domingo, 30 de setembro de 2018

PROFISSÃO PROFESSOR MISSÃO



Cristo não ensina;
Para lecionar
Pede licença aos Apóstolos...
Os doze conversam.

Cristo não ensina;
Para lecionar
Pede “por favor” aos Discípulos...
Os setenta e dois brincam.

Cristo não ensina;
Não pode lecionar
Tem que pedir desculpas...
Todos lhe agridem, riem.


Recomendo a leitura de:
“Proteger a casa de todos os vindouros”, de António MR Martins:
“Setenta Anos Sem-Com Caio Fernando Abreu”, deste macróbio:

 Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve e publica neste seu blog literário aRTISTA aRTEIRO todo domingo e colabora no Ad Substantiam às quintas-feiras.  É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. E em breve também professor de História. É graduado em Letras-Português. É pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”; autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
Foto do autor – Fotógrafo Faire  2018.

Poema criado na manhã de 02 de fevereiro de 2018, enquanto meditava. Trabalhado entre os dias 29 de 30 de setembro do mesmo ano.

domingo, 23 de setembro de 2018

DOS NINGUÉNS VEM A REALIDADE


O ensino Não é “venda parcelada” de conhecimentos. Quem recebe aprendizagem precisa ter a postura mental de devoção ao estudo e cultivar o sentimento de respeito à pessoa que transmite o ensinamento.¹
¿De dónde vino esa historia llamada “realidad”? Ha venido de doña Olinda que no tiene fama para contarla.
Where did that story called “reality” come from? It came from Miss. Olinda, who has no fame to tell it.

Várias árvores – oiti, goiabeira, sibipiruna, ipê, pata-de-vaca – verdejam e floreiam o pátio da escola. À porta da sala as admira como se rezasse a pedir proteção e entra. Começa e continua a última aula enquanto muitos – quase todos – alunos buscam coisas no celular ou conversam entre si.
- O til é um sinal diacrítico...
- Que é isso, professor?
- É o nome dos sinais gráficos; ou seja, o nome dos sinais de acento e de outros sinais que, digamos, mudam o som de uma letra.
A sorrir pela aluna, o professor olha para a goiabeira no pátio, à frente da porta, antes de voltar ao assunto:
- Pois bem, Luma, o til é um sinal diacrítico que se coloca por cima de uma única vogal; indicando que ela deve ser lida nasalmente. Est...
- O que é “nasalmente”, professor?
- Nasal, Pedro, é pelo nariz. Pois bem, esta vogal pode ser “-a” ou “-o”. E o til nunca fica por cima das duas ao mesmo tempo e nem entre elas. Ou é por cima de uma ou de outra. Por exemplo – escreve no quadro:
“Cão, coração, corações, põe, mã...”.
- NÃÃÃÃÃÃO!
Grita uma aluna ao perder no jogo do celular. O professor suspira olhando pela janela um oiti e continua:
- Cedilha é outro sinal diacrítico. Hoje ele tem a forma de um pequeno “C” ao contrário e muita gente pensa que seu nome “cedilha” vem por causa da letra “C” onde ela é usada. Todavia, ela vem do espanhol “zetilla” que quer dizer “pequeña ‘zeta’.” Quer dizer, pequeno z.
- Por quê, professor?
- É que os bons escribas espanhóis faziam a parte superior da letra “Z” tão curvada, fazendo o resto parecer um penduricalho; ficou a cara de uma “”. Mas como eu dizia, “Ç” indica que o “-C” deve ser lido como o som de “-ss”: Criança, aliança, corações, açougue, açu, cupuaçu.
- Pode ser antes de qualquer vogal, professor?
- Não, Luma. – Falando para a turma: Viram pelos exemplos que somente antes das vogais “a, o, u” se usa o “Ç”?
- Sim! – Responderam ela e Pedro enquanto o resto continuava no celular ou conversando entre si. E o professor explica para os dois:
- Vejam bem! – Escreve no quadro:
Ca, ce, ci, co, cu.
- Quais são os sons dessas sílabas?
- ka, sse, ssi, ko, ku...
- Cu! Vai toma no cu! – “Brincam” dois alunos enquanto o resto ri.
- As vogais “-e, -i” já dão o som “ss”: cinco, cenoura, doce; então não precisam da cedilha. Já as demais vogais precisam. Para gravarem bem, quais vogais precisam acrescentar cedilha à letra “-C”?
- A, o, u!
- Exato, Pedro! Agora eu...
- Professor! – Um dos “brincalhões” me interrompe e pergunta:
- Fiquei de recorreco²?
Olhando a goiabeira pensa por alguns segundos e responde...
A aula termina, a manhã termina e o professor vai ao banco negociar a dívida criada porque o Estado não paga devidamente aos professores; profissão não prioritária segundo as palavras do Governador Pimentil.
Cansado de e por muitos alunos. Cansado pela negociação com o banco. Cansado pelos afazeres. Cansado pela sociedade desejosa de retrocessos sociais. Esgotado deita cedo e dorme.
E sonha.
Na calçada do outro lado da rua, mas em frente ao seu apartamento, uma goiabeirinha insiste em não morrer. Resiliente ela lhe diz: De onde veio essa história chamada de “realidade”? Veio de dona Olinda que não tem fama para contá-la.


Ofereço como presente aos aniversariantes Mário Jofest, Agustina Méndez Vargas e Gedeón Oliveira.

Recomendo a leitura de:
“Além das estrelas”, de Bispo Filho:
“La China Morena, de la Morenada del Carnaval de Oruro. Los gays y travestis”, de Javier Villanueva:
“Quanto mais palavras menos cérebro”, deste macróbio que vos fala:
“Longe de tudo”, de António MR Martins:

¹ TANIGUCHI, Masaharu. Princípio Básico da Felicidade. São Paulo: Seicho-No-Ie do Brasil, 2012. P. 54.
² “Recorreco” é um termo popular, comum em certas comunidades, para se referir a recuperação; uma maneira de ‘adquirir’ nota escola para poder avançar de ano estudantil.

 Revisão em espanhol e inglês: Julian Cabral.
 Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve e publica neste seu blog literário aRTISTA aRTEIRO todo domingo e colabora no Ad Substantiam às quintas-feiras.  É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. E em breve também professor de História. É graduado em Letras-Português. É pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”; autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
Imagens:
De los nadie viene la realidad (fotos da goiabeirinha) – pelo autor – Rua Uberaba, Centro de Ipatinga   23/9/2018.
Dinossauro Datilógrafo – Foto do autor – Fotógrafo ignorado. Piquenique Dramatizado, 2015.

Manuscrito na tarde de 18 de julho de 2017; trabalhado pela primeira vez em 22 de dezembro do mesmo ano e depois no ano de 2018 entre os dias 26 de fevereiro e 03 de março e por fim entre 21 e 23 de setembro.

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

ENERGUNISMO



Chuva pela Janela – Foto do autor.

A chuva dá piscadela
Ao professor
A olhar pela janela.
Nervoso, mas menos raivoso
Proclama ao aluno
“Energúmeno!”
Comentam tantos,
Nesta sociedade sem Minerva,
“Mau professor
Que se enerva”

Aulas passam
Há quem lhe pergunta
“Que é energúmeno?”

Questiona, não pesquisa

Aluna acessa internet
Busca informações
Que não formam
Mas
Não se atrai
Pelas informações
Que transformam

E o professor
Professa


Ofereço como presente aos aniversariantes:
Edna Neves, Wenderson Godoi, Paulo Antonio Matiombe e Erikis Sena.

Recomendo a leitura de:
“Deixei” e “A Árvore no Jardim de Prédios”, ambos de Glaussim (Carlos Glauss):
“Mato Não Mata”, deste macróbio que vos fala:
E o lançamento de “A Lua nos Olhos de Maria”, de Willian Delarte:

 Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve e publica neste seu blog literário aRTISTA aRTEIRO todo domingo e colabora no Ad Substantiam às quintas-feiras.  É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. E em breve também professor de História. É graduado em Letras-Português. É pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”; autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
Dinossauro Datilógrafo – Foto do autor – Fotógrafo ignorado. Piquenique Dramatizado, 2015.

Manuscrito em 21 de janeiro de 2018. Digitado em 24 de março e trabalhado entre os dias 14 e 17 de setembro do mesmo ano.

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

A VIDA E UMA PIADA



Em português:

Noite difícil para dormir. Um pouco de raiva calada; mas insuficiente para atrapalhar o sono. O cachorro que quer sair; o desaparecimento de um papel necessário para o mais cedo do dia seguinte; os vizinhos barulhentos fazendo comida até mais de meia noite.
Só percebo que dormi ao acordar e ver pela janela as promessas de sol. Levanto para fazer café, comprar pão, comer e, como encontrei o papel, sair.
Sento-me na calçada a espera do Ministério do Trabalho abrir suas portas. Mas ler João Cabral de Melo Neto é um bom diálogo com o próprio ser num mundo de ter comandado pelo “serestar”; é uma lástima isto não significar a transformação do substantivo “seresta” em verbo...
Pernas passam. Pernas nuas, pernas cobertas. Pernas sem rosto e com vozes sem dono ou sem conexão. Drummond se mistura a Melo Neto e:
... senti o susto  /  de tuas surpresas.  /  E é por isso  /  que quando a mim  /  alguém pergunta  /  tua profissão  /  não digo nunca  /  que es pintor  /  ou professor  /  (palavras pobres  /  que nada dizem  /  de tais surpresas);  /  respondo sempre:  /  - É inventor,  /  trabalha ao ar livre  /  de régua em punho,  /  janela aberta  /  sobre a manhã.¹
Abrem-se as portas, entro, sento e leio. O Mistério do Trabalho é isso mesmo. Agendamento para as sete é chamado depois do agendamento para sete e dez, sete e meia... E um cartaz com dois homens brancos triangulando com uma negra à frente; tudo sorriso e os dizeres: “Gente descente respeita o trabalho descente”.
- Benito Bardo Junior, requerente de Informações Abono Salarial.
Levanto-me declarando minha presença. Jacinto, o funcionário, analisa os dados na internet.
- Aqui consta que o senhor trabalhou desde fevereiro, mas não consta nenhum pagamento. Aponta que recebeu bem mais de três mil em março e bem menos de mil reais em abril. No resto do ano, quase dois salários mínimos. Os três meses irregulares estão atrapalhando o senhor a receber o PIS. Mas o problema maior está em março; indicando que recebeu mais de três salários... e por isso não pode recebê-lo.
- O que fazer?
- Ir à Prefeitura pedir para corrigir a RAIS. Com ele corrigido, em agosto estará regularizado e poderá receber. Mas se não pegar uma cópia para voltar no fim do mês só receberá a gosto de Deus...
Piada horrorosa; não a do Jacinto, mas a que fazem com o povo, esclareço. “Libertad a los problemáticos que la sociedad moderna creó.”. Dentro de mim ouço Julian Cabral me dizer. Sei que os problemáticos criados pela sociedade dito por ele se refere a outra coisa. Mas sinto que os principais problemas são criados pela sociedade.
Saio do escritório local do Ministério e al pisar na rua Diamantina sinto o calor do sol e um ventinho raro se misturando ao meu desamparo. O barulho do trânsito e o canto dos pássaros se casam com meus pensamentos. Em muitos sentidos o povo e eu nos cruzamos, cada qual em seu rumo.


En español:

LA VIDA ES UNA BROMA

Noche difícil para dormir. Un poco de rabia callada; pero insuficiente para estorbar el sueño. El perro que quiere salir; la desaparición de un papel necesario para el más temprano del día siguiente; el vecindario barullento haciendo comida hasta más de media noche.
Solamente percibo que dormí al despertar y ver por la ventana las promesas de sol. Me levanto para preparar el café, comprar pan, comer y, como he encontrado el papel, salir.
Me siento en la vereda a espera del Ministerio del Trabajo abrir sus puertas. Pero leer João Cabral de Melo Neto es un buen diálogo con el propio ser en un mundo de tener comandado por el “serestar”; esto es aún peor que uno seresere…
 Piernas pasan. Piernas desnudas, piernas cubiertas. Piernas sin rostro y con voces sin dueño o sin conexión. Drummond se mescla a Melo Neto y:
… sentí el susto  /  de tus sorpresas.  /  y es por eso  /  que cuando a mí  /  alguien pregunta  /  tu profesión  /  no digo nunca  /  que eres pintor  /  o profesor  /  (palabras pobres  /  que nada dicen  /  de tales sorpresas);  /  respondo siempre:  /  - Es inventor,  /  trabaja al aire libre  /  de regla en puño,  /  ventana abierta  /  sobre la mañana.¹
Se abren las puertas, entro, siento y leí. El Misterio del Trabajo es eso mismo. Agendamiento para las siete es llamado después del agendamiento para siete y diez, ocho menos diez… Y un cartel con dos hombres blancos y una negra triangulándose; todo sonrisa y las palabras: “Gente decente respeta el trabajo decente”.
- Benito Bardo Junior, demandante de Informaciones de Aguinaldo.
Me levanto declarando mi presencia. Jacinto, el funcionario, analiza los datos en la internet.
- Aquí consta que usted laboró desde febrero, pero no consta ningún pago. Apunta que recibió mucho más de tres mil en marzo y mucho menos de mil reales en abril. En el resto del año, casi dos salarios mínimos. Los tres meses irregulares le están obstaculizando recibir el aguinaldo. Pero, el problema más grande está en marzo; indicando que ha recibido más de tres salarios… y por eso no pudo recibirlo.
- ¿Qué debo hacer?
- Ve a la alcaldía a pedir para arreglar la información que ella envió al Ministerio del Trabajo en Brasilia. Después de arreglado podrás recibir en agosto. Sin embargo, si usted no volver al fin de este mes teniendo una copia de la información corregida solo recibirá al gusto de Dios…
Terrible broma; no la de Jacinto, sino la que hacen con el pueblo, aclaro. “Liberdade aos problemáticos que a sociedade moderna criou”. Dentro de mí oigo Julian Cabral decirme. Sé que los problemáticos creados por la sociedad dicho por él se refiere a otra cosa. Pero siento que los principales problemas son creados por la sociedad.
Salgo de la oficina local del Ministerio y al pisar en la calle Diamantina siento el calor del sol y una brisa poco común mezclándose a mi desamparo. El alboroto del tránsito y el canto de los pájaros se casan a mis pensamientos. En muchos sentidos el pueblo y yo nos cruzamos, cada cual a su rumbo.


Ofereço como presente aos aniversariantes Suzana Brito e Willian Delarte.

Recomendo a leitura de:
“Sina”, de Girvany de Morais:
“A Morte Há”, deste macróbio que vos fala:
“Andarilho”, de Glaussim (Carlos Glauss):

¹ MELO NETO, João Cabral de. A Vicente do Rego Monteiro. Poesia completa e Prosa. Antonio Carlos Secchin (org.). 2 ed. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2007. P. 57. Tradução livre ao espanhol pelo autor.

 Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve e publica neste seu blog literário aRTISTA aRTEIRO todo domingo e colabora no Ad Substantiam às quintas-feiras.  É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. E em breve também professor de História. É graduado em Letras-Português. É pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”; autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
Revisión en español: Julian Cabral.
Dinossauro Datilógrafo – Foto do autor – Fotógrafo ignorado. Piquenique Dramatizado, 2015.

Manuscrito na manhã de segunda feira, dia doze de março de 2018. Digitado em 23 de maio; trabalhado entre os dias 08 e 10 de setembro do mesmo ano.

domingo, 2 de setembro de 2018

CARÍCIA D’ÁGUA


CARICIA DEL AGUA


Em português:

Saindo do banho
Passa o rapaz
Sentindo-se assim,
Estranho,
Pulando
Com o pé capaz.
(O outro estava quebrado)
Sem camisa, peito tatuado
Gotas escorrendo pelo corpo agraciado
Calção azul, barato, rasgado
Algo dentro movendo, badalado.

Em sua cidade
Onde não possui terra
Possui amantes.

Porvir puro cotidiano
Lhe aterra.
Pelo mundo corre antes
Que a vida lhe faça fera
Com dinheiro ou carros
Mais relevantes
Que o homem na terra.


En español:

Saliendo del baño
Pasa el muchacho
Sintiéndose así,
Raro,
Brincando
Con el pie capaz
(El otro estaba debilitado)
Sin camisa, pecho tatuado
Gotas escurriendo por el cuerpo agraciado
Pantalón azul, barato, andrajo
Algo dentro moviendo, badajo.

En su ciudad
Donde no posee tierra
Posee amantes.

Porvenir puro cotidiano
Le aterra.
Por el mundo corre antes
Que la vida lo haga fiera
Con dinero o coches
Más relevantes
Que el hombre en la tierra.


Ofereço como presente de aniversário:
Cleverton Nunes, Didi Peres, Luiz Morais e Gustavo Henrique.

Recomendo a leitura:
“A Arte é Minha Arma”, deste macróbio que vos fala:
“Deixei” e “Desliga-me”, ambas de Carlos Glauss (Glaussim):

 Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve e publica neste seu blog literário aRTISTA aRTEIRO todo domingo e colabora no Ad Substantiam às quintas-feiras.  É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. E em breve também professor de História. É graduado em Letras-Português. É pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”; autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
Dinossauro Datilógrafo – Foto do autor – Fotógrafo ignorado. Piquenique Dramatizado, 2015.

Manuscrito em 23 de março de 2018. Digitado em 22 de maio; trabalhado nas duas línguas entre os dias 23 de agosto e 02 de setembro do mesmo ano.

domingo, 26 de agosto de 2018

IRONIAS NÃO SÃO FLORES



Em português:

Sexta-feira de linda noite de lua e nuvens. 

De sua varanda olhava as nuvens vestindo a noite. E ouviu sem saber de onde um uivo bonito, mas não percebeu, subindo a rua, como que dançando, a voz, o uivo. Fechou os olhos para sentir o vento suave e ver dentro de si a lua fora. Não percebeu a escalar a parede o dançarino uivante. Mas sentiu o abraço carinhoso, quente e forte. Deliciou-se com os arranhões em sua pele. Gozou com a mordida. No início da manhã de sábado acordou feliz. No meio da tarde sentiu dor ao descobrir a PEC 95 que põe em cheque A Declaração Universal dos Direitos Humanos ao congelar por duas décadas recursos na Educação, Saúde e diversas outras áreas. No fim da noite desceu a rua para uivar. Mas não só.
Domingo foi ao Feirarte e, entrando na ironia, a mentira comemora algo insólito. A humanidade é pela verdade. Saindo da ironia: Hoje é Páscoa. Ressurreição de Cristo. Depois de uma noite dolorosa Ele ressurge. Voltando à ironia: Loiro de olhos de raposa... Não! Dela saindo de novo: Não e não. Era de pele marrom, íris preta, laterais branca. Preto e branco: Um Galo!
Marley Tal canta e seu violão encanta. Não sabe os nomes das pessoas na guitarra, no baixo e no teclado; ignorá-los lhe incomoda, mas realmente desconhece.
Ele está consigo. Vontade de chorar no momento, distante. Vontade de não ter se levantado da cama; de não acordar antes.
Está consigo e lhe acompanham Paulo Freire, James Baldwin e João Cabral de Melo Neto. Eles lhe consolam. Seus filhos Poesia Completa e Prosa, Giovanni e Pedagogía del Oprimido brincam no Feirarte vazio. Jogo do GAAAAALOOO com rarrarrapozinha. Marley torce distorcido; Marcelo também, mas os drinques destes são bons e as músicas daquele também.
La humanización y la deshumanización son inconclusas. El hombre es algo mutable, nunca exacto. ¿Cuál es la vocación del hombre si no la humanización?
Freire lhe diz com outras palavras e ele se pergunta: humanizar quem?
- Fale de você!
- Como?
- Fale de si. Você só fala dos outros.
- Eu sou alguém? E sendo eu alguém, falando de outros falo de mim ou falo só dos outros?
- Não sei...
- Nem eu sei. Mas falo do ser humano. Sendo eu um ser humano... O que sou? De quem falo?
- Não sei.
Marley Tal canta: “O amor tem sabor para quem bebe a sua água”.
- Sua alma, ela é quente?
- O quê?
Uma cadela branca de médio porte anda buscando restos. Deu-lhe o que comer. Agora não a vê. Mas quantos restos há para pessoas? Por que não compartilhar? Sua ignorância é tanta que não consegue responder. Imagina, mas não sabe. Melo Neto diz: “Uma chuva fina   /   caiu na toalha   /   molhou as roupas   /   encheu os copos.   /   Esfriou os corações”. E ele se pergunta se é a chuva que nos deixou frios.
De sua mesa olha as pessoas comendo, bebendo, andando, trabalhando, indo ou saindo dos banheiros, falando... Falando, mas quem conversa? Dialoga consigo, com seus pares, com os livros? Com ansiedade espera as quatro semanas que faltam para uivar bonito. E seu uivo diz muito.


En español:

IRONÍAS NO SON FLORES


Viernes de linda noche de luna y nubes. 

De su balcón miraba las nubes vistiendo la noche. Y escuchó sin saber adónde un aullido bonito, pero no percibió, subiendo la calle, como que bailando, la voz, el aullido. Cerró los ojos para sentir el viento suave y ver dentro de sí la luna fuera. No percibió a escalar la pared el bailarín aullante. Pero, sintió el abrazo cariñoso, caliente y fuerte. Se deleitó con los rasguños en su piel. Gozó con la mordida. Al inicio da la mañana de sábado despertó feliz. Al medio de la tarde sintió dolor al descubrir la PEC 95 que pone en jaque La Declaración Universal de los Derechos Humanos al congelar por dos décadas recursos en la Educación, Salud y diversas otras áreas. Al fin de la noche bajó la calle para ulular. Sin embargo, no solo.
Domingo fue al Feirarte y, entrando en la ironía: la mentira conmemora algo insólito. La humanidad es por la verdad. Saliendo de la ironía: Hoy es Pascua. Resurrección de Cristo. Tras una noche dolorosa Él resurge. Volviendo a la ironía: Rubio de ojos de zorro. ¡No! De ella saliendo otra vez: ¡No y no! Era de piel marrón, iris negra, laterales blancos. Negro y blanco: ¡Un Gallo!
Marley Tal canta y su guitarra encanta. No sabe los nombres de las personas en las guitarras eléctricas, en el bajo y en el teclado; ignorarlos le incomoda, pero realmente desconoce.
Está consigo. Ganas de llorar en el momento, distante. Voluntad de no tenerse levantado de la cama; de no despertarse antes.
Está consigo y le acompañan Paulo Freire, James Baldwin y João Cabral de Melo Neto. Ellos le consuelan. Sus hijos Poesia Completa e Prosa, Giovanni y Pedagogía del Oprimido juegan en el Feirarte vacío. Partido del Gaaaaallooo con los zorritos-tos-tos. El aliento de Marley es macilento; el de Marcelo también, pero los aperitivos de esto son buenos y la música de aquél igual.
A humanização e a desumanização são inconclusas. O homem é algo mutável, nunca exato. Qual é a vocação do homem se não a humanização?
 Freire le dijo con otras palabras y se pregunta: ¿humanizar quién?
- ¡Habla de ti!
- ¿Qué?
- Habla de ti. Sólo hablas de los otros.
- ¿Soy alguien? Y siendo yo alguien, ¿hablando de los otros hablo de mí o hablo solamente de los otros?
- No sé…
- Yo tampoco. Pero hablo del ser humano. Siendo yo un ser humano… ¿Qué soy? ¿De quién hablo?
- No lo sé.
Marley Tal canta: “El amor tiene sabor para quien bebe su agua”.
- Su alma, ¿ella es caliente?
- ¿Qué?
Una perra blanca de medio porte anda buscando restos. Le dio. Ahora no la ve. Pero, ¿cuantos restos hay para las personas? ¿Por qué no compartir? Su ignorancia es tanta que no sabe responder. Imagina, pero no sabe. Melo Neto dijo: “Una lluvia fina   / cayó en la toalla   /   mojó las ropas   /   llenó los vasos.   /   Resfrió los corazones”. Y se pregunta si es la lluvia que nos ha dejado fríos.
De su mesa mira las personas comiendo, bebiendo, andando, trabajando, yendo o saliendo de los baños, hablando… Hablando, ¿pero quién conversa? ¿Dialoga consigo, con sus pares, con los libros? Con ansiedad espera las cuatro semanas que faltan para ulular bonito. Y su aullido dice mucho.


Ofereço como presente aos aniversariantes:
Ronal Faria, Federico RazaPerro y con retraso (perdón): Carlos Glauss.

Recomendo a leitura de:
“Lula: ‘sebastianismo’ ou ‘fato-maldito’ do Brasil burguês?”, de Javier Villanueva:
“SOS”, de Girvany de Morais:
“Contra si”, de Carlos Glauss (Glaussim):

Revisión gramatical en español: Julian Cabral.

 Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve e publica neste seu blog literário aRTISTA aRTEIRO todo domingo e colabora no Ad Substantiam às quintas-feiras.  É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. E em breve também professor de História. É graduado em Letras-Português. É pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”; autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
Imagens:
Vestido da Noite (Vestido de la Noche) – Fotos do autor.
Dinossauro Datilógrafo – Fotógrafo ignorado. Piquenique Dramatizado, 2015.

Manuscrito no domingo de 01 de abril de 2018. Digitado em 22 de maio; trabalhado nas duas línguas entre os dias 24 e 26 de agosto do mesmo ano.

domingo, 19 de agosto de 2018

QUAL AMARGO É SALUTAR





Em português:

- Oi! U sinhô pode me dá um dinheiro pr’eu almuçá?
Não olha nem vê a quem pede e talvez por isso não responde.
- Oi! Assinhora pode me dá um dinheiro pr’eu almuçá?
Esta diz não sem olhar e com maus modos.
Em Ipatinga não me recordo de crianças pedindo comida ou dinheiro. Pelo menos não no Centro, bairros arredores e menos ainda nos nobres. E esta pedinte já tem ao menos trinta anos.
- Oi! Ussinhô pode me dá um dinheiro pr’eu almuçá?
- Não. Mas se quiser, pago seu almoço.
Pensa um momento. É melhor aceitar ou recusar o dinheiro não recebido para a pedra? Este desfecho deixo para sua imaginação.

- O senhor pode me dá um real? Quero tomar um café...
Quase nove da manhã uma jovem de menos de vinte anos, acho, pede. Ele dá uma moeda e ela dá...
- O senhor pode me dá um real?
Dia atrás de outro, hora sim, duas ou três horas não ela aborda os homens que passam perto do extenso mangueiral entre o Centro e o Novo Cruzeiro. Eles dão uma moeda e ela dá...
- O senhor pode me dá um real?
Olha seus bolsos e encontra quase noventa centavos. Entrega e continua seu percurso. Minutos depois volta e:
- O senhor não vai querer?
Só aí, depois de olhar alguns segundos para a garota, percebe que este era o valor a ela dado; por ela ou por outros. Agradece, mas diz não.
- Ai! Agora se faz de santinho... – Há quem o julga assim. Sobre isso só digo uma coisa: Não digo nada.

Perto da noite em uma rua, um casal bate palmas num portão.
- A senhora pode dá comida pra nóis?
- Não! – A porta da cozinha de fecha.
Meio dia em outra rua, o casal bate palmas num portão.
- A senhora pode dá comida pra nóis?
- Não! – A porta da cozinha se fecha e a da sala não se abre.
Não sei se é verdade, mas dizem que de onde pouco sai pouco entra. A realidade, porém, afirma: quem assim crê o faz apenar para receber, para ter. Se é fato, não sei; mas é o que mais se vê.
Perto da noite em outra rua, o casal bate palmas no portão.
- O senhor pode dá comida pra nóis?
Fechar a porta, eis a resposta da casa de portas e janelas trancadas.
Em outro bairro o sol já está perto, mas a noite ainda não se corou. Um sujeito abre a porta da cozinha de seu apartamento e se surpreende com as flores de seu pezinho de boldo. Depois abre o portão e vê o casal usuário de pedra em situação de rua abraçado na calçada do outro lado da rua.
- O senhor pode dar comida para ela? Comida, não pão e café. É que tem dois dias que não se alimenta direito e o bebê... – a barriga dela está proeminente e a dele ronca – pelo menos isso a gente quer dar a ele.
Não há dúvida. Volta e esquenta a comida para os dois.
Depois faz o que há que se fazer.
  


Na volta, diante do motelzinho:
- Vámu namorá?
É a cantilena mais comum da rua Sabará.
- Não, obrigado!
- Ussinhô num é chegádu?
Sorrindo se afasta pensando em flores e comparando o amargo do boldo com o amargo das pessoas.


En español:

CUÁL AMARGO ES SALUDABLE


- ¿Usted puede medá una platita para yo comer?
No mira ni ve a quien lo pide y tal vez por esto no contesta.
- ¿Usted puede medá una platita para yo comer?
Esa dijo “no” sin mirarla y sin cortesía.
En Ipatinga no me recuerdo de niños pidiendo comida o dinero. Al menos en el Centro, ni en los barrios alrededores y aún menos en los nobles. Y esta limosnera ya tiene al menos treinta años.
- ¿Usted puede me da una platita para yo comer?
- No. Pero si quieres, pago el almuerzo.
Piensa un momento. ¿Es mejor aceptar o recusar el dinero no recibido para la piedra? Esta conclusión dejo para su imaginación.

- ¿Usted puede me da una moneda? Quiero desayunarme…
Casi nueve de la mañana una joven de menos de veinte años, pienso, pide. Él saca una moneda de su bolsillo, le da y ella da…
- ¿Usted puede me da una moneda?
Día tras otro, hora sí, dos o tres horas no ella aborda a los hombres que pasan cerca de la extensa plantación de pies de mango entre el Centro y el Novo Cruzeiro. Elles sacan una moneda, le dan y ella da…
- ¿Usted puede me da una moneda?
Busca en su bolsillo y la encuentra. Entrega y continúa su camino. Minutos después vuelve y:
- ¿Usted no quiere?
Solamente ahí, después de mirarla un par de segundos, percibe que este era el valor a ella dado; por ella o por otros. Agradece, pero dice no.
- ¡Ay, caray! Ahora se hace de santo… – Hay quien lo juega así. Sobre eso solo digo una cosa: No digo nada.

Cerca de la noche en una calle, una pareja llama en una puerta.
- ¿Usted puede dar comida para ella y yo? – Habla con acento extranjero.
- ¡No! – Ella contesta mientras la porta de la cocina se cierra.
Medio día en otra calle, la pareja llama en una puerta.
- ¿Usted puede dar comida para nosotros?
- ¡No! – La mujer responde mientras la puerta de la cocina se cierra y de la sala no se abre.
No sé si es verdad, pero dicen que de donde poco sale poco entra. Sin embargo, la realidad, afirma: el tipo que así cree lo hace solamente para recibir, para tener. Si es un hecho no lo sé, pero es lo que más se ve.
Cerca de la noche en otra calle, la pareja llama en una puerta.
- ¿Usted puede dar comida para ella y yo?
El hombre cierra la puerta, esta es la respuesta de la bella casa de puertas y ventanas cerradas.
En otro barrio el sol ya está cerca, pero la noche aún no se sonrojó. Un tipo abre la puerta de la cocina de su apartamentito y se sorprende con la flor del boldo. Después abre la puerta de la calle y ve la extranjera pareja adicta de piedra en situación callera abrazada en la vereda del otro lado de la calle.
- ¿Usted puede dar comida para ella? Comida, no pan y café. Es que hay dos días que no nos alimentamos adecuadamente, pero el nene… – la barrica de ella está bien visible y a de él ronca – Al menos eso queremos dar a él.
No hay duda. Vuelve y calienta la comida para los dos.
Después hace lo que hay que hacer.
  


Al volver, delante del hotel de profesionales del sexo:
- ¿Vamos “noviar” un rato?
Es la cantilena más común de la calle Sabará.
- No, ¡gracias!
- ¿No te gustas?
Sonriendo se aleja silenciosamente pensando en flores y comparando el amargo del boldo con el amargo de las personas.


Ofereço como presente às aniversariantes Marilda Lyra e Marcia Regina.

Recomendo a leitura de:
“Eleição 2018: Plano de Governo de Alckimn, Mais do Mesmo”, de Josué S. Brito:
“Que Queremos Desses Caras?”, de Glaussim (Carlos Glauss):

Al leer la publicación abajo, de Gonzalo Schnieper, me puso a pensar y durante la semana escribí el cuento arriba. Primero en portugués y después lo trabajé en las dos lenguas. Él la publicó en su pared de fb al fin de la mañana de 12 de agosto de 2018:
¿Os habéis preguntado alguna vez cuánto tarda una vida humana en desaparecer? Lo que tardan el resto de conciencias en olvidarla.  /  Somos una sociedad que se miente a sí misma a través de un reflejo inverosímil en la ficción norteamericana. Así, vemos en las películas a "hombres hechos a sí mismos" saliendo adelante con el mero impulso de su voluntad. Y tendemos a pensar, probablemente para aliviar nuestra laxa conciencia, que aquel que duerme en ese cajero "pudo haber elegido". Y no entendemos que nuestra vida no es una película, que solo pende de un desvencijado balancín fabricado con suerte y apoyos que se puede venir abajo en cualquier momento.  /  Volviendo a la alienación mediática, nos alegra ver comedias de situación en las que todos los vecinos de un edificio forman una comunidad en la que prima el apoyo y la amistad. ¿Cómo se llaman tus vecinos? Cada núcleo familiar es una célula de egoísmo cerrado al mundo. Quédate fuera por cualquier circunstancia y es como el juego de la silla. Verás a todo tu entorno sentadito, encontrando acomodo, y tú de pie, mirando como bobo.  /  Alejándonos de ese núcleo familiar desinteresadamente protector (también interesado, pero en otra dimensión en la que no voy a entrar -supervivencia del propio grupo-), el aglutinante de esta sociedad es el interés. En el momento en que te sientas débil por atravesar un mal momento, el interés de los demás hacia ti desaparece. Sin apoyos, sin contactos, sin resultar interesante, no hay un equilibrio cósmico que te brinde lo que necesites, que te empuje, que te anime, que te valore. Te hundes, y lo mejor que puede pasarte es que pierdas la razón y deambules enajenado por la calle, o de pueblo en pueblo. Pero en la mayoría de los casos no se pierde la cordura, se mantienen la consciencia y la inteligencia intactas. Simplemente te vas hundiendo y hundiendo, y sientes una mezcla de culpa y vergüenza que te impide mirar al resto de viandantes a los ojos. Y total, el resto de viandantes tampoco te miran, has acabado desapareciendo, aunque creías que esto a ti no te iba a ocurrir, porque eres muy trabajador, pura voluntad, un todoterreno, con estudios, con idiomas, hasta tenías cierto don de gentes. Pero llegó un golpe de mala suerte, todas las puertas se cerraron, y lo imposible acabó ocurriendo. Eres el hombre invisible, perteneces a la casta de los intocables, no te catalogan en ningún colectivo vulnerable, no tienes renta mínima de inserción, no tienes nada, no eres nada. Has desaparecido.

 Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve e publica neste seu blog literário aRTISTA aRTEIRO todo domingo e colabora no Ad Substantiam às quintas-feiras.  É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. E em breve também professor de História. É graduado em Letras-Português. É pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”; autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).
Imagem:
“Indiferencia”, de Javi Matoses.
Flor e Amargo – Foto do autor.
Dinossauro Datilógrafo – Foto do autor – Fotógrafo ignorado. Piquenique Dramatizado, 2015.

Escrito entre os dias 13 e 19 de agosto de 2018.