sábado, 9 de agosto de 2008

O inusitado superando o necessitado

Rubem Leite

"Não há mais nada que me fascina do que a idiotice do outros com a lua. Acho chato a redonda, acho tedioso por ser branca".
(Clayton Heringer)



Eu sou bastante ecológico. Cuido o melhor que posso do meio ambiente e sempre procuro conscientizar as pessoas sobre a importância de preservarmos o planeta, afinal, que adianta matar a Terra se vamos juntos com ela? Gosto muito de plantas. Gosto muito de animais também. Gosto de gatos, pássaros e principalmente dos cachorros. Só não gosto de gansos, pois não perco uma oportunidade para afogá-los. Bem, de jardins eu gosto, só não me peçam para cuidá-los.

No fim de 2007 uma paineira imensa abriu seus frutos e espalhou seu algodão por todo o extenso gramado. Ficou, imagino, igualzinho neve. O verde da grama foi encoberto pelos incontáveis fios brancos. Foi um espetáculo. Todos os carros pararam na BR para admirar. Virou um inferno. O trânsito não fluía. Um cachorrinho magro, faminto e de olhos tristes como só os cachorros sabem fazer tão bem se aproximou da balbúrdia e quase virou churrasco. Por causa do cachorro palavrões disputavam com os “Que lindo!”, com os “ohs”.

Alguns anos atrás, na praça 1º de Maio, dois cachorros estavam cruzando quando um bando começa a bater neles com um pedaço de pau. Chega uma mulher e começa a bater no bando com sua Bíblia. Lembrei-me de uma monja tibetana que li sobre ela na revista Seleções e na Irmã Dulce. Três grandiosas pequenas mulheres.

Em meados do ano passado, numas nove horas da manhã de um domingo uma jovem, bem jovem, quase menina me pediu R$1,00. Olhei nos bolsos e achei uns 80 ou 90 centavos e entreguei dizendo “É tudo que tenho” e continuei meu caminho para casa da Claudina, uma colega de teatro. Meia hora depois, quando voltei, a menina perguntou-me “não vai querer?” e só aí entendi. Agradeci e dispensei, apesar de bela. “Carne barata”, pensei.

E ontem, o menino pediu um pastel para a mulher. O olhar com nojo o afasta. A dama volta a comer, mas o fim do pastel não foi para seu bucho. Penso feito ela: a lixeira era mais digna.

É isso que somos? Carne? Pior, carne barata? Não, não pode ser. Recuso-me a posicionar como muitos que acham que a menina seja isso. Como muitos que acham que podem maltratar os animais. Que pensam não haver nada demais na fome. NÃO! NÃO! NÃO! NÃO! NÃO! NÃO! Dizem os cristãos que o corpo é o Templo do Espírito Santo. Dizem os budistas que somos Iluminados. Diz a Seicho-No-Ie que somos todos filhos de Deus. Não sou pedra. Eu sou artista. Tenho sensibilidade. Sou gente!

Nenhum comentário: