segunda-feira, 4 de agosto de 2008



São agora 17, digo, 16 minutos para as 05 horas da manhã da primeira segunda-feira de agosto de 2008. Eu acordei sonhando ou pensando nos heróis brasileiros, que são de um desses dois tipos: o ante-herói ou simulacro dos heróis estado-unidenses.

Na verdade acordei com as seguintes palavras na minha cabeça:
Na animação “Beowolf”, que se passa 500 anos depois de Cristo, o principal conselheiro do rei tinha um escravo adolescente que apanhava tanto e por qualquer motivo que me levou à “Brás Cubas”*. Brasinha, o herói (?) da obra, gostava de “brincar” com um escravo, fazendo-o de mula ou cavalo. Ambos cresceram e, não me lembro como, o “eqüino” conseguiu a liberdade e adquiriu por sua vez um escravo que ele usava como montaria. O que me arremessou outra vez à animação. O Cristianismo invadiu a Dinamarca (onde se passa a estória) e o tal conselheiro se tornou persona importante da Igreja e ainda continuava deixando apavorado o escravo, agora um jovem homem todo cheio de cicatrizes. Millôr disse uma vez e eu já repeti suas palavras: “...um homem, digo, um camponês...”. O escravo era um homem? Bem, não importa para nossa conversa. O interessante é que ele agora servia de apoio para seu dono, já velho. Tornaram-se amigos? Rss. Rss. Assim fui levado a pensar numa charge que uma queridíssima conhecida já me descreveu algumas vezes. Ela viu a charge num livro escolar de um de seus filhos e era assim: Numa Cruzada um guerreiro enfia sua espada no coração de um mouro dizendo “Eis a minha caridade cristã”.

Penso numa matéria jornalística que vi alguns anos atrás. O repórter, brasileiro, estava em algum país, não me lembro se islâmico, indiano, asiático ou algum outro. A pobreza era tanta que o repórter ofereceu dinheiro a um pai para comprar um de seus filhos, uma menina. Não por uma noite, mas como escrava. E entre as lágrimas de desespero da adolescente ele a conduziu por algumas centenas de metro e a devolveu ao pai deixando o dinheiro. Alívio. Não para mim. E espero que não para você.
Meus olhos ardem.
Meu nariz escorre.
Sábado eu vi um filhote de cachorro na beira da calçada morrendo. Meu coração doeu.
Já vi uma mulher esfaquear outra, antes das 08 horas da manhã. Meu coração doeu.
Já ouvi uma mulher torturar sua escrava, digo, a filha que adotou. Meu coração doeu.
Já ouvi uma criança ser jogada pela janela e outra ser baleada pela policia. E outra... Meu coração doeu.
Mas meu coração se aliviou com uma mulher puxando para seu barraco um rapaz entregue pela polícia a uns traficantes. Que aconteceu à mulher?

Não quero mais ver nem ouvir. Tenho que fazer algo.
E você, já viu e ouviu o suficiente ou “tá bão”.
Apesar de toda minha insignificância eu faço. Sou voluntário numa ong aids (GASP – http://ppgasp.blogspot.com), escrevo e. Só temo que sejam vãs minhas ações. Mas não deixo que o temor me domine. Eu faço, mesmo com toda a força de um beija-flor.
Peço a Deus que não me deixe só.

São agora 37 minutos de cinco horas da segunda-feira.

Voltei. Estamos no benedictus e olhando pela janela do meu quarto vejo um lampião vermelho dando o seu máximo e vejo também beijos vermelhos e róseos dando o seu máximo. A árvore que tem na porta de minha casa está dando o seu máximo. Não vou ficar gemendo num vale de lágrimas. Eu vou sorrir e agir. Vou descobrir a espécie da árvore que me acompanha. Quero saber quem são meus companheiros. Inté!


* Memórias Póstumas de Brás Cubas - Machado de Assis

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