domingo, 7 de março de 2021

HÁ O QUE VALE MAIS DO QUE AS PESSOAS

  

- No ofrezco fiestas a ti. Solo palabras y mi corazón de padre.

- No sos mi padre. Solo es mayor que yo.

 

Jede Einschränkung ist für den Künstler anregend.

(João Guimarães Rosa em uma entrevista na Alemanha. Minuto 5:45: https://www.youtube.com/watch?v=ndsNFE6SP68 )

 

Caras mulheres, não lhes anseio nada que que as pessoas te desejam “no seu dia”; apenas grito: Façam!

Homem não faz nada que não seja sob orientação de mulher. Até Jesus só começou a Sua missão depois que Sua Mãe mandou.

 

 

As dez da manhã do dia 31 de janeiro de 2019 Ôldi recebeu a notícia de Quide que iria viajar sem comemorar a passagem do ano com o pai. Após uma tensa conversa, as últimas palavras do filho:

- Não é meu pai; apenas me adotou.

No passar de 2020 se falaram pelas mídias sociais; no meio de janeiro Ôldi ainda buscava entender “como não sou o pai” e quando março estava quase no fim:

- Olá, tudo bem? Houve um pequeno problema no meu watzap e perdi todos os contatos. Se for de seu interesse. Se tiver realmente alguma vontade manter contato por watzap, adicione-me, por favor. Mas caso contrário, prefira manter um distanciamento, um silêncio. Aceitarei tranquilamente, de bom grado. Cada um cuidando da própria vida; seguindo seu caminho. A gente se gosta, tem afeto, mas talvez prefira o silêncio. Daí, se quiser ter real contato; se acha que vale a pena adiciona-me. Abraços.

Ôldi se calou.

A dor de cabeça está terrível. A vontade de que o dia acabe e a noite não termine não se realizam nem após o uso de quatro pílulas para dormir. Duas às duas da tarde e outras mais as dezoito horas.

Ôldi falou:

- Disse precisamos de silêncio. Mas na verdade acho que você necessita de silêncio. Que eu me cale. Não, não estou ofendido. Só estou pensativo. Quero colaborar, quero estar ao lado. Mas se minha presença for agradável, suportável, útil.

O pai se calou para tentar pensar apesar da dor de cabeça.

- Aí, pare e pense! Não faça uma ação irrefletida. E se achar “vale a pena”, contate-me para voltarmos a ter contato no watzap. Caso contrário, fique tranquilo.

- Está falando o quê, homem?!? – O filho riu. “Homem”, não “pai”. – Passe o número.

- O que estou falando? É que tenho notado tantas vezes. Que tenho sido desconfortável, desagradável... Não sei o termo adequado. E meu objetivo não é esse. Se estou sendo pernicioso... – Para diminuir o peso da conversa: Se não conhece a palavra é uma boa chance de buscar no dicionário. – Se estou constrangendo... Então peço desculpas. – A dor de cabeça lhe obriga a pausar a fala por dois ou três segundos. – Mas te amo demais e quem ama questiona. Quem ama busca conversar, apoiar, criticar... E se isso está sendo irritante para você...

Quide apenas ouviu sem nada dizer.

Julho chegou e passou. Ôldi então continuou:

- Quem ama faz comentários, fala, preocupa-se, pensa... Só as pessoas que não amam não estão nem aí. Mas se meu amor está sendo incômodo então o silêncio será a melhor opção. Espero que a gente conversa, porque te quero muito. Mas aí é um decisão sua.

- Que isso! Estou ultimamente dispondo de pouco tempo para as pessoas. Para viver como mochileiro há momentos que tenho que me virar com malabares, mas outros que tenho que trabalhar em bares e restaurantes. Isso gasta muito tempo e energia. Principalmente quando trabalho em ambiente fechado tolerando clientes sem máscaras e grosseiros. – Talvez tenha reparado no silêncio daquele que não chama de pai e continua: Acho que por isso pareço distante... Desprezo no comércio é mato. Pior que nos faros.

- Entendo... Acho. Se eu não tivesse a arte estaria destruído, aniquilado. Estou tão abatido que as dezenas e centenas de páginas que lia por dia mal consigo chegar a dez. – Quide não pergunta o que lhe abate. – Apesar disso estou lendo porque sem essas dez páginas não sobrevivo ao dia. Ler! Ler é o que me fortalece. Escrever é o que me alivia do peso, é o que joga fora o que está me machucando. Como disse, estou sem energia, mas esta leitura e esta escrita elas recarregam o suficiente para que eu aguente o dia. Sem a arte, seja recebendo-a ou produzindo-a, eu já estaria acabado. Então a arte é principalmente minha força para resistir. Mesmo que minha resistência esteja rastejado não como se humilhasse, mas como um bebê a engatinhar fortalecendo os músculos para levantar-se e andar. A mim, pelo menos para mim. Não posso dizer pelos outros. Mas a mim a busca de um psicólogo está me ajudando. Hoje perguntei a Cleber Assis, um psicólogo: “O porquê? Pra que serve a psicanalise? Como ela nos ajuda? Como ela funciona? Talvez ele me responda.

Quide apenas escutava. E os dois se calaram.

Chegou 2021.

- Por que leciono? Para tentar fazer meus alunos serem cidadãos. Não apenas formigas num formigueiro. Seguindo regras, aceitando a sua posição. Quero-os cidadãos. Aqueles que participam, que lutam e não apenas sobrevivem. É uma batalha com baixa possibilidade de vitória. Até porque tenho que ponderar bens as palavras porque sofremos censuras das mais variadas fontes e nas mais diversas formas. Mas leciono para continuar a ter força para viver. E escrevo por motivo semelhante. Se na educação tenho que disfarçar as reflexões na escrita posso tascar na cara as violências que sofremos da sociedade. Apesar de quantas e quantas vezes me xingam, agridem. Afinal é como diz a música “Vida de gado. Povo marcado, povo feliz”. Não quero que as pessoas sejam gado. Por isso ensino e escrevo. Para que sejam cidadãs.

Quide nada disse. Então Ôldi perguntou:

- E você, o que está fazendo para as pessoas serem cidadãs e não formigas?

Quide não respondeu e Ôldi continuou:

- Sou uma cigarra e o destino da cigarra é ser devorado pelas formigas ou berrar até estourar. Em ambos os casos, qual é o resultado que ela produz na floresta? Não me importa a resposta. Berro como uma cigarra. Enquanto berro alguém sempre escuta algo. E talvez, apenas talvez, isso possa fazer alguma diferença na floresta ou ao menos no formigueiro. Com ajuda da educação, da leitura, da escrita, da psicanálise, de meus cães e de alguns amigos a gente quando cai se levanta, sacode a poeira e continua a caminhada.

Olhou o relógio. Cinco e meia da manhã. Encerrou a conversa sem dizer o motivo. E o garoto sem perguntar. Só se despedem. 

No dia onze de fevereiro sua mãe, dona Etienne, fora internada por suspeita de covid. Por ter noventa e um anos necessitava cuidador. O protocolo exigia troca de acompanhante somente após vinte e quatro horas após a entrada. 

O Hospital Municipal de Ipatinga há quartos com espaço para quatro leitos, mas estão com cinco e alguns estão sem a campainha para chamar enfermeiras. Filas de formiga caminham pelos cantos. Apesar não nos enojar, são tão imundos e infeccioso quanto às baratas. Paredes e portas descascadas e lascadas. Assim como ausência de vidros nas janelinhas das portas. Os acessos para os quartos ou dos banheiros estão desnivelados, não fechando. Goteiras em todos ou quase todos os corredores do hospital assim como infiltração em várias paredes. Pias com torneiras quebradas, dificultando fechá-las. Ou pias soltas das paredes. Parte debaixo da descarga amarelo de ferrugem. Ao redor do chuveiro paredes amarelas de, creio, bactérias. Só os funcionários “funcionam”. Fazem o melhor com o que têm.

Alternando com um sobrinho, Ôldi fora nos dias 12, 14 e 16; neste dia ela morreu e o atestado de óbito anunciava morreu por parada cardíaca súbita motivada por “alzáime” agravada por pneumonia, mas a causa principal é o covid.

Dezoito de fevereiro Ôldi começou a sentir os sintomas da doença.

Agora estamos iniciando a segunda semana de março. Quase seguiu o protocolo de isolar-se por quatorze dias, mas os sintomas pioravam. Numa segunda-feira, onze dias após a infecção, foi ao posto de saúde e o mandaram embora porque os médicos se recusavam atender suspeitas de covid. Teimou e voltou na quinta, conseguiu marcar um teste rápido para a próxima quinta, mas lhe disseram: Não há material para testes. Estamos esperando que chegue na próxima terça-feira, na quarta faremos o balanço e se tiver chegado poderemos testá-lo na quinta.

Na quinta-feira a enfermeira não estava no posto de saúde. A Prefeitura decidira de última hora fazer uma capacitação das enfermeiras da rede pública do município e não recebeu notificação nenhuma. Quiseram remarcar para a outra quinta-feira. Ôldi sentiu-se mal então remarcaram para o dia seguinte, as sete horas. Por isso encerrara a conversa com o filho.

Levantou-se da cama, fez café e o tomou com leite. Saiu de casa, quinze minutos depois estava sentindo-se levemente cansado, atravessou todo o Centro, chegou ao bairro Vila Ipanema, atravessou-o por um terço até chegar ao posto. Sentindo-se cansado ficou a esperar a chegada da equipe do posto. Enquanto aguardava ouvia o povo dizer:

- Fui lavado no Sangue de Jesus, por isso sou imune. – E ficou imaginando essa vampiresca cena dos praticantes de religião.

- Olha quanta gente de máscara. Tudo teve covid, pois só burro ou doente usa máscara.

Houve bobagens mais, mas quem ler Rubem Leite já entende a estupidez humana para necessitar de mais exemplos. Há que ter estômago para ler este misantropo que vos fala.

O posto abriu, chegou a enfermeira, preparou a sala, fez o teste rápido. Confirmado! Está com alguma das novas cepas do coronavírus. A enfermeira fez o encaminhamento para o UPA. 

E Ôldi voltou a pé ao Centro. Um determinado momento parou para admirar as flores do campo em um terreno vazio e pensou: Tem mais valia que o presidente, que o governador e que o prefeito. Vale mais que o povo e talvez que qualquer ser humano. Continuou o trajeto, pegou ônibus para o UPA, passou o resto da manhã entre esperando ser atendido e o atendimento. Ao fim recebeu receita para três medicamentos para cinco dias, foi ao posto de saúde mais perto, conseguiu dois dos remédios, estava sem dinheiro para o terceiro, foi ao ponto de ônibus, pegou um que o levasse para casa e, muito cansado, lá chegou a uma da tarde.

Medicou-se, banhou-se, comeu algo, leu um pouco de Câmara Cascudo, dormiu mal. Levantou-se para um novo dia sem saber pra quê.

A pandemia está mais forte que nunca. Nenhum país está aceitando a entrada de brasileiros. E as Secretarias de Educação do Vale do Aço querem aulas presenciais afirmando seguirem normas de segurança sanitária e os fatos provando que não. O Prefeito, o Vice-Prefeito e Secretário da Saúde de Timóteo não sabem que decisão tomar. Mas ordenaram mandar novos casos de volta para casa.

Mas dizer que os prefeitos ou secretários de saúde e educação não sabem o que fazer é tolice. Já estão sendo comunicados há longos meses. Apenas não quiseram agir.

O Governador Zemagogo está em silêncio e os prefeitos do Vale do Aço não falam nada. Até as flores têm mais o que dizer e fazem mais pelo planeta.

Terça-feira Ôldi tomou o último remédio, mas os sintomas persistiam. Na quarta sentiu-se mal. Na quinta chamou o SAMU:

- Nada podemos fazer, senhor. UPA, Hospital Municipal, Márcio Cunha, Unimed, os hospitais de Fabriciano e Timóteo estão superfaturados de pacientes. O senhor terá que curar-se em casa com os remédios que o médico lhe deu.

- Estes... já... acaba...ram...

- Então terá que vir buscar mais no posto de saúde.

- Não... con...si...go.

- Nada podemos fazer senhor. Busque ajuda de algum famil...

Estava demasiado cansado e sem ar para discutir então desliga o telefone. Para caminhar estava ainda mais esgotado. Ficou em casa, deu ração para os cachorros, mas não conseguiu fazer algo para comer; não tinha força, não tinha ar, não tinha apetite. Deitou. Dormiu mal até o dia seguinte.

Na sexta-feira a escola lhe cobrou a presença. Com esforço respondeu:

- Es...tou... mui... to... mal. Por favor..., me aju...dem. – Ele recebe:

- Seu atestado já venceu. Venha trabalhar!

 Foi ao banheiro aliviar-se da diarreia: pura água. Deu ração para os cachorros; não conseguiu preparar nada para comer e voltou a dormir aquele mesmo mal sono.

No sábado se levantou, batendo nas paredes foi ao banheiro aliviar-se; deu ração para os cachorros, encheu até a borda a vasilha de água para os bichinhos e leva a ração para sua cama. Chorou com medo: Que acontecerá com Florbela, Pessoa e Iemanjá? Voltou a dormir sem nada comer.

Domingo não se levantou; o corpo não tinha água para lançar fora; deitado jogou ração para os cães.

A segunda-feira amanheceu com os ganidos dos cães. Os vizinhos se irritaram e gritaram para o professor calar os bichinhos.

Uma usuária de crack abre o portão e entra; chorando os cachorros a levam para o quarto. A mulher chamou o SAMU, que finalmente veio; expulsaram a “viciada”. Arrancaram a roupa do velho professor, enfiaram o corpo pelado num saco preto e o levaram para o cemitério. Aos sem ninguém a Prefeitura já ordenara meter os corpos num caixão de papelão e os jogarem num buraco.

O Senhora da Paz preencheu uma papelada com os documentos encontrados na casa. Não há ninguém para receber o atestado de óbito. Por quê? Saberá abaixo. Sem ninguém para receber o documento enviaram-no para o RH da Prefeitura que chamou outro professor. 

Preocupado Ôldi olha os cachorros que são pegos pelos usuários de crack. Estes cuidam dos animais melhor do que deles mesmos. Aliviado vai-se embora.

Os parentes agradeceram sua morte. A casinha onde morava pertencia aos parentes que a queriam para vendê-la. Não mais terão que expulsá-lo da casinha como planejavam.

Quide nada ficou sabendo. E para quê?

Tantos anos se passaram quando este voltou a cidade. Os parentes cada um num canto obscuro uns aos outros. Ninguém se lembrava de nada. Exceto a usuária que o encontrara ainda vivia e disse o que acontecera. Florbela olhou para Quide, mas não abanou o rabo.

Sete anos; e dois anos antes a ossada tinha sido tirada e misturada numa vala comum.

Se Quide chorou não importa ou alguém se interessa por suas lágrimas? Eu não.

Tem alguma relevância para os mortos o descaso dos governos, a indiferença dos vizinhos, a ganância dos parentes? Estes têm Jesus para gritarem nos cultos. Só os cracudos sentiram sua falta. Talvez algum aluno; – o autor ri mordaz – vá saber.

Nada importa: A sociedade mudara bulhufas.

 

 

Observação:

Como semana atrasada eu estava de luto (ainda estou) não tive condições de comemorar aniversários de quem gosto muito. Abaixo seguem a segunda metade dos aniversariantes da semana atrasada e os da presente semana. Não olhei por “preferência”, pois todos são queridos; segui a data de cada um.

Ofereço como presente:

Gustavo Fernandes, Edson J. Morais, Gineraldo Adão, Tiago Gonçalves, Ramón K. Mendes, Rafael Henrique, Thiago Vaz, Eunice Profeta, Lene Teixeira e Jacomar A. Braulio,

 


Rubem Leite
é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO. É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”. Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).

Imagens:

Fotos do autor;

Charge tirada do facebook.

 

Escrito entre 13 de dezembro de 2020 e 07 de março de 2021.

segunda-feira, 1 de março de 2021

SEUS OLHOS NÃO SE COMOVEM DESDE QUE EM SEUS BOLSOS CHOVEM

 

PERIGO!

Este cronto é o quarto de uma novena a pensar criticamente a Bíblia. Se isso te amedronta pare por aqui. Está avisade. Se continuar será por sua conta e risco. Não me responsabilizo pelo desconforto que sentirá, pois é difícil não ser misantropo quando se tem neurônios funcionais.


É assim que vou balançar os céus, e a terra vai tremer na hora do calor da ira de Deus. [...] Cada qual vai esconder na sua própria terra. Quem for encontrado, será traspassado; quem for alcançado morrerá ao fio da espada. Suas crianças serão despedaçadas diante de seus olhos, suas casas serão saqueadas e suas mulheres serão violadas. É assim que vou atirar contra eles gente que matam os jovens, não têm compaixão dos bebês; o olhar deles não se comove diante das crianças.

(Isaías 13, 13-18)¹

 

Amanheci mais um dia

Pra que um dia a mais

Lá fora a vida evadia

Com gritos e ais

 


Ave Maria cheia de graça. O Senhor é convosco. Bendita sois vós entre as mulheres... – Enquanto fala pensa “mulher bendita... Até parece!”. – Bendito é o fruto do vosso ventre, Jesus. – “De criancinha eu gosto”...

As três da manhã rezava o Bispo a preparar-se para dormir após uma “longa noite de ‘pregação aos adolescentes’ que ele cuidava”. E porque no dia seguinte tinha um encontro marcado com o presidente para benzer todas as armas e pólvora para a guerra contra os esquerdopatas.

Santa Maria Mãe de Deus, rogai por nós pecadores... – Essa é sua fala, mas sua crença é “rogai por eles pecadores. Estou santificado pelas minhas orações”. – Agora e na hora de nossa morte. Amém. – Eis uma de suas ideias: Ainda bem que vou direto pro céu. Não tenho com que me preocupar.

Senhor! Me dê a benção de matar o advogado Anderson Reiner Fernandes, meu desafeto. Ele está me desagradando ao expor os desvios de dinheiro realizados para Sua Glória e Louvor.

O vento atravessando a janela fechada balançou as cortinas. As chamas das três velas para a Santíssima Trindade se amortizaram.

- Dom Claudemir Serafim!

Voz grave, doce, sedutora.

- Onde está? – Olha por todo o imenso e luxuoso quarto. – Não te vejo.

- Não se preocupe. Para você ainda me faço invisível, mas em breve me verá.

Um riso grave, doce, sedutor e:

- Os prefeitos Gustavo Nunes, Marcos V.S. Bizarro e Douglas Willkys, respectivamente de Ipatinga, Coronel Fabriciano e Timóteo lutam contra os professores. Os professores querem lecionar sem correrem risco de infectarem a si ou aos outros. Os prefeitos mais seus Secretários da Saúde e da Educação dizem que as escolas estão todas protegidas. Contudo, não têm ventilação adequada, álcool adequado, distanciamento adequado, máscaras adequadas. Resumindo, entre estes e outros problemas, as escolas estão campos de morte. Depois dirão: “A culpa é da nova cepa do vírus e que eles estavam preocupados apenas com o bem-estar da população, por isso votem em mim na próxima eleição.”.

- Você me verá em breve. Você e estes e outros pedófilos.

- Ah! Eles também são pedófilos?

- Se fazem sexo com crianças? Não! Mas destroem seus corpos e almas com a mesma a tara.

- Já sei quem é você. É o covid-19. O vírus que não é católico porque odeia Nosso Senhor...

Um riso grave, doce, sedutor e:

- Não sou vírus, não o criei e ninguém odeia mais a Ele que os pronunciantes do Seu Nome.

- Quem é você e o que quer?

- O que quero?... Os Pronunciantes do Nome adotam meia centena de crianças, casam com filho e matam o filho-marido; abençoam instrumentos de morte; passam horas – ri zombeteiro – instruindo adolescentes sem ninguém por eles, crianças que não têm para onde ir... Constroem Templos de Salomão, Catedrais, Basílicas e sobram dinheiro; cobram dízimo daqueles que faltam comida; instigam o ódio à comunidade LGBTQI+... Preciso falar mais?

- Mas quem é você?

- Sou o Diabo!

- Não quero morrer agor...

Outro riso grave, doce, sedutor.

- Não me leve, por favor. Eu... Eu troco minha alma pelas das crianças que cuido.

- Dom Claudemir, perguntou-me o que quero.

- !!??

- Não preciso de almas. O que quero é entrar para o seu – rir gostoso – Lar dos Meninos Sem Ter Onde Ir.

- Você quer sexo com as crianças? Torturá-las, amedrontá-las, matá-las de fome?

- Não. Isso já fazem os Pronunciantes do Nome. Quero aprender como fazer tanto mal. Onde me matriculo?

 

 

¹ Estupro e, principalmente, assassinato de crianças são os temas de Isaías 13, 13-18.

 

Observação:

Como semana passada eu estava de luto (ainda estou) não tive condições de comemorar aniversários de quem gosto muito. Abaixo seguem metade dos aniversariantes da semana passada e os da presente semana. Na semana seguinte estarão os aniversariantes da semana mais os que faltaram. Não olhei por “preferência”, pois todos são queridos; segui a data de cada um.

Ofereço como presente:

Christine D.P. Menezes, Kadosh Miranda, Josiane Hungria, João P.C. Silva, Átila Nonato e Elmina Ferreira.

 

Recomendo a leitura de:

“Sociedade Educadora Universal dos Cidadãos Unidos”, de Glaussim:

https://www.recantodasletras.com.br/contossurreais/7194260

“Lendas Brasileiras”, de Luís Câmara Cascudo; editora Global.

“Aspectos do Folclore Brasileiro”, de Mário de Andrade; editora Global.

 

Sobre Claudemir Serafim:

https://www.youtube.com/watch?v=HfldBfzHrXs

Sobre a morte do advogado:

https://esportes.yahoo.com/noticias/audio-padre-robson-morte-desafeto-bencao-113911455.html

 

Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO. É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”. Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).

 

Escrito na noite de 05 e trabalhado entre 22 de fevereiro e 01 de março de 2021.

domingo, 21 de fevereiro de 2021

UMA HISTÓRIA NÃO LITERÁRIA EM QUATRO ATOS

 

Foto tirada no interior do quarto 11 mostrando as portas dos quartos 11 e 10. Pelo autor.

Ato 01

 

No Hospital Municipal de Ipatinga há quartos com espaço para quatro leitos, mas muitos estão com cinco e alguns estão sem a campainha para chamar enfermeiras.

Filas de formiga caminham pelos cantos. Apesar não nos enojar, são tão imundas e infecciosas quanto as baratas.

Paredes e portas descascadas e lascadas. Assim como ausência de vidros nas janelinhas das portas. Os acessos para os quartos ou dos banheiros estão desnivelados, não fechando.

Goteiras em todos ou quase todos os corredores do hospital assim como infiltração em várias paredes.

Pias com torneiras quebradas, dificultando fechá-las. Ou pias soltas das paredes.

Parte debaixo da descarga, amarelo de ferrugem.

Ao redor do chuveiro paredes amarelas de, creio, bactérias.

Só os funcionários “funcionam”. Fazem o melhor com o que têm.

Gugudadá Babyboso, Nadanodinheiro Rocha, Çessilha Ferradura, Quintão dos Infernos. Quatro prefeitos ineptos.

 

Ato 02

 

Terça-feira de carnaval cheguei ao hospital antes das sete e quase oito da manhã consegui chegar a ala F, destinada aos casos de suspeitas ou confirmações de covid-19.

Entre um zunzum e outro "pesquei" algumas técnicas de enfermagem comentarem uma morte feia na noite anterior em um dos quartos da ala F.

No quarto 10, o seu leito 32 estava ocupado por um senhor em estágio avançado do covid.

O quarto 11 estava ocupado por quatro idosas sem capacidades de banharem sozinhas; a do leito 39A era minha mãe. As técnicas de enfermagem me fizeram sair muitas vezes para os cuidados adequados a elas. Assim, não queria, mais foi importante ver no quarto em frente três médicos e dez enfermeiras e técnicas de enfermagem gastarem três horas – iniciaram às oito – para entubar o paciente.

Não se pode anestesiar. Imagina um tubo três ou quatro vezes mais largo que tua garganta e que a entrada para o pulmão. Como sua introdução agride, destrói os órgãos por quais passam. Há que induzir o coma. Terminaram o procedimento às onze da manhã.

Foi horrível, mas agradeço por minha mãe não ter passado por esse processo. Ela não merecia essa agonia.

Foto tirada na primeira década do milênio. Minha mãe em sua oração matinal diante do Oratório dos Antepassados, algumas oferendas e livros de oração. Acima, foto da Professora Teruko Taniguchi (Seicho-No-Ie). Pelo autor
 
Ato 03

 

Toda a parte da manhã minha mãe esteve sonolenta, apática. Mas se animou durante o almoço. Não sei se me reconheceu ou não, mas três vezes me disse “obrigada”. Depois de bem alimentada cantarolou algumas vezes.

Maria Etienne Weber Leite nascera no dia 26 de dezembro de 1929 e faleceu em 16 de fevereiro de 2021; na terça feira de carnaval; entre meio dia e uma da tarde. Dou-te a oportunidade de escolher a opção que mais agradar-te: partiu para outro mundo, descansou, desencarnou, voltou a fazer parte da natureza...

Dois fatos curiosos: 1- Meu pai faleceu no domingo de carnaval e mês que vem faria trinta anos sem se verem no mesmo plano. Ao Contrário de tantos casais que só se toleram, os meus se queriam mutuamente. 2- Meu pai era advogado e tinha preferência pelos pobres; nunca teve dinheiro suficiente para os pequenos prazeres supérfluos. Nunca foi e descreio que seja reconhecido, mas a Defensoria Pública em Ipatinga foi por esforço exclusivo dele.

Em ordem crescente veja as causas da morte de minha mãe:

“Alzáimi” avançado, parada cardíaca súbita, pneumonia bacteriana e suspeita de covid-19.

Não se pode ter velório devido ao covid; nem que seja apenas suspeita. Saíra direto do hospital para a sepultura.

Não sei se compreende, mas ainda mais deprimente do que a falta de velório é o corpo estar completamente nu, envolto por um grosso saco plástico parecendo ser de “lixo luxuoso” preto dentro de um caixão lacrado.

Para o corpo não é nada, mas para nós é sensação que sentirá frio mais o vexame que é a nudez.

Coronel Fabriciano retornaram as aulas presenciais, Ipatinga e Timóteo retornarão no dia 22 de fevereiro.

Timóteo tem uma administração fraca, covarde que não aguenta pressão e responsabiliza os professores, pois se nós entrarmos em greve eles dirão: “São os professores que não querem trabalhar”. E para nos enfraquecer, manteve remoto os ensinos infantil e das séries iniciais (01º ao 05º ano), mas semi-presencial as séries finais. Portanto, os professores a entrarem em greve serão apenas um terço da categoria; minando nossa força para proteger as vidas dos alunos e de seus familiares, dos funcionários e familiares. Assim, como das pessoas nos transportes públicos.

Como “funcionam” as aulas semi-presenciais? Uma semana metade dos alunos de cada turma vão à escola e a outra metade fica em casa estudando pelo método remoto.

Alguns pais em Timóteo não autorizaram o retorno às aulas presenciais; a estes meus sinceros parabéns!

Dessa forma, cada professor terá que fazer um plano de aula para os encontros presenciais e outro plano de aula para as aulas remotas. O que já será desgastante. Ao contrário do que muitos pensam. O trabalho do professor não se concentra apenas na sala de aula. Boa parte é feito em casa

Não sendo suficiente haverá um terceiro, mais complicado que será o plano de aula daqueles que não participarão das aulas presenciais; já que não se pode esperar que só com exercícios e sem explicações estes conseguirão acompanhar. O professorado, quantos e principalmente quantas terão jornadas quíntuplas.

Se em Timóteo o grito forte foi do poder econômico, em Ipatinga e Fabriciano não é mera falta de força contra o poder econômico. É agravado pela ignorância e falta de empatia pela classe trabalhadora; pelo povo em geral; sobretudos sobre aqueles que "gastam" dinheiro público com previdência social.

Ipatinga quer que os pais assinem um documento isentando a PMI, a Secretaria de Educação e as escolas por qualquer infecção do covid advindo das aulas presenciais. Deixando os pais como os únicos “culpados”; não digo responsáveis, mas culpados.

O Vale do Aço não respeita a vida; só preza a economia. Minas Gerais é o mesmo em escala maior. O Brasil é o pior país na prevenção e cuidado da pandemia.

O Boçalnato, o Zemagogo e o Mudinha de Laranjeira, mais conhecido por Gugudadá Babybozo são genocidas assim como os seus cúmplices (todos aqueles que votaram neles ou votaram em branco ou anularam).

 

Ato 4

 

Vizinha:

Meus sentimentos pela morte de sua mãe.

Com boca riste, eu:

Cale-se! A senhora matou a minha mãe. É cúmplice no assassinato de duzentas mil pessoas. Não converso com demônio. Tenho nojo e desprezo pela senhora. Não se aproxime de minha família. A senhora com os seus 17 ardam no inferno.

Ignoro a vizinha com a cara de espanto e pergunto às outras duas pessoas como suportam o fedor de enxofre.

 



_____

 

Este texto não é literário.

É um alerta claro e explícito do que estamos enfrentando.

 

Todo texto meu ofereço a algumas pessoas que gosto e que aniversariam na semana. Peço desculpas aos meus queridos aniversariantes, mas dessa vez não farei isso.

Estou de luto, não consigo comemorar. Apenas posso desejar força para enfrentar o que estamos sofrendo. A cada um: Vá e Vença!

 

 

Rubem Leite

Fevereiro de 2021.

Última imagem: “mamãe e minha irmã Fátima”, cuidadora de minha mãe durante o avanço do "alzáimi"; apenas sei autor que o autor é da família.

domingo, 14 de fevereiro de 2021

ANTÚRIO, A VIDA


A mãe amarga descarrega suas frustrações nos filhos.

O patrão que a assedia, as clientes grosseiras, o desejo de ter não atendido.

Para os filhos a falta de refeições, as palavras duras, os tapas, as pontas de cigarro quando eles estavão distraídos.

Um é João Antúrio. O primogênito de Crisântema. Ele tem um irmão um ano mais novo e os dois sofriam a mesma coisa. Nem João nem Manuel eram registrados e mãe sequer lembrava quando nasceram.

Vamos sair um momento do presente para voltarmos cinco anos atrás.

Quando tinha três anos, João passou uns meses na casa dos avós paternos. E uma tarde o Conselho Tutelar visitou a casa materna e viu apenas o pequeno Manoel Jacinto. Ele não falava, não andava, não sorria apesar de seus talvez dois anos além das dezesseis marcas de cigarro na pele.

Regina, a Conselheira Tutelar, sabia de um casal homoafetivo na fila de espera para adoção e contra a vontade recolheu o pequeno Manoel e por ordem judicial entregou ao casal.

Isso, para ela, foi um grande aprendizado. Constatou que dois meses após a criança morar com Eliezer e Diego, Manoel estava andando, falando suas primeiras palavras e sorrindo.

Foi nos meses que João esteve com os avós que o CMDCA foi analisar a situação da família. Por isso não foi salvo.

Com a mãe presa por maus tratos ao filho, os avós mantiveram a criança por muitos meses mais; até soltarem Crisântema. Tião e Tonha não suportando o neto: gastar dinheiro com comida, limpá-lo... O problema é da mãe; ela que se vire com o entulho. Devolveram-no. Mas já era tarde. O Conselho Tutelar não voltou mais lá.

Vamos sair do momento passado e voltarmos para o presente.

Numa noite, Crisântema deitou bem indisposta, talvez por estar tão bêbada. Não acordou no dia seguinte.

Ao perceber a morte da mãe; triste o menino chamou o Samu.

O CMDCA veio acionada pelo Samu, levou o menino que se manteve três anos em instituições até que pelo descaso dos funcionários o portão ficou aberto e ele foi pra rua. João continua falando pouco, sem idade e sem escola. Não recordava da mãe nem do irmão ou dos avós. Só existiam as ruas. 

Devo falar das comidas recolhidas das lixeiras, das vezes que fora escorraçado desse ou daquele lugar? Não, quem lê Rubem Leite tem cérebro funcional. Basta dizer: Para João os horrores da rua eram brincadeiras e a vida, antúrios. Não por diversão ou beleza e sim por ter aguentado tanto ao ponto de não poder comparar alegria com tristeza, beleza com feiura, dor com prazer.

Completou doze anos sem saber. Mas bem antes de seus quinze anos foi parar em uma sarjeta qualquer. Caiu na vala ainda com vida. Foi aí que se lembrou de seu último instante com a mãe: Ao perceber a morte da mãe; o menino chamou o Samu e enquanto aguardava desvirou o chinelo para que ninguém soubesse que fora ele... Sentiu culpa. E morreu.

 

 

Ofereço como presente aos aniversariantes:

Claudina Abrantes, Rodolfo Belo, Salatiel Lucas, Margô Inácio, Mª Silma C. Matos, Mª Fátima W.L. Macedo, Helena Couto, Helena L. Lopes, Gabriel Miguel, Maximiliano J. Benítez e Dinei Gonçalves.

 

Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO. É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”. Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).

Imagem – foto do autor:

 

Escrito no dia 08 de dezembro de 2020. Trabalhado entre os dias 03 a 13 de fevereiro de 2021.

domingo, 31 de janeiro de 2021

MOEDAS TILINTAM ALMAS

  

Tornei-me vovô na noite de 27 de janeiro de 2021; no dia do aniversário de minha sobrinha Thaís. Sou vovô do Kael por afeto. Os pais são Andrés e Erika. Creio que poucas crianças tiveram a graça de ter um pai e uma mãe tão bons. Estive durante todo o parto. Cortei o cordão umbilical, fui o primeiro a pegar o bebê e entreguei o esfomeadinho à mãe.

 

“Assim que as moedas tilintam no fundo da caixa,

a alma do fiel voa direto para o Paraíso”.

(Johann Tetzel, frade dominicano).

 


Adolescente mata por homofobia

O mesmo é morto a tiros.

Só agonizo:

O ódio é tão banal,

Tão fácil dizer “mata!”.

Um e outro ato é criminal.

Vida ninguém quer, não basta.

Pra que levantar pela manhã?

Ver sol, borboleta, florzinha...?

Gente é artimanha.

A sociedade é mexicana vilãzinha.

Mas ainda estou aqui.

Again, again pra quem

 

Como se sente com a exposição artística do Boçalnato? As roupas que ele e Micheque usaram durante a posse?

Emociona-te mais que os preços do combustível, da luz, água e comida no supermercado?

Ou te é mais satisfatório o descuido e descaso com o covid-19? Ou a retirada dos programas/tratamentos psiquiátricos do SUS?

Tudo pela direita boçalnariana.

 

Prezados cidadãos hepatingano,

Sobre o retorno das aulas em plena pandemia:

Se a criança tossir, morrerá o professor e os parentes da criança.

O único teste nas escolas será se ainda respiram.

Se adoecer, pode-se estar seguro que infectará todo mundo no transporte.

Atenciosamente,

Excelentíssimo Sr. Gugudadá Babyboso

Prefeito e Mudinha de Laranjeira.

 

 

Ofereço como presente aos aniversariantes:

Marcos Vaz, Aparecida Leite e Isaac Andrade.

 

Recomendo a leitura de:

“Esperança ou a falta dela”, de Caio Riter:

http://caioriter.blogspot.com/2021/01/esperanca-ou-falta-dela.html

“Golo falhado”, de António MR Martins:

http://poesia-avulsa.blogspot.com/2021/01/golo-falhado.html

 


Rubem Leite
é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO. É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”. Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).

Imagens: fotos do autor.

 

Escrito em 08 de dezembro de 2020. Trabalhado entre os dias 15 e 31 de janeiro de 2021.

domingo, 10 de janeiro de 2021

CAPACIDADE DE ESCOLHER e

LEVANTAR AS MÃOS PARA CIMA COM OFERENDA A DEUS²

 

PERIGO!

Este cronto é o primeiro de uma novena a pensar criticamente a Bíblia. Se isso te amedronta pare por aqui. Está avisade. Se continuar será por sua conta e risco. Não me responsabilizo pelo desconforto que sentirá, pois é difícil não ser misantropo quando se tem neurônios funcionais.

 

Deus disse: Estou entregando Seon, rei de Hesebon, e seu território a vocês. [...] Tomem posse de todas as suas cidades e as arrasem. Sacrifiquem cada homem, mulher e criança; sem deixar nenhum sobrevivente. Poupem somente o gado e saqueiem todas as casas antes de destruí-las.

(Deuteronômio 02, 30-35)³

 

En español, puntos esenciales:

- ¿Estamos en una comunidad, una sociedad, una ciudad? ¿O es un hormiguero? – Discursa el Joven Esperanzado. – No debemos vivir sofocados, enterrado como un nido de hormigas. Hay que actuar. No apenas reaccionar, pero actuar. Hay que luchar contra nuestros opresores.

En el templo executivo el Mantis Religiosa – título de honor de los líderes político-religiosos de cada ciudad – habla: El Señor Dios no entregó todos aquellos que eligieron oponerse al Unicanismo Planático – Iglesia Única de la Tierra Plana – y declaró “¡Hiéranles! Maten todos los hombres, mujeres y niños. Destruyan todos así como sus familias y amigos. No perdonen a nadie. Sus poses serán nuestros.”. Todo eso Dios nos los entregó y ordenó. A nosotros, Dios nada prohíbe, pero aquellos que Lo cuestionan les caben la aniquilación. Pues YO soy la voz y el cerebro de Dios y vosotros las armas del Señor.

¿Que hay en las ciudades de Latinoamérica? Una pequeña biblioteca tal vez. Un par de escuelas, si es una ciudad grande. Y docenas o centenas de iglesias. ¿Qué significa eso?

Mientras surge el sol amarillo coloriendo la tierra, la calzada, el asfalto un coche negro, igual a millones, para delante una puerta de una casita sencilla, de minúsculo jardín bien cuidado en el barrio Esperanza.

En el coche están tres hombres grandes y la líder, Juana Altvater, una mujer delgada. Todos leen la Biblia.

La puerta de la casa se abre y del coche salen los hombres. La Biblia en la mano izquierda y el arma en la derecha.

La sangre del pibe su une al amarillo solar creando un bello tono brilloso. Juana, como es su más grande placer, entra en la casa y mata a los niños; los tres matan el resto de la familia.

Un rato después de la tranquilidad aparentar en la casa del Joven Esperanzado todos salen de sus casas y pasan por el cadáver y por la casa maldiciéndoles por la blasfemia de desear la igualdad en la humanidad. Mientras eso iban al trabajo bajo la bendición divina.

La ciudad no dejara de ser hormiguero a devorar las cigarras.

 

Os comunistas – generalização de todos que pensam diferente; ou mesmo que simplesmente pensem. – incomodam a direita em seus templos:

- Isto onde estamos é uma comunidade, uma sociedade, uma cidade? Ou é um formigueiro?

Alguns pararam para ouvir o Jovem Esperançoso.

- É para vivermos sufocados, enterrados como um ninho de formigas? Temos que agir! Não apenas reagir, mas agir! Temos que lutar contra nossos opressores.

O número de ouvintes aumentou levemente; só um pouco.

- O Criador nos fez a todos para as bem-aventuranças. Não apenas para uns poucos o bem-estar.

Alguns se permitiram pensar nessas palavras. Teve até quem se unisse ao Jovem Esperançoso na união humana.

- Ouçam esse poema de Rubem Leite e as gravem em seus corações:

Eu queria ser uma pedra.

Nem digo ser uma pedra no meio do caminho;

Bastava ser uma pedra.

Só que nasci uma cigarra.

Não vou dizer que a cigarra canta;

O barulho que ela faz incomoda.

Eu sou uma cigarra...

Eu incomodo!

A polícia é formiga,

A sociedade, um formigueiro:

“Tem que agir desse jeito,

Tem que ser dessa forma”.

E aquele que descumpre a norma

É devorado pelas formigas.

Eu queria ser uma pedra

No meio do caminho,

Fora do caminho.

Ser uma pedra!

Mas sou uma cigarra que berra

Que berra, que berra e que berra.

Não sei se um dia vou ser devorado pelas formigas

Mas acontecendo ou não

Vou berrar.

Se eu conseguir escapar das formigas

Vou berrar até estourar

Como acontecem com muitas cigarras.

Mas eu vou berrar.

Eu sou uma cigarra

No templo executivo o Louva-Deus – título honorífico dado aos líderes político-religiosos de cada cidade – prega:

- O Senhor Deus nos entregou todos aqueles que escolheram se opor ao Unicanismo Planático – Igreja Única da Terra Plana – e declarou: “Firam-nos! Destruam, matem todos os homens, mulheres e crianças. Que não sobre nenhum desses que devem ser exterminados junto com suas famílias e amigos. Suas posses serão nossas”. Todos esses e tudo isso Deus nos entregou e ordenou. A nós, Deus nada proíbe, mas aqueles que O questionam lhes cabem a aniquilação. Pois EU sou a voz e o cérebro de Deus e vocês as armas do Senhor.

Em Ipatinga há duas bibliotecas a disposição do povo. Ainda não foram queimadas para iludirem ao mundo que em Minas Gerais se permite produzir ideias. Cada estado tem uma cidade além da capital com essas bibliotecas de fachada, mas todas as outras foram fechadas. Igrejas precisam de um lugar...

No Centro da cidade há doze igrejas. Dois bairros muito pequenos (Ferroviários e Das Águas) não têm igrejas, comércios ou escolas, mas vão aos bairros próximos. Outro bairro pequeno, o Novo Cruzeiro, possui quatro igrejas e uma escola infantil.

Todos os outros bairros têm de seis a vinte igrejas, nenhuma biblioteca e uma ou duas escolas. Cada escola tem o diretor para cuidar da administração e o pedagogo para fiscalizar os professores passando em tempos indeterminados pelas janelas das salas: Escola é lugar de ensinar. E é pra ensinar a verdade. Não para posicionar-se contra o governorreligioso.

Nos bairros nobres há ao menos quatro escolas. Em todos os demais bairros, enquanto sobejam igrejas bem cuidadas, a escola é precária e o salários dos professores é reduzido ano a ano. Quantos professores resistiram até o final da década?

Um carro preto, igual a milhões, parou diante de uma porta de uma casinha simples, de minúsculo jardim bem cuidado no bairro Esperança. Ao mesmo tempo em que o sol surgia amarelo colorindo a terra, a calçada, o asfalto.

No carro estão três homens grandes e a líder, Joana Altvater, uma mulher delgada. Todos leem a Bíblia.

A porta da casa se abre e em seguida o portão de acesso à rua.

Do carro sai o motorista com a Bíblia na mão esquerda e um .38 na direita; e atira no Jovem Esperançoso. Seu sangue se junta ao amarelo solar formando um belo tom brilhoso. Mais ninguém ver isso. Apenas saem do carro os outros três com suas Bíblias e armas. Entram na casa pisando no cadáver.

Joana, como é seu maior prazer, mata as crianças.

Os outros dois homens matam a avó, os pais e a esposa do rapaz.

Pegam algumas coisas que lhe agradaram e vão embora.

Tudo aconteceu sem pressa. Com calma e tranquilidade.

Os barulhos não fizeram nenhum vizinho procurar ver o que estava acontecendo. Ao contrário, o silêncio musicava a rua.

Você que está lendo crê que o ocorrido fora alguma novidade no bairro, na cidade, no estado ou no país?

O que digo é:

A cidade sequer deixou de ser formigueiro a devorar as cigarras. Minutos após o sossego aparentar na casa do Jovem Esperançoso todos saíram de casa e passavam pelo cadáver e pela casa amaldiçoando-os pela blasfêmia. Enquanto iam ao trabalho sob a bênção de Deus.

 

 

Recomendo a leitura de:

A Chave do Tamanho e Viagem ao Céu, ambos de Monteiro Lobato.

 

¹ Origem da palavra heresia: É uma palavra que vem do latim: haeresis, que, por sua vez, vem do grego: haíresis, significando CAPACIDADE DE ESCOLHER! Exatamente, heresia significa simplesmente capacidade de escolher! Mais tarde foi utilizada como tudo aquilo que se opunha e ainda se opõe a Igreja Católica. Hoje heresia é um relâmpago contra a ortodoxia, o fanatismo e o fundamentalismo, venham eles da religião, da política ou da sociedade. Herege é aquele que não perdeu a capacidade de escolher entre pedras e diamantes.

Fonte: https://www.dicionarioetimologico.com.br/heresia/

² Origem da palavra anátema: Em Latim, anathema significava inicialmente “dom, oferenda”. Origina-se no Grego anathema, de ana, “para cima” e tithenai, “colocar”. Tratava-se do gesto de elevar com as mãos, na frente do altar, algo devotado a um deus, como um perfume, uma flor, um cálice de vinho. Como muitas vezes a oferta era um animal a ser sacrificado, a palavra se distorceu e veio a assumir a conotação de “a ser exterminado, condenado, amaldiçoado”, como a Igreja Católica usa agora. Tanto é assim que, a partir de certa altura, ainda em Latim, passou a significar “excomunhão, reprovação, rechaço”.

Fonte: https://origemdapalavra.com.br/palavras/anatema/

³ Matança é o tema em Deuteronômio 02, 30-35. Matar em nome de Deus pode.

 

Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO.

É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes.

É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”.

Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”.

Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).

 

Escrito nos dias 05 e 06 de dezembro de 2020. Trabalhado entre os dias 05 e 10 de janeiro de 2021.

domingo, 3 de janeiro de 2021

NÃO APRENDI A VIVER

 

TENTAREI SOBREVIVER A 2021

 

I

 

Confie em mim

Muitos dizem

Não confie nele

Muitos dizem

Todos parecem saber tudo

 

Pareço um bobo

Talvez seja tolo

 

Confie só em mim

Muitos falam

Não confie nos outros

Muitos falam

Não sei quem é o bruto

 

Entre todas as vozes

A perdida é a minha

 

Sim a mim

Muitos sussurram

Não aos demais

Muitos sussurram

Quem escuto

 

Atrocidade da atroz cidade

Onde está minha voz

 

Olho-me pelo espelho

E o que vejo é a cidade

Não me quer gente, mas aparelho.

 

II

 

Qual mais louco

Artista ou professor?

Público ou estudante

Aproveitam sem dar-lhes valor.

 

Artista e professor

Suportam o frustrante

Que é ser valor

Sem ter valor

Na cidade desgastante.

 

III

 

Camila de Oliveira

Escapou de 2021,

E como ser astral

Nos ajudará a não cair

Mas a subir a ladeira.

 

IV

 

Um mundo se definindo

Amanhã talvez venha

Hoje talvez se detenha

Um ir e vir falso infindo.

 

 

Ofereço como presente aos aniversariantes:

Josué S. Brito, Raposinhabr Lavy e Jhenifon Ribeiro.

 

Recomendo a leitura de:

A antologia “Versos Ácidos do Vale do Aço”. Pode ser adquirido pelo watzap +5533998034325

 

Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO.

É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes.

É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”.

Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”.

Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).

Imagem: foto do autor.

 

Escrito em 26 de dezembro de 2020. Trabalhado entre os dias 28 de dezembro de 2020 e 03 de janeiro de 2021.