sábado, 14 de novembro de 2020

NÃO SEI COMO VIVER

  

En un charco de agua en la acera un hombre se lava las manos, se lava la cara, bebe el agua.

 

Tal vez hasta me amen, pero no creo que me quieran y no espero eso. Más, sé que soy visto como embaucado por casi la totalidad de las personas. Sé que muchos que vivieron en mi casa solo desfrutaban de las comodidades.

De todos los que vinieron y de todos los que todavía vendrán me es indiferente los sentimientos de ellos por mí y los recibo por fraternidad; más, es porque son artistas callejeros. Esa es la verdad. Los quiero sin buscar reciprocidad.

Acepto las diferencias de costumbres, ideas y comportamientos. Sin embargo, se son dañosos los tiro a la calle.

El deseo de este tonto es colaborar con las artes callejeras. También con los artistas; pero más que a los artistas apoyo a las artes. Pero nunca me olvido que solo existen artes por causa de los Artistas que la producen; por eso recibo y valorizo los artistas. Mismo que mi cara parezca a de un necio.

 

Un adicto me pide para fritar un paquete de chorizo. Lo frité. El olor era nauseabundo. Le di al tipo y no sé se hice mal o bien. La comida estaba podrida pero el tipo estaba hambriento. ¡Hambriento! No era apetito. No sé qué es hambre, sino el apetito sin esperanza. Qué es peor, ¿dar aquella comida o dejarlo con hambre? No consigo elegir cuál de mis acciones sería mejor: recusar o hacerlo.

 


Dentro do ônibus em Coronel Fabriciano vejo uma poça d’água na calçada. Nela um homem lava as mãos, lava o rosto e bebe sua água.

Durante o caminho até Ipatinga penso e repenso:

Não acredito que me amem e não espero isso. Mais, sei que sou visto como otário por quase a totalidade das pessoas. Sei que muitos que viveram em minha casa apenas se aproveitaram das comodidades. É-me indiferente os sentimentos deles por mim e os recebo por fraternidade e por serem artistas de rua. Gosto deles e não busco reciprocidade. Aceito as diferenças de costumes, ideias e comportamentos. Mas se são perniciosos os retiro de casa.

Este tolo só quer colaborar com as artes de rua. Também com os artistas; mas mais do que aos artistas apoio às artes. Contudo, nunca me esqueço que só existem artes por causa dos Artistas que as produzem; por isso recebo e valorizo os artistas. Mesmo que minha face pareça de um bobo.

Ao colocar a chave no portão de minha casa um usuário de crack me pediu para fritar um pacote de linguiça. Olhei para aquele pacote com uma cor horrorosa, um cheiro... Desinteressante.

Fritei a linguiça.

Meu Deus! O cheiro era insuportável; três vezes tive que ir ao banheiro para tentar vomitar. Vomitar é muito difícil para mim. Como minha garganta é estreita é muito difícil regurgitar. Além de ser uma agonia insuportável porque não consigo respirar.

A linguiça foi frita.

Levei para a pessoa. Não consigo atinar se fiz mal ou se fiz bem. Porque aquela comida estava podre, mas uma pessoa que está faminta... Faminta! Não é apetite... Nunca passei fome; não sei o que é fome.

Já fiz jejum! Mas jejum... em poucas horas se encerra. E mesmo se quiser pode-se burlá-la. Mas fome é apetite sem esperança.

Seria pior dá-lhe aquela comida que não podia estar boa em hipótese alguma ou deixa-lo com fome? Não consigo decidir o que teria sido pior. Se minha ação teria sido melhor recusando ou se foi pior fazendo.

Não consegui almoçar.

Soaram palmas no momento que peguei “Onde Aqui Rebentamos”, de Willian Delarte¹. Com o livro na destra fui ver quem me chamara. Sorrindo abri a porta e na sala-cozinha conversamos bebendo cerveja. Após as amenidades ele me diz:

- Lembro de lhe falar um dia de minha admiração pela sua escrita e sua produtividade. Confesso que não dou conta de acompanhar todo seu processo de escrita. Algumas vezes por ser muito efusiva e outras pelas muitas coisas que estou lendo e fazendo. Mas sempre que posso leio um pouco do que você produz.

Não digo nada além de levantar meu copo como num brinde e beber um gole da cerveja. E ele retoma a palavra:

- Admiro sua hospitalidade e o cuidado que tem com tantos... Praticamente estranhos em sua casa. Admiro sua generosidade. Admiro sua escrita.

- Agrada-me muito, muito mesmo, que goste do que escrevo. Quanto às pessoas que moram ou hospedam aqui não vejo generosidade alguma. Estou sendo sincero; sem nenhuma humildade, seja ela verdadeira ou falsa. Eles estão aqui porque é a forma que tenho de apoiar a arte. Para mim a arte é mais importante que o artista. Mas só existe arte porque tem artista. Então, recebendo-os estou apoiando as artes. É isso e não uma generosidade. É uma forma de colaborar com a melhoria do mundo. Não é generosidade, é divulgação da arte, ampliação da cultura. A arte e a educação são essenciais para mim. Acho que por isso trabalho com essas duas áreas: professor e artista, pois ambas são fragmentos da cultura.

Paro um pouco de falar, ambos bebemos um gole e retomo a palavra.

Minha arte é através da literatura; que apesar de serem consideradas diferentes... Dizem: “Arte é uma coisa e literatura é outra”. Mas a base das duas é o poiesis; aquilo que modifica a alma, que nos mexe. Então não vejo generosidade alguma; vejo apenas atuação! Talvez fraterna e solidária, mas não bondade e menos ainda caridade. Detesto esta palavra: caridade. Todos que dela se valem nada mais sentem que vaidade.

Minha boca silencia um pouco para nossos olhares dialogarem. Cantarolo um trecho de Sonífera Ilha “descansa meus olhos, sossega minha boca.²” e continuo:

- Vejo apenas atuação para que a arte avance e as pessoas prosperem na educação e com a literatura. É isso que trabalho.

Levanto-me da cadeira e vou a uma de minhas estantes. Pego o livro Memórias do Cárcere, busco um trecho sublinhado e o leio quando encontro:

“... emburrando as crianças. O emburramento era necessário. Sem ele, como se poderiam aguentar políticos safados e generais analfabetos”.

- Por isso escrevo e leciono. Para que não precisemos aguentar políticos safados. Amanhã será eleição municipal. E o que o povo ipatinguense escolherá? A esquerda em uma dessas pessoas: Robinson Ayres pelo número 50, Diego Arthur, pelo 21 ou João Magno, pelo 13; um desses para prefeito? Maura Gerbi, Lene Teixeira e Daniel Cristiano para vereadores?

Pego um pequeno cacho de uvas na mesinha onde estamos e entre uma e outra digo:

- Ou escolherá a direita em candidatos dos partidos apoiadores do Boçalnato, que apoiaram o fim dos direitos trabalhistas, a privatização das águas e outras mazelas: Podemos (19), Patriotas (51), PSL (17), PSDB (45), PTB (14), PSC (20), Cidadania (23), MDB (15), DEM (25), PL (22), PSD (55), Novo (30) ou PP (11)?

- A esquerda é povo. A direita é antipovo. E quem diz isso não sou eu; é a história, os fatos.

Cada um pegou um pedaço de queijo para fazer algo enquanto pensa.

- Benito, quando falo em hospitalidade e cuidado com os artistas e com as artes isso você tem. Abrir sua casa e comprometer sua liberdade, sua intimidade. Tenho uma certa hospitalidade, mas prezo demais meu espaço. Quando falo de generosidade digo cuidar do mundo, das pessoas, da arte. Você diz que não é humilde, mas tem a essência dos poetas e dos místicos. Coisas que, enquanto psicólogo, sempre estudei.

O portão se abre e pela escada sobem os outros moradores calando nossos assuntos. A conversa agora é sobre o dia que tiveram.

 

 

Ofereço como presente a aniversariante Reny Aparecida,

 

Recomendo a leitura de:

“Homenzinho”, de Glaussim:

https://www.recantodasletras.com.br/poesias-do-social/7109500?fbclid=IwAR3BHHu8Pz5g8cC2ABE_ST4Rb_Ie_TYYUBUBVjPDBIjPBBx0VjqCiYnSN10

 

¹ Mais informações sobre como adquirir o livro: https://www.facebook.com/wdelarte

² Titãs: https://www.youtube.com/watch?v=T4zkb05tkms

 

Escrito entre doze e quinze de novembro de 2020.

domingo, 8 de novembro de 2020

MARCO DO SANEAMENTO

 A eleição "amelricana"

É a sensação contemporânea.


- Cidadão tem a ver com cidade -


Nossas eleições municipais

Não têm espaço nos jornais.



O final do ano de 2035 tem o céu particularmente cinza. Não tanto pelas nuvens do período de calor, mas principalmente pela poluição da Usiminas,  da Cenibra e da Arcilor Mittal.

O Leste mineiro não é a exceção à regra nacional, mas é excelente marcador da política instaurada em 2016, agravada entre 2019 e 2022 e continuada - sempre com o avanço das regressões - desde então.


Três noites sem dormir.

Quinta-feira o marido foi manifestar em frente a prefeitura Municipal de Ipatinga.

Poucos voltaram para casa. E o marido dela é um dos desaparecidos.

Nos telejornais e "feiqueneus":

"Baderneiros terroristas...".


Duas noites insones. No sábado Carolina Maria de Jesus levantou cedo como sempre. Foi ao balde aliviar-se e, sem poder lavar-se, fez o café ralo e acordou os filhos.

- Tem pão, mãe?

Perguntou a caçula.

- Não! Quatro pães custa dois mil dólares.

Em 2025 a moeda nacional passou a chamar-se dolar brasileiro. E na resposta à filha a umidade dos olhos enganou sem disfarçar a amargura dos olhos.

- Tomem o café pra gente estudar.

Até a adolescência de Carolina a educação podia ser pública. Ao contrário da mãe, os filhos não têm acesso à escola. Isso é só pra quem pode pagar e menos da metade da população atinge o patamar mínimo para luxos como educação, médicos, remédios, água limpa e saneamento.

E um dos fatores essenciais para chegar a esse nível está no nível de melanina.


Ah! Quantes acreditaram no discurso:

"Só saúde e educação não podem ser privatizados. Mas podem ser subsidiados. Prestam o serviço e recebem do governo, que as garantirá ao povo.".

Disseram Boçalnato, Zemagogo e outros governadores, deputados; e repetiram muites otáries.


Zemagogo conseguiu privatizar a CEMIG - agora Customig - na noite de 31 de dezembro de 2020.

O Cruzeiro indo pra série C era algo muito presente na cabeça de Atleticanes, cruzeirenses, nos demais torcedores mineires e fãs do futebol no Brasil inteiro.

No Brasil as eleições municipais de 2020 foram eclipsadas pela eleição para presidente nos Estados Unidos. O queridinho do Boçalnato, os Republicanos (extrema direita), ou os Democratas (uma esquerda de direita).

Ganhou o Democrata, mas como o argentino Daniel Paz mostrou em uma de suas charges, a diferença entre esses dois partidos é:

Los dos te bombardean igual, pero los demócratas después se sienten un poco mal.

Em Ipatinga a esquerda dispunha de Robinson Ayres (PSOL), Diego Arthur (PCdoB) e João Magno (PT) como candidatos a prefeito. E para Vereadores, Maura Gerbi, Lene Teixeira, Gabriel Miguel e Daniel Cristiano.

E no município deste cronto, quem foi eleito? Algum da esquerda ou algum da direita?

Se foi a esquerda teve que enfrentar o Poder Econômico internacional.

Se foi a direita entregou a cidade a esse mesmo Poder Econômico. Mas, verdade seja dita, não entregou de graça. Ganhou bastante pra isso. Ganhou muito dos centavos destinados ao "South American trash".

A COPASA fora privatizada em novembro de 2021. Agora seu nome é Copossepaga. Para isso, Zemagogo se aproveitou da preocupação do povo em ver o Atlético ir da primeira posição para a terceira na reta final do Campeonato Brasileiro.

Naquela época e hoje, o povo com os olhos no pão das festas e no circo do esporte não viu nem vê as coisas acontecerem.


Carolina é exceção. Todes preocupados em conseguir comida e água não se preocupam com a falta de escolas e assim que fazem cinco anos põem os filhes para trabalhar de sete as dezessete; não mais jovens nem por mais tempo porque é só o que permite a legislação brasileira.

Ela só os deixa na parte da tarde.

"Vocês têm que saber ler, escrever e calcular para saírem daqui. Literatura e História permitem pensar e ver. Conhecimento possibilita agir e não apenas reagir.".

Esse é o resumo do longo discurso que repete sempre. Um detalhe é o amargo que sente quando fala 'literatura' porque a literatura brasileira deixou de ser impressa e publicada antes de seu casamento. Só se permite o que se produz nos Estados Unidos. E História, assim como tudo o mais que ensina, é o que aprendeu na escola e tem nos cadernos que, felizmente, guardou.

A propósito, Carolina se casou não por vontade, mas para proteger-se dos estupros culposos, como reza a Nova Constituição Brasileira. Onde o homem é a vítima e a mulher é a criminosa.

Mas ela teve sorte. O marido não era violento e, para gosto dela, era ativista. E no momento principal deste cronto o medo e o orgulho pelo marido estão presente.

Por regra do casal ambes se alternam para segurança dos filhos. Quando é a vez dele ir a protesto ela fica.


- Mãe!

Disse o mais velho.

- O novo patrão me falou hoje que se a partir da semana que vem eu não for de manhã também não precisarei ir a tarde...

Quando na noite de sexta-feira Carolina foi dormir ela não se deitara só. Sem o marido na cama teve - como péssimos amantes - o desaparecimento do marido mais essa declaração.


E agora? Carolina sabe que o cansaço do primogênito será tanto que o garoto não aguentará estudar.

E há o poderoso discurso recorrente: estudar é só para gente.

Algo que o imaginário popular fixou foi "pobre não é gente; é bicho. E para comer que ainda se tem dente.".

Ela sente que o filho já se entregara a essa corrente.

E o filho do meio, doente?

E como conseguir um pouco mais de água para o luxo de três banhos por semana?


Comida, água limpa e remédio no barraco de zinco é o que precisam.


Agora é com você, que está a ler.

Estando na posição de Carolina Maria de Jesus, seu filho estudaria ou trabalharia? E por quê?



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Rubem Leite

Manuscrito na manhã de 06/11/20 e trabalhado até o meio da manhã de 08/11/20.

Imagem:

https://sindservsbc.org.br/noticias/voz-do-trabalhador/quando-tudo-for-privado-seremos-privados-de-tudo/

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Ofereço o cronto como presente aos aniversariantes:

Martha Gonzáles, Diego Arthur, Paola S. Charquero, Onofre J. Lima, Mirta Meza e Arline Salazar.


Recomendo a leitura de:

"Aviso no Muro", de Glaussim:

https://www.recantodasletras.com.br/contos/7105637

Do livro de antologia "Versos Acidos do Vale do Aço", pre venda com Roberta Rocha:

+553189865821

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Agradeço ao boçalnariano que me ofereceu o mote ao questionar-me "por que a esquerda votou contra o Marco do Saneamento?". Algo que eu ignorava completamente o que seria. E que as mídias não nos comunicaram. Falando quase exclusivamente da eleição dos gringos...

Agradeço muito mais a Girvany de Moraes e Carlos Glauss. Estes dois foram essenciais para minha compressão do horror que é a Lei 14.026/2020 que visa privatizar a água e o saneamento no Brasil.

Essa fatídica lei (14.026) foi aprovada pelo atual presidente do Brasil.

A privatização da água aconteceu na Colômbia e em alguns países europeus. Em todos esses lugares funciona a regra "Tem dinheiro tem direito!". E em todos esses países a água não está sendo devidamente tratada e nem o saneamento básico está acontecendo. Exceto para os com muito, mas muito dinheiro.

No Amapá a indústria fornecedora de energia elétrica é parcialmente privada. Quase metade pertence a uma empresa europeia.

O estado ficou quase em sua totalidade sem energia, água e combustível por 72 horas. O governo do Amapá está buscando estatatizá-la para resolver o problema. Veja:

https://monitormercantil.com.br/amapa-estatal-eletrobras-consertara-apagao-de-empresa-privatizada

https://www.sinprodf.org.br/empresa-privada-que-administra-energia-eletrica-deixa-amapa-no-apagao/

https://www.google.com.br/amp/s/epbr.com.br/eletrobras-assume-suprimento-emergencial-de-energia-no-amapa/

sábado, 31 de outubro de 2020

DIAS DE SOL, DIAS DE CHUVA

Em algum dia do primeiro semestre de 2019 os quatro membros da família se reuniram para uma discussão séria. Era uma manhã de sol.


Sou Reinaldo, viúvo pela segunda vez e pai do restante na reunião.

Pai biológico do Ricardo, aposentado por invalidez. Esquizofrenia moderada.

A noite eu preparava os medicamentos de nosso filho.

Minha primeira esposa se chamava Custódia. Embriagada, morreu num acidente.


Algumas noites eu queria sair para festejar; e podia?


A segunda esposa, Edna, já falecida no dia dessa reunião, teve um filho do primeiro casamento. E o garoto se chama Ignis.

A mãe se separara do primeiro marido quando se cansou de apanhar.

"Era um dia de sol." Costumava dizer.


Três anos após a separação, Edna e eu nos conhecemos e em pouco tempo passamos a morar no mesmo apartamento e a gente se casou no cartório de Registro Civil, na Rua Belo Horizonte, Centro de Ipatinga. Foi uma manhã de chuva.

Nós quatro vivemos juntos por três anos.


Nesses três anos o garoto me tratava como intruso e protetor da mãe; sempre com medo dela apanhar de novo.

Irritante, mas nunca realmente desaforado, causava coceiras em minhas mãos... Mas nunca chegamos ao ponto...

Com a morte por câncer de Edna, Ignis tornou-se oficialmente filho.


Algumas noites eu queria sair para festejar, mas...


Após um dia de sol, depois da morte de Edna, nosso relacionamento melhorou.

Parte pelo fim do medo de ver a mãe machucada. Parte por eu ter ficado com ele, mesmo tendo já dezesseis anos.


Com dezoito anos Ignis conheceu Érica e foi assim que voltamos a ser uma família de quatro membros.

Enquanto isso perdi o emprego.

Passamos um ano vivendo da pensão do Ricardo e de meus bicos.

De noite, chorei algumas vezes no meu quarto. De manhã era difícil ter força para levantar, mas ajuntava coragem.


Na reunião que iniciamos esse meu desabafo declarei, mortificado de vergonha, minha incapacidade de mantê-los e necessitava ajuda.

"A gente vai embora para facilitar para o senhor." Disse-me Ignis.


Mas não era o que eu queria ouvir.

Agora que acha que não precisa mais de mim, abandona-me?

Mas me calei.

Dores fortes guardo para mim. Só as pequenas deixo explodir.


Contudo, não foram embora. Não que eu saiba o porquê.

Érica falou algo?

Meu rosto mostrou o que calei?

Ele pensou melhor?


A noite preparei o medicamento do Ricardo.


Três meses depois, numa tarde nublada, arranjei emprego e tudo melhorou.


Algumas noites eu queria sair para festejar.


Érica tinha saído de casa para morar conosco porque apanhava muito da mãe, fazia sozinha todo o serviço da casa e com alguns meses de namoro descobrira que gostava do Ignis. Isso num dia de sol.


Em uma manhã chuvosa de sábado, ao levantar da cama, caí sobre ela respirando nada bem e com o coração acelerado.

Onze da manhã, ao não me verem preparando a comida, foram ver o que estava acontecendo.

Chamaram o SAMU.

No hospital constataram que era um ataque de pânico.

Um psiquiatra diagnosticou que eu sofria de depressão e ansiedade.

O bom foi que com o uso de remédios pude trabalhar sem precisar notificar a empresa.

Não havia mais direitos trabalhistas nesse novo governo.


Eu gostaria de chorar, mas depressão não é tristeza. Contudo, estava sempre sem ânimo e com respiração afoita.

O que disfarçava no trabalho mostrava em casa.

Nós quatro moramos juntos por dois anos após o diagnóstico.

Toda noite eu dava os remédios para Ricardo.


Numa manhã de chuva Ignis me pediu uma bolsa de viagem.

Nessa tarde o sol estava forte; um verdadeiro mormaço. E Ignis me falou que estava indo embora.

Fiquei calado sem saber o que dizer ou perguntar. Só com o coração doendo.

A sete da noite ouvia os trovões enquanto Érica me dizia:

"Mamãe está doente e precisa de mim..."

A velha estava com depressão...

Nesse instante chegou uma caminhonete para levar as coisas deles.


Eu queria chorar, mas raras são as lágrimas para pessoas no meu estado.

Mas o coração não; a dor ultrapassou a depressão.

Sem respirar preparei os medicamentos de Ricardo.

Deitei e dormir sem respirar.

Todavia teria que cuidar do Ricardo. Então no dia seguinte acordei e me levantei de novo.



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Rubem Leite

31 de outubro de 2020.

domingo, 25 de outubro de 2020

O SER HUMANO É BARRO


 

É dito 'a liberdade e os direitos de um terminam quando começam o de outros.



Tudo tem limite; até a liberdade de escolha. Mesmo que algum masoquista queira fazer-se escravo de algum sádico isso lhe é negado. E ambos serão levados a tratamento psiquiátrico.


Um caso diferente é quando alguém é enganado e é feito de escravo por algum 'esperto'.

Uma mulher de baixa instrução ignorava seus direitos e foi mantida como escrava por uma série de famílias de pessoas de bem; famílias muito cristãs e de muitas posses.

Essa situação começou no século XX e só foi descoberta no meio da primeira quinzena do século XXI ( https://m.leiaja.com/noticias/2020/06/26/domestica-de-61-anos-mantida-como-escrava-e-resgatada/ ).


A agropecuarista Família Quintão; também composta por políticos em Ipatinga e Belo Horizonte, tem incontáveis denúncias de escravidão. Isso nos séculos XX e XXI. Além de dezenas de processos em outras áreas ( https://www.jusbrasil.com.br/processos/nome/28016662/sebastiao-de-barros-quintao ).

E seu principal apoiador é Naerdielo Rocha, candidato a prefeito 2021-2024; tendo como vice Cassinha. Esta, enquanto vereadora, sempre se demonstrou contra o povo e favorável aos poderosos.


Uma família oriental mudou-se para USA e levou consigo uma escrava anunciada como emoregada. Mas na prática não recebia salário, era castigada física e moralmente.

As crianças, filhas dos senhores, cresceram e quando os pais morreram libertaram a mulher. Mas isso, reforço, só quando os pais não mais poderiam ser punidos por seus crimes.

A mulher, por sua vez, já não sabia mais como ser livre. E ao lhe darem dinheiro (salário) ela olhava o maço de dinheiro e o colocava numa gaveta; sem saber o que fazer com ele. Sua mente já estava modelada.


Ainda em USA, um presidiário com bem mais de sessenta anos, que passara quarenta anos ou mais na prisão ficou apavorado com a promessa de liberdade condicional.

O que faria lá fora? Como fazer amizades novas com pessoas que não são como ele? No presídio ele tinha ocupação laboral todas as manhãs, mas e lá fora?

Para não ser solto, atacou colegas e carcereiros. Sua mente já estava modelada.


Flordelis responde em liberdade, com apenas uma tornozeleira, por seus crimes de assassinato, pedofilia e outros.

E ainda vai à igreja pregar e mostra para o público o descaso por seus crimes e pela tornozeleira 

Como há quem vai ouvi-la falar de Deus?

Vai quem já tem a mente modelada.


E você?


E eu, no que estou moldado?

Não sabia fazer amigos quando criança e adolescente. Quando jovem comecei, apenas comecei a acostumar-me. Adulto parei de procurá-los e encontrei. Talvez. Mas tendo-os não, gosto Mais da solidão.

Solidão é o que não tenho.

Como tenho amigos minha casa está sempre cheia e gosto disso.

Mas ficar sozinho no meu quarto é meu lazer. Ou tendo a companhia de meus cachorros, livros, doces e frutas é um prazer bem maior.


E você, em que foi modelado? Tem coragem de observar-se?

"Cristo, não me permita de Ti separar-me" (Anima Christie). Esse anseio de estar com Ele não é por fé. Esse anseio é pelo medo da liberdade. Esse anseio é pela prisão, pois já se deixaram moldar-se.


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Rubem Leite


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Ofereço como presente aos aniversariantes:

Matheus Bragança, Eremita G. Fernandes, Nathan Graves, Nena de Castro e Jane K.S. Gonçalves.

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Manuscrito entre 01:35 e 02:04 da madrugada de 20/9/20.

Trabalhando na manhã de 24 de outubro de 2020.

domingo, 18 de outubro de 2020

AGORA É COM VOCÊ

 


 

Dia 15 de outubro foi o Dia do Professor.

 

Quem puder, escute a música O Sol, cantada por Jota Quest:

https://www.youtube.com/watch?v=hoNA77ICrr4

 

Outra vez o dia surge. Levanta-se e prepara o café.

- Bom dia, senhor Benito! Favor comparecer a escola amanhã, dia 04 de junho, para uma conversa com o diretor e a equipe pedagógica no horário de oito ao meio dia. Favor confirmar o horário da vinda.

Assim estava na mensagem de watzap e o professor respondeu: “oito horas está bom para mim”.

No dia seguinte, as seis da manhã, sai para a reunião. Na rua onde mora Benito é conhecido pelos usuários de crack como Professor.

- Quero falar com o senhor, Professor. – Diz uma mulher segurando uma garrafinha com cachaça e um “dragão” apagado.

Ai. Não quero falar com ninguém. – Pensa, mas ouve.

- Aquele ali é meu filho.

Aponta para um rapaz a uns cinquenta metros atrás de nós.

- Ele é aquilo ali.

Aponta para nossa frente e só vejo asfalto, calçada, uma árvore, uma casa. Nada fora do normal.

- O senhor tem que salvar ele.

Benito não tem a mínima ideia do que ela fala nem do que espera dele. Abraça a mulher. Abraça forte, apesar do perigo do covid. Ela beija sua testa. Professor não pensa mais no risco de infecção e intensifica o abraço. E se vai.

Às oito horas estavam o professor, o diretor, mas não a equipe pedagógica da escola. No lugar estavam duas representantes da SME (Secretaria Municipal de Educação).

- O senhor está sendo acusado de chamar seus alunos de ignorantes; acusado de dizer que o governo não quer o real aprendizado dos alunos; acusado de tornar público o que acontece.

Acusado!?!

Benito responde as acusações. O diretor replica, as representantes da SME se mostram neutras. Benito responde às réplicas. O diretor insiste. Benito desanimado aponta desmandos da direção. No final tudo se resolve e saem. O frio dos corações e dos brilhos dos olhos se refletem nos sorrisos calorosos...

Em casa, ao ler A Poda Necessária, escrito por Rubem Leite em outubro de 2019, Benito rememora 2018:

Era uma vez um jardineiro que viu uma figueira inútil e com quase trinta anos sem nada produzir, apesar de consumir todos os nutrientes do solo.

Esta figueira, além de inútil e roubalheira, era fofoqueira e encrenqueira. Frutificava asneiras a torto por ser de direita.

Então o jardineiro pensou “isso tem que mudar” e cortou a roseira de flores vermelhas.

Entardeceu, anoiteceu e amanheceu.

No dia seguinte uma estudante do nono ano, portanto não sua aluna, pergunta:

- Oi! O meu professor de português fala muito no quanto o senhor lê e por isso pedi a minha prima, que é sua aluna, o seu número de watzap. É que ganhei um livro chamado Vidas Secas, de um tal de Graciliano Ramos. O livro é bom? É que não estou acostumada a ler...

- Eu li esse livro pela primeira vez quando tinha a sua idade, acho; e não gostei. Eu era de direita e não queria algo que me mostrasse a realidade. Quase trinta anos depois o li pela segunda vez. Eu já era de esquerda e não mais temia os fatos, a verdade. Vidas Secas se mostrou um dos melhores livros que já li.

- Então... Será que vou gostar?

- Não! Se tem medo da realidade e prefere os mitos das igrejas e as regras da direita; apesar de ser pobre.

- Não sou pobre. Sou classe média.

- Filha! Seus pais, se ficarem um ano sem trabalhar, conseguirão manter uma vida confortável?

Ela se cala mordendo os lábios e de olhar voltado para dentro de si.

- Então seus pais, assim como eu, só têm uma coisa para vender: o trabalho. Isso faz com que seja mais fácil diminuir o que temos do que aumentá-lo. Classe média é pobre com um pouco, bem pouco, mais de recursos.

Observa os olhos da garota para continuar:

- Mas, e isso é importante, gostará muitíssimo de Vida Secas se tiver coragem de abrir os olhos para ver o que olha. Você é covarde ou corajosa?

- Professor... Não sei o que pensar... O que sou?

- Converse com o senhor Matheus, seu professor de Português, e com o senhor Emílio, seu professor de História. Eles poderão dizer melhor o que falarei agora. Sem me referir a literatura, mas ao conhecimento científico, digo que a História se modifica de acordo com quem a conta e de como é contada. Vi um filme chamado “Drácula: a história nunca contada”, dirigida por Gary Shore. No filme o príncipe da Transilvânia aparece praticamente como bom; que se sacrificou transformando-se em vampiro para salvar a família e o povo. Por que digo isso? Para que você se pergunte como foi o período colonial e imperial? Quem conta essa história? Como eram os povos nativos? Quem conta essa história? Como era contato, o relacionamento entre nativos, portugueses e africanos? Como essa história é contada? Como foi a transposição para República? Como é contada? Como foi a ditadura? Como foi o período “democrático”? Como é o atual governo? Quem conta? Como são contadas?

Uma pausa e continua:

- Ao ler qualquer livro pergunte quem está contando; foi quem venceu ou foi o outro lado? É preciso ousadia para isso. Você é covarde ou é corajosa? Decida!

E encerra a conversa. Agora é com ela.

Sai de casa e...

- Professor! Meu filho é aquilo ali. Mostra algo invisível.

Benito pensa “O ser humano é autodestrutível. Não exatamente um suicida, mas come o que não deve, bebe, fuma pedra, relaciona-se com as piores escolhas.”. Mas o que faz é outra vez abraçar a mulher. Em silêncio se afasta e entra em casa. Lá escreve: “Ah, se houvesse o soma  /  Não mais sentiria dor  /  Não seria artista ou professor  /  Só uma pedra, um ser em coma”.

 


Olha pela janela e não tendo nada relevante para ver pega um livro. Lá vê pela primeira vez o nome Antonieta de Barros. A ser eleita a um cargo político no Brasil, foi a terceira mulher e a primeira negra. Entre muitas coisas relevantes, criou o Dia do Professor. O que lhe faz pensar nas palavras da professora Janete Reis, que lhe indicou essa leitura: “Ignorarmos o nome dela e todos os seus feitos é uma das muitas injustiças que precisam de correções”.

Marca a página onde parou e larga o livro na cama. Olha pela janela pensando nas eleições municipais daqui a três semanas. O que Ipatinga escolherá? Retroceder conservando o atual prefeito? Ficar como está ao mudar-se para outro de direita? Tentar avançar um passo escolhendo o pt? Esforçar-se para dúzias de passos votando no PCB ou PSOL?

O povo vê o problema na figueira, mas corta a roseira; reconhece os inúteis como patrimônios a serem preservados.

Tão difícil saber o que o povo fará; mas há muitos empenhando em abrir-lhe os olhos. Por isso há livros como Versos Ácidos do Vale do Aço.

 

 

Ofereço como presente aos aniversariantes:

Leila Cunha, Emilio Fleitas, Sarah Silveira, Lucas Portuense e Luiz C. Santana.

 

Recomendo a leitura de:

“O Preço de uma Denúncia” e “Pau-Soja”, ambos de Glaussim:

https://www.recantodasletras.com.br/contosdeficcaocientifica/7086225?fbclid=IwAR05u4W_FmJc_qWmkD5ZJjzjznz2Qm5-JtDND2cOWu49XnMVBKPMSREnJGc

https://www.youtube.com/watch?v=hoNA77ICrr4

 


Rubem Leite
é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO.

É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes.

É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”.

Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”.

Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).

Imagens:

Versos Ácidos do Vale do Aço: Roberta Rocha.

Pela janela: foto do autor.

Foto do autor pelo autor.

 

Escrito entre abril e outubro de 2020.

domingo, 11 de outubro de 2020

CABEÇA OCA OFICINA DAS IDEIAS DOS OUTROS

  

12 de outubro:

Dia de Nossa Senhora Aparecida;

Dia da Criança no Brasil.

 

“Solano López, acuado e sem meios de se defender, usou como escudo mulheres, crianças, velhos e adolescentes, que foram trucidados sem piedade pelas tropas brasileiras. Os números são imprecisos, mas alguns historiadores falam mais de 100 mil mortos, entre 10% e 15% da população paraguaia, de 1 milhão de habitantes nessa época”¹.

 


- Dieciséis de agosto es el Día de los Niños en Paraguay. Esa fecha es pelo genocidio de chicos que los soldados brasileños allá hicieron en el período Imperio. Eso porque en el siglo XIX Paraguay era el único país Suramericano a desarrollarse tecnológicamente. Para Inglaterra eso era malo y ordenó a Argentina, Brasil y Uruguay a pelear con Paraguay. Y por eso Paraguay jamás volvió a quedarse de pie. Y el Conde D’Eu, yerno de Don Pedro II, cometió inúmeras barbaries.

- ¿Quién es el culpable por poner críos en la guerra? ¿Y por qué Solano puso civiles en la línea de defensa? ¿Por qué Solano huyó mientras debería entregarse? El culpable es él y no los soldados brasileños.

- Piensa: Es tan simplista y pueril decir esas cosas… Es tanto odio al otro… Pero habla: ¿Usted votó en quién para presidente?

- Bozalnato.

- ¡Sabía! – Piensa pero no contesta.

- ¿Por qué?

- Porque me gustaría que el amor y respeto fuesen comunes; que no justificasen genocidio culpando el gobierno adversario.

- ¡Es un tonto, un imbécil!

- Lo sé. Lo sé. Solamente tontos e imbéciles son artistas o profesores. Incentivo a mis alumnos a estudiaren y no buscaren respuestas en otros ni de otros. No hablaré más. Sin embargo, se conoces algo que justifique asesinatos de pibes quien sabe mi corazón no se cambie a piedra. Pero por ahora todavía es de carne y sangra.

 


- Dezesseis de agosto é o Dia da Criança no Paraguai. – Diz Benito. – Essa data é pelo infanto-genocídio que soldados brasileiros lá fizeram no período Império, em 1870.

- Por que isso aconteceu? – Pergunta-me H.M.

- No século XIX o Paraguai era o único país Sul Americano a desenvolver-se tecnologicamente. Inglaterra não gostou da concorrência e mandou Argentina, Brasil e Uruguai entrar em guerra com Paraguai. Infelizmente por causa da guerra Paraguai nunca mais se reergueu. Nessa guerra, sob o comando de Conde d'Eu, o Brasil cometeu inúmeras barbáries.

- Esperavam que os vinte mil soldados adotassem as seis mil Crianças em meio a uma guerra? – Diz A.M.

- Não esperava isso. O que eu gostaria é que os soldados não chacinassem crianças, principalmente com excesso de crueldade. Também gostaria que os soldados não chacinassem as enfermeiras paraguaias, outra vez com excesso de crueldade. Essas foram apenas duas das muitas ações não condizentes com guerra dos soldados brasileiros. – Benito diz, mas o que pensa é: Mas seria lindo se houvesse amor para adotar e respeito para dar...

- Quem levou Crianças pra guerra a defender os próprios interesses?

- A.M., faça uma pesquisa. Não creia em mim. Pesquise sobre o que as crianças paraguaias estavam fazendo no Paraguai... Informe-se como foi a matança. Espero que não seja capaz de justificar crueldades.

- O senhor não respondeu a pergunta. – A.M. insiste. – Quem levou essas crianças para a linha de frete de uma guerra?

- Filho. Tenho dito tanto e o senhor não me crê. Por isso tenho-lhe sugerido pesquisar. Não é por má vontade; é para que o senhor creia ou corrija-me partindo de fatos. – Diz Benito, mas pensa: Justifica um genocídio culpando o governo inimigo...

- Ou não tens argumento para um debate ou não quer um confronto de ideias. Não vejo outra resposta para a sua evasividade.

- A.M., já ouviu falar em Laurentino Gomes? Mais importante, já estudou algum livro dele? Caso sim, parabéns. Recomendo que reestude. Caso não, estude-o.

- Ah ta... O genocídio foi causado pelos soldados Brasileiros, e não pelo imperador maluco do Paraguai que colocou toda a nação dele e suas famílias na linha do fuzil...

- A.M., o único país na América a ter imperador foi o Brasil. O senhor, no lugar de ater-se à História e aos fatos, quer culpar as vítimas e inocentar os soldados e o Brasil. Recomendo que não creia em mim, mas que faça uma pesquisa tendo um mínimo de três fontes diferentes.

- Todo ditador é um imperador... Aquele que impera sozinho, que faz de sua vontade a lei... Onde não há democracia... É no sentido figurado que falo de Francisco Solano López. Coloque na conta dele todos os civis que morreram em combate. Foi ele quem os colocou na linha de frete pra combater.

Essa de chamar ditador de imperador é disfarçar a falha na própria ideia... – Benito pensa enquanto E.C. intervém:

- Toda e qualquer Guerra revela a pior parte do ser humano. O que os soldados brasileiros fizeram ao olhos de hoje é condenável; colocar crianças no campo de batalha também. Sob o ponto de vista militar e à luz da época as crianças estavam armadas, portanto eram alvos inimigos.

- Exatamente, E.C. – A.M. diz sorrindo. – E, Benito, Paraguai tinha cento e cinquenta mil soldados. Como saber ali no meio quem era quem?

- O senhor não sabe distinguir homem de mulher, criança de adulto? – Suspira e lê: “... Um massacre. O conde foi descrito por alguns historiadores como criminoso de guerra, que degolou prisioneiros desarmados e executou a sangue-frio mulheres, crianças e adolescentes na caçada final a Solano Lopes”¹.

- E por que Solano não se entregou quando suas linhas de defesa, composta por civis que ele coagiu e colocou a força, foram vencidas? – A.M. insiste. – Por que continuou fugindo e espalhando ainda mais violência? Parece o Imperador Louco do Japão... Que continuou mandando seus civis, jovens e crianças para o penhasco ao não se render a uma guerra perdida... Não mudemos as peças do jogo de posição... Sabemos o que realmente aconteceu.

Benito apenas pensa: É tão simplista e pueril dizer isso. E tanto ódio ao outro. Com certeza ele justifica o armamento da população.

- A.M., o senhor votou em quem para presidente?

- No Mito, claro. Mas o “que tem alhos com bugalhos”?

Sabia! – Benito pensa enquanto E.U. deixa de só ouvir:

- Li ontem o relato dos desmandos do Conde D'eu. Que ser abominável. E o senhor justifica a bomba atômica no Japão?!? – E canta:

Pensem nas crianças

Mudas telepática

Pensem nas meninas

Cegas inexatas

Pensem nas mulheres

Rotas alteradas

Pensem nas feridas

Como rosas cálidas

Mas oh, não se esqueçam

Da rosa da rosa

Da rosa de Hiroshima

A rosa hereditária

A rosa radioativa

Estúpida e inválida

A rosa com cirrose

A antirrosa atômica

Sem cor sem perfume

Sem rosa sem nada².

 


- A.M., sou professor e por isso tenho incentivado ao senhor estudar. Recomendo também que leia bastante literatura brasileira. Machado de Assis, Lima Barreto, Cruz e Souza. Que tal comprar e ler a antologia Versos Ácidos do Vale do Aço!?! Mas enfim, estude! Faça boas leituras! E evite buscar respostas de/em outrem. – Pausa alguns segundos. – Mas confesso que me cansei. Não se ofenda, por favor. Mas nada mais falarei. Contudo, se achar algo que justifique o assassinato de crianças... mostre-me. Quem sabe eu não me venha a ter um coração empedernido.

 

 

Ofereço como presente aos aniversariantes:

Sanchez Tomas, Rayane Soares, Maria Fernanda, Shirley Maclane, Gely Fantine, Julio Cabral, Hércules Malta e Camila Oliveira.

 

¹ GOMES, Laurentino. A Redentora. 1889: como um imperador cansado, um marechal vaidoso e um professor injustiçado contribuíram para o fim da Monarquia e a Proclamação da República no Brasil. São Paulo: Globo Livros, 2014. P. 160.

² MORAES, Vinícius. Rosa de Hiroshima.

 


Rubem Leite
é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO.

É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes.

É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”.

Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”.

Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).

Imagens:

Da Batalha de Ñu: https://www.hoy.com.py/nacionales/a-150-anos-de-la-hazana-de-ninos-paraguayos-como-se-dio-la-heroica-batalla-de-acosta-nu

Versos Ácidos do Vale do Aço: Roberta Rocha;

Do autor pelo autor.

 

Escrito e trabalhado entre os dias 16 de agosto a 11 de outubro de 2020.

domingo, 4 de outubro de 2020

O HOMEM RECRIOU DEUS A SUA IMAGEM E SEMELHANÇA

  

 

“Somente com os teus olhos contemplarás, e verás a recompensa dos ímpios”. (Salmo 90, 08). É o amor bíblico desejando o bem aos concorrentes.

 

“Si las lenguas tienen derecho es, antes que nada, porque tienen derechos las personas que las hablan. Las palabras saben mucho de derechos humanos”.

(Javier Villanueva)

 

Flor colhida

Homenagem em vida

Descontido sentimento

Beleza num momento.

E

Minhas retinas

Desanimadas das rotinas

Prendem-me numa tribuna

Mas cerradas

Contemplo flores de sibipiruna.

Pois

Árvores choram flores

Abrigam pássaros

Quando estes voam

Elas florescem.

Entretanto

Nós, artistas,

Temos corpo humano

Mas somos fadas e diabos.

 


O que sinto e percebo é mais que isso. Mas é só o que consigo mostrar.

Vamos do verso à prosa.

 

Estou desacreditado com a Esquerda de Ipatinga.

No lugar de Robinson Ayres e Daniel Cristiano se unirem cada um ficou num canto. O que faz/fez essa desunião é ego, é vaidade? É algum tipo de jogo sujo? É “farinha pouca meu pirão primeiro”?

Na eleição extemporânea (2018) Daniel foi muitíssimo bem votado; suas chances de tornar-se prefeito estariam no ápice; mas ele ficou como candidato a vereador.

Quem deixa Robinson Ayres, com o histórico que ele tem, para apoiar Naná Pedregulho, um declarado apoiador do Boçalnato, está com terrível confusão mental.

Há quem diga que Naná está fazendo tudo pela lei Aldir Blanc. Fazendo algo? No máximo falando que apoia. Da mesma forma que lançou um edital para cultura que muitos que não observam a História se deixaram enganar e até agora não viram nem nunca verão o dinheiro dos projetos aprovados.

O Pedregulho disse ter lutado contra a pandemia, mas é frouxo. Não aguentou a pressão dos que se acham empresários e capitalistas da cidade e abriu lojas, feiras livres, o shopping. Só manteve fechado o Parque Ipanema e o Feirarte. E mesmo assim já os reabriu.

- É para não sofrer “impítima”. – Disseram-me.

 Dura na queda é a Dilma que preferiu aceitar o “impítima” a entrar na história como corrupta, antidemocrática, fraca e covarde. Ou vai querer comparar a pressãozinha dos pseudos capitalistas de Ipatinga com as forças nacionais e internacionais que ela enfrentou?

E por eu ter falado na Dilma já estou até escutando os imbecis me gritarem “petêêêê”. A esses não respondo porque não se conversa com ruminantes.

Sobre a Esquerda não falo de João Magno porque quando foi prefeito o que ele pode fazer contra a classe artística e outras classes ele fez. É outro covarde. Menos que o Naná, mas continua sendo frouxo.

E é para mim uma decepção Sávio Tarso sujar-se unindo ao João. Só não me espanto porque Sávio sempre apoiou Rosângela Reis; o que o torna um de direita que ainda não saiu do armário.

Como me disse Claudina Abrantes: “Não digo que alguém seja boa pessoa porque todo mundo é boa pessoa; pelo menos até que se prove o contrário”. Enquanto gente, não digo que João e Sávio sejam boas pessoas porque enquanto seres humanos nada vi que prove o contrário. O que falo é da administração do João e das coligações/apoios do Sávio.

E para pensar, candidatos que valem o voto popular:

Maura Gerbi, Lene Teixeira, Gabriel Miguel e Daniel Cristiano para vereadores. Robinson Ayres e Diego Arthur para prefeitos. Duas opções para prefeito e quatro para vereadores. Não estamos desprovidos de opções, pois nesses nomes não há o “rouba, mas faz”...

E quem sabe, na eleição de 2024, tenhamos boas candidatas a prefeitas ou LGBTQI+...

 

 

Ofereço como presente aos aniversariantes:

Fabiola Brito, Carlos A. Silva, Roberto Passos, Divan Macedo, Luciano G. Botelho e Fernanda Lima.

 

Recomendo a leitura de:

“Las Palabras Saben Mucho”, de Javier Villanueva:

http://javiervillanuevahistoria.blogspot.com/2020/09/las-palabras-saben-mucho-luis-garcia.html

Versos Ácidos do Vale do Aço” é uma antologia poética que nasceu do desejo de tornar o vale menos cinza. A obra foi escrita por dez poetas. Apoie a literatura e encha sua vida de poesia!

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Onde Aqui Rebentamos”, de Wil Delarte. Esse livro celebra o poder das criações. Uma história de amor se desenha ao fundo e por dentro, invocando a alma das palavras, onde tudo é síntese, movimento e explosão, vida e rebentação.

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Rubem Leite
é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO.

É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes.

É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”.

Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”.

Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).

Imagens:

Versos Ácidos do Vale do Aço: Roberta Rocha.

Sol sobre o telhado e atrás da árvore: pelo autor.

Foto do autor pelo autor.

 

Escrito entre 20 de setembro e 04 de outubro de 2020.