERRIBLE TERROR TERRIFYING


o mundo segue o ritual
de se comer e vomitar
o mundo.
               DELARTE, 2016.


Potira itapitanga.


Em português

Joaquim Pigcerdo era um homem que não gostava de tomar banho. Uma manhã sua pele começou a ferver, derreter e desaparecer. Horrível! As células mortas voltaram à vida. Ou dizendo melhor, elas se converteram em mortas-vivas. As células do Joaquim se transformaram em zumbis porque ele não esfregava a pele quando se banhava. As células zumbis estavam famintíssimas e comeram as células vivas até ele desaparecer. E hoje elas andam até nós. Diga-me, já tomou seu banho hoje?...


En español

Joaquín Pigporco era un hombre que no le gustaba ducharse. Una mañana su piel empezó a hervir, derretir y desaparecer. ¡Terrible! Las células muertas se volvieron a la vida. O diciendo mejor, ellas se convirtieron en muertas-vivas. Las células de Joaquín se transformaron en zombis porque él no frotaba la piel cuando se duchaba. Las células zombis estaban demasiado hambrientas y comieron las células vivas hasta él desaparecer. Y hoy ellas caminan hasta nosotros. Dígame, ¿ya se has bañado hoy?...


In English

Joaquin Cerdoporco was a man with don’t like to bathe. A morning your skin begin to effervesce, melt and disappear. Horrible. The dead cells return the life. Or rather saying, they have converted in undead. Joaquin’s cells became in walk dead because he does not rubs the skin to at the shower. The zombies cells were very hungry and they ate the live cells until he disappear. And they move to us. Tell me, you’ve showered today?...


Ofereço como presente aos aniversariantes
Deusdeth J. Amorim, Cristianne de Sá, Fernando Viana, Patrícia P. Cruz, Luis Yuner, Mariana Porto, Carol Galdino, Geane S. Oliva, Tatiane Pereira, Juliano Fernandes, Pedro H.P. Leite, Renatho Portinelly, Vera L. Buzo, Tatiane Melo, Ju Ferraz, Diogo Henrique e Newton Leite.

DELARTE, Willian. O Alien da Linha Azul, poesia brasileira. São Paulo: Edições Incendiárias, 2016.
Potira itapitanga são duas palavras que vem do tupi e significam “flor” e “pedra vermelha” (rubi). É meu desejo que cada leitor encontre em meus textos flores e pedras preciosas.


Escrito originalmente em inglês na tarde de 09 de agosto de 2015 e trabalhado nas três língua entre a noite de 10 de agosto de 2015 e a manhã de 01 de maio de 2016.