À sombra no meu quarto
Vê-se no
Telhado ao sol do vizinho
Belo chuvisco de prata
Gruda-se no chão
Que fará no pulmão
Não se pode estancar a cidade
Não se pode trancar as igrejas
Não se pode parar a siderúrgica
Pode-se proibir o Parque Ipanema
- Pecado de não gerar lucro -
E os lentos R$600,00 para os pobres
Não se pode fechar loja
Não se precisa abrir livraria
Bibliotecas?!?
Há que viajar o vírus
Há que acolher-nos a morte
Há que circular a economia.
_____
Ofereço como presente de aniversário a Maxi Cabral.
_____
Rubem Leite - 26/4/20
PERCEPÇÕES E CONCEPÇÕES DE UM ARTEIRO ARTISTA E DE UM ARTISTA CIDADÃO.
domingo, 26 de abril de 2020
domingo, 19 de abril de 2020
O MONSTRO E A MOCINHA
Era um final de tarde. Pelas ruas da cidade, a mocinha, dessas dos
filmes dos anos sessenta, setenta. Com seus cabelos loiros compridos.
As luxuosas roupas recatadas. A mocinha corria pelas ruas gritando:
- Socorro, socorro. Help me. Salvem-me.
E atrás dela: monstros. Dezenas, centenas, milhares.
- Grrr. Raurrr. – Movendo suas terríveis garras assustadoras.
E ela correndo com seus cabelos loiros ao vento. Passando pelas ruas
com prédios de quatro, seis, dez andares; um ao lado do outro.
Poucas árvores nas ruas. E ela gritando:
- Socorro, socorro. Help me. Salvem-me.
E correndo, correndo, correndo com seus cabelos loiros ao vento nas
ruas desertas e os monstros atrás com suas mandíbulas escancaradas:
- Grrr. Raurrr.
E ela: “Aiiiiiiiiii. Aiiiiiiiiiiiiiiiiiii.”. – Correndo,
correndo, correndo, correndo, correndo, correndo. Passando pelas ruas
pedindo socorro. Mas ninguém a ajuda. Todos estavam dentro de seus
apartamentos morrendo de medo, preocupados, protegendo-se. E ela
gritando:
- Socorro, socoooooorro. Help me. Salvem-me.
E correndo, correndo. E os monstros atrás:
- Grrrr. Raurrrrrr.
Finalmente ela chega a sua rua. Rua com mansões. Só mansões. E ela
gritando e os monstros atrás e ela correndo.
Na hora que ela chega na frente da casa onde morava começa a bater
na porta: “Socooorro. Deixa-me entraaaaaar.”. Na sacada do
terceiro andar chega uma pessoa. De roupão negro, olhos negros,
cabelos negros úmidos pelo delicioso banho quente que acabara de
tomar.
De cima olha para a mocinha na rua.
Embaixo, a mocinha vê sua empregada e lhe grita:
- Socorro. Abre a porta. Deixa-me entrar.
Essa pessoa, com um suave riso maligno:
- Sabe aquele papel em branco que assinou? Pois bem. Você passou
para mim toda a sua riqueza. Todos os seus bens. Todas as suas
propriedades. Tudo! Esta mansão agora é minha. Meu bem.
E os monstros se aproximam.
- Mas… Mas somos amigas. – Sem entender nem o sorriso e nem o
brilho dos olhos da ex-empregada, continua: Deixa-me entrar.
Salve-me. Heeelp me.
E os monstros se aproximam cada vez mais.
Com o seu negro roupão felpudo naquele frio fim de tarde segura um
xícara de chocolate quente. No agora seu quarto lhe espera a taça
de champagne. E a nova proprietária com seus cabelos negros úmidos
de prazer, digo, de delicioso banho diz:
- Tá achando o quê? Coronavírus é brincadeira para estar na rua?
Eu lhe disse: Não vote no Boçalnato… Moro não é herói… Fique
em casa!
Enquanto isso, os monstros covid-19 agarram a mocinha e ela:
“Aaaaaaii”.
- Tome esse vidro de cloroquina. – E rindo lhe joga o frasco.
A mocinha, feliz com o remédio receitado pelo Mito, toma o
comprimido. Seus olhos escurecem, seu fígado deixa de funcionar, seu
coração sofre uma parada.
Facilitado pela cloroquina o covid-19 devora a ex-mocinha de filme
hollywoodiano.
Em seu roupão negro e sorrindo docemente no alto da sacada a jovem
pergunta a você, sim a você que está lendo este cronto:
- Tem-se mantido em quarentena?
-
- Quer um pouco de cloroquina? Tenho mais.
-
- Tenho uma folha em branco… Assine-a, por favor, meu bem.
É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes.
É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias
do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”,
“Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura
e Literatura”.
Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso
Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo –
Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é
Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração
do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”.
Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga
MG (representando a Literatura).
Imagem do autor pelo autor.
Criado no final de tarde de 09 de abril de 2020. Trabalhado entre os
dias 13 e 19 do mesmo mês e ano.
domingo, 12 de abril de 2020
MANTENDE-VOS EM SILÊNCIO
ou PANDEMIA DE IMBECIS
- You believe in God?
- Yes, I believe.
- I doubt it, you speak ill of
religions.
- Religion
and God are not the same.
Not everything needs to be
said,
not all advice is blessed.
Em Português:
O peso dobrado do corpo magro. A lentidão nos movimentos. Passos
cansad… não, desanimados. Nas folhas das árvores tremulando ao
vento há mais vigor.
Pensa no Naná Pedregulho: Ipatinga vende o povo à Morte. Prefeito
autoriza: partindo de oito de abril o comércio na cidade abriu de
dez às dezesseis horas. Mas isso não reduzirá o número de
pessoas. Ao contrário, as fará aglomerar-se. Promete no primeiro
Domingo da Páscoa um evento no Parque Ipanema.
Assim, a Ressurreição de Cristo é a morte dos cristãos.
Nas folhas das árvores tremulando ao vento há mais vigor.
Para onde olha só vê nuvens brancas num espaço azul encardido. O
sol lhe queima por inteiro.
- Afrodildo!
Olha quem lhe interrompe.
- Você tem dildo afro ou é dildo da Afrodite?
Ainda olha e decide não escutar. No lugar disso pensa na mãe e a vê
lavando roupas em um tanque enquanto cantava. Não eram músicas
desleixadas ou sem propósito. Eram cantigas moldadas no sofrimento.
A cada esfregada nas roupas… uma lágrima de labuta.
Há que voltar a casa, mas sonha ver-se tremular como as folhas. Mas
os sonhos morrem. Ele tem o que fazer. Para quê? Apenas tem o que
fazer. Pois aprendera com a mãe: pequenas vitórias em uma vida de
grandes derrotas.
Levanta-se da grama, sorri com os lábios, só com os lábios e
volta. O vento lhe afaga, mas ele não é folha.
- Afrodildo!
Rosto impassível, olhar desinteressado.
- Você crê em Deus?
Rosto impassível e olhar desinteressado, pensa se responde ou não.
- Sim, acredito.
- Mas você vive falando mal das religiões, critica elas o tempo
todo.
- Não, quem não gosta de religião é o autor. Sou apenas
personagem desta história. E suas palavras é um dos motivos dele
antipatizar-se pelas religiões. As pessoas não sabem distinguir
Deus de religiões.
- Não acredito em você…
- Naturalmente. Joguei-te na cara teus preconceitos e ignorâncias.
Por outro lado, estou acostumado com os mais jovens crendo-se mais
sabidos que os mais velhos.
Ainda de pé na grama, sorriu com os lábios, só com os lábios, e
volta. O vento lhe afaga, mas ele, apesar de não ser folha, vai-se
embora com o vento.
- Afrodildo!
Já sem muita paciência para outra vez, mas sem olhar para trás.
- Você disse que sou ignorante e mau. Mas pelo que vi no Caralivro é
você que não quer a reabertura do comércio em Ipatinga. As contas
não param só por causa do coronavírus.
- A história mundial sempre mostra que a solidariedade é algo
praticamente inexistente. A maioria absoluta dos que se creem
solidários apenas o são em dados momentos. Espero que um dia seja
diferente, mas não o será nos próximos séculos, pois o ser humano
é lento para evoluir.
- E você se acha evoluído.
Ignora o comentário e continua:
- Minha casa é frequentada por jovens. Eles, assim como o senhor,
usam muito a palavra “evoluir” – eu também a usei bastante
quando mais novo –, mas não sabem como isso acontece, apenas se
vêm aperfeiçoando sem se darem conta que isso é em determinado
momento ou situação; não no cotidiano. Não é uma crítica aos
jovens de hoje, pois foi assim comigo.
- Então… Então é só ninguém ir lá comprar.
- O problema é que a ignorância é a essência do povo. É tão
mais fácil ser gado.
- Você nos ofende o tempo todo. Por isso ninguém gosta do que você
escreve.
- Se digo a um intelectual ou sábio que ele é burro e imbecil estou
ofendendo. Se digo a um ignorante que ele é isso, um ignorante, o
sujeito se sente ofendido apesar de ser verdade. E quem está falando
aqui não sou eu, já disse. É o autor quem escreve. Mas se não
gostam, paciência. Se não gostam é porque a verdade é feia; feia
como a ofensa e a ofensa é feia e má. Mas ao contrário desta a
verdade não é má. A verdade é a verdade; só isso.
- Me dá um conselho.
Ainda de costas: Nem tudo precisa ser dito. Nem todo conselho é
bendito. – Após isso se mantém em silêncio enquanto sai.
As folhas de árvores molhadas de chuva brilham com o pouco sol do
momento.
En español:
MANTENEOS EN SILENCIO
o PANDEMIA DE IMBÉCILES
El peso doblado del cuerpo
flaco. La lentitud en los movimientos. Pasos cansad… no,
desanimados. En las hojas de los árboles temblando al viento hay más
vigor.
Piensa en Naná Pedregullo:
Ipatinga vende el pueblo a la Muerte. Alcalde autoriza: el comercio
de la ciudad puede abrir de diez a cuatro de la tarde. Pero eso no
reduzirá el número de personas. Al revés, las hará aglomerarse.
Promete en el primer Domingo de Pascua una festividad en el Parque
Ipanema.
Así, la Resurrección de
Cristo es la muerte de los cristianos.
En las hojas de los árboles
temblando al viento hay más vigor.
Adonde mira solamente ve nubes
blancas en un espacio azul mugriento. El sol lo quema por intero.
- ¡Afroverga!
Mira quien lo interrumpe.
- ¿Tenés
verga afro o es la verga de Afrodite?
Todavía lo mira y decide no
lo escuchar. Sin embargo piensa en la madre y la ve lavando ropas en
fregadero mientras cantaba. No eran músicas descuidadas o sin
propósito. Eran canciones moldadas en el sufrimiento. A casa
refregada en las ropas… una lágrima de lucha.
Hay que volver a casa mientras
sueña temblarse como las hojas. Pero los sueños se mueren. Él
tiene mucho que hacer. ¿Para
qué? Solo tiene lo que hacer. Eso
porque aprendiera con la madre: pequeñas vitorias en una vida de
grandes derrotas.
Se
llevanta de la hierba. Sonreí con los labios, solo con los labios, y
vuelve. El viento le acaricia, pero él no es hoja.
-
¡Afroverga!
Rostro
impasible, mirada desinteresada.
-
¿Creés en Dios?
Rostro
impasible y mirada desinteresada, piensa si contesta o no.
-
¡Sí, creo!
-
Pero vos estás simpre hablando mal de las religiones, la critica el
tiempo todo.
-
¡No! A quien no le
gustan las religiones es al autor. Solo soy personaje de esta
historia. Y sus palabras son uno de los motivos de él antipatizarse
por las religiones. El pueblo no sabe distinguir Dios de religiones.
-
No lo creo…
-
Es natural. Eché en tu cara tus prejuicios e ignorancias. Y tambíen
estoy acostumbrado con los más jóvenes creyéndose más sabidos que
los mayores.
Todavía
de pie en la hierba, sonrió con los labios, solo con los labios, y
vuelve. El viento le acaricia, pero él, a pesar de no ser hoja, sale
con el viento.
-
¡Afroverga!
Ya
sin mucha paciencia deja otra vez de caminar, pero sin mirar atrás.
-
Decís que soy ignorante y malo. Pero he visto en el Caralibro que vos no
quiere la abertura del comercio en la ciudad. Las cuentas no paran
solo por causa del coronavirus.
-
La historia mundial siempre muestra que la solidarieda es algo
practicamente inexistente. La
mayoría absoluta de los que cren solidarios solo lo son en ciertos
momentos. Espero
que un día no seas más así. Sin embargo eso no será en los
próximos siglos, pues el ser humano es lento para evolucionarse.
-
Y vos se creés evolucionado.
Ignora
el comentario y continúa:
-
Mi casa es frecuentada por jóvenes. Ellos, así como usted, usan
mucho la palabra “evolución” – también la usé bastate cuando
pibe –. pero no saben como eso ocurre. Solo se ven
aperfeccionándose sin percibieren que eso es en deteminado momento o
situación; no en lo cotidiano. No es una crítica a los chavales de
hoy, pues fue así conmigo.
-
Entonces… Entonces es solo nadie salir de compras.
-
El problema es
que la ignorancia es la esencia del pueblo. Es tan más fácil ser
ganado.
-
Vos nos ofendés rato tras rato. Por eso a nadie le gusta tu escrita.
-
Se digo a un intelectual o sabio que él es imbecil estoy
ofendiendole. Se digo a un ignorante que él es eso, un ignorante, el
tipo se siente ofendido a pesar de ser verdad. Y en esta charla quien
habla no soy yo, ya lo dije. Es el autor quien escribe. Pero se no
les gusta, paciencia. Si no les gusta es porque la verdad es fea; fea
como la ofensa y la ofensa es fea y mala. Pero al revés de esta la
verdad no es mala. La verdad es la verdad; solamente eso.
-
Me da un consejo.
De
espaldas todavía: Ni todo necesita ser dicho. Ni todo consejo es
bendecido. – Tras eso se mantiene en silencio mientras sale.
Las
hojas de los árboles mojadas de lluvia brillan con el débil sol del
momento.
Ofereço como presente aos aniversariantes:
Sérgio Campos e Renato Napoleão.
Recomendo a leitura de:
“A Peste. 2024. Parte 7”, de Javier Villanueva:
“A Certeza de Sermos Menos que Pouco”, de António MR Martins:
O pensamento de Afrodildo em relação à mãe são palavras que
Rômulo Gomes me passou através do fb na manhã de 07/4/20.
É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes.
É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias
do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”,
“Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura
e Literatura”.
Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso
Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo –
Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é
Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração
do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”.
Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga
MG (representando a Literatura).
Imagem do autor pelo autor.
Manuscrito em 17/9/19. Trabalhado entre os dias 24 de março e 12 de
abril de 2020.
domingo, 5 de abril de 2020
AQUELE QUE É LIVRE PARA ELEGER
Olhando o passado se compreende o presente e se vê o futuro. Mas
isso é tão raro… O que fazemos? Olhamos o céu e falamos do clima sem se
preocupar com o tempo.
El impacto económico es el paso principal para instaurar una
dictadura.
The economic impact is the main step to establish a dictatorship.
- O coronavírus está matando algumas pessoas, mas devemos pensar é
na crise econômica que isso está provocando. – Diz o aumentativo
de Elena – Igrejas fechando, empresários tendo que pagar salário
aos doentes, shoppings sem clientes. Como o país pode sobreviver sem
a circulação financeira? Povo morrendo? Logo nascem mais crianças.
Mas bancos fechados, lojas sem vendas, religiões sem dízimo… Como
recompor?
No dia seguinte o trabalhador se levanta mais cedo, banha-se, toma
café puro sem nada comer. Vai a igreja e de lá para a empresa
trabalhar. “Há que o ouvir o presidente”, pensa e sorri.
No nos gusta sermos violentos. Pero ¿como
(re-)accionamos cuando ella es contra nosotros?
We don't like to be violent. But how do we (re-)act when it is
against us?
Por toda a semana o trabalhador se levanta mais cedo, banha-se, toma
café puro sem nada comer. Vai a igreja e de lá para a empresa
trabalhar meio período para receber no fim do mês metade do
salário. “O patrão cuida da gente”, pensa e sorri.
El pilar predominante del Bozalnato es la religión. Su
público-objetivo es el ignorante.
The predominant pillar of the Borndonkey* is religion. Your target
audience is the ignorant.
- O povo é essencialmente comodista – diz um sindicalista – e
quer um messias ou um mártir para conduzi-lo.
“Agir é cansativo; pior, é perigoso. Quero um mestre para
orientar-me.”, pensa o povo. Ou não pensa…
- O mal vence o bem porque os bons esperam timidamente alguém que
combata por eles.
“A questão é: quem irá por nós? Eu é que não quero morrer.
Tenho pouco, mas sobrevivo.”, mantém-se calado. Olha para os lados
e se vê observado. Apressadamente caminha para a portaria antes que
lhe cortem mais o pagamento ou lhe façam pior.
El oponente tiene más poder de violencia y para enfrentarlo la
violencia es ineficaz. El oponente es más poderoso. La conformidad
es la cara de la paz.
The opponent has more power of violence and to face it the violence
is ineffective. The opponent is more potent. Compliance is the face
of peace.
Todo o mês se passou. Por acaso o povo e o sindicalista se
encontraram num bar. Entre um gole e outro de cerveja falaram o que
não os interessava. O sindicalista apenas esperava o povo
encorajar-se. E assim foi entre a segunda e terceira garrafa:
- Na eleição deveriam fazer igual agora. Não sair ninguém de casa
pra votar. Sair só pra botar fogo na prefeitura; destruir tudo.
- Se o povo não votar, o voto do dono da empresa vai ser computado e
o mal candidato ganhará. Além disso, voto branco ou nulo passam a
pertencer a quem está ganhando. Isso porque pressupõem-se: ‘para
quem anulou ou votou em branco tanto faz quem ganha; assim o voto
dele vai para quem está na frente’. E destruir as coisas é
burrice. Vão gastar o dinheiro de algo essencial para a reconstrução
do prédio e de tudo que foi destruído.
- Que isso, sindicalista. Não diga bobagens.
- Tudo que velho diz é bobagem para os novos. Estes estão sempre
certos… Foi assim para mim, é assim para você e será assim no
futuro. “O homem e s q u e c e r á sempre. Esquecerá o que
ensinei aos seus precursores. Esquecerá de colher a boa lição da
experiência nova.”¹.
Ofereço como presente aos aniversariantes:
Carlos Passos, Nívea Paula, Bella Ramalho e Oli Mesquita.
Recomendo a leitura de:
“A Peste. 2024. Parte 6”, de Javier Villanueva:
“Esperança no Novo Dia”, de António MR Martins:
* Borndonkey é como traduzi para o inglês Boçalnato, o nome que
dou ao presidente do Brasil. O nome em inglês poderia ser traduzido
para nascido burro ou burro nato.
¹ LOBATO, Monteiro. Era no paraíso. O Macaco que se Fez Homem.
2. ed. São Paulo: 2010. P. 25.
Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo
domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO.
É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes.
É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias
do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”,
“Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura
e Literatura”.
Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso
Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo –
Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é
Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração
do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”.
Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga
MG (representando a Literatura).
Imagens:
Herege, recolhido da internet.
Autor, acervo pessoal.
Manuscrito no dia 07 de junho de 2019. Trabalhado entre os dias 23 de
março e 05 de abril de 2020.
domingo, 29 de março de 2020
IDADE MÉDIA AINDA É HOJE
Aos que a felicidade é Sol
Virá a noite
Mas ao que nada espera
Tudo o que vem é grato.
[Ricardo Reis (Fernando
Pessoa)]
Não fecharemos os templos
Faremos culto
Comprem álcool ungido
Sigam os pastores
Rezem no dia de São José
Façam o terço
Ponham uma cruz na porta da casa
Repitam a prece do Papa
E coronavírus não entrará na sua casa
E o covit 19 não vos afetará
Estudar História é importante.
A religião não mudou com a peste negra.
Não mudou com a gripe espanhola.
Não mudou com nenhuma catástrofe.
Não mudou com o nazismo.
A igreja não muda. Continuará sempre a usurpar e a deturpar.
É preciso coragem para aprender com a História.
É preciso coragem para não ser (mais) enganado.
Ofereço como presente aos aniversariantes:
João F. Alcino e Antônio Pirralho.
Recomendo a leitura de:
“O Vírus da Esperança”, de Wil Delarte:
“Tempos de Reclusão”, de Caio Riter:
É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes.
É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias
do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”,
“Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura
e Literatura”.
Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso
Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo –
Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é
Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração
do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”.
Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga
MG (representando a Literatura).
Foto do autor pelo próprio autor.
Escrito
e trabalhado entre os dias 19 e 29 de março de 2020.
domingo, 22 de março de 2020
UM VÍRUS TEU NÃO FOGE A LUTA
UM
VÍRUS TEU NÃO FOGE A LUTA
(exceto
se este for o presidente)
El
Brasil tiene un virus caminante como gobernante.
Brazil
has a walking virus as its rule.
Seis
e cinquenta e cinco da manhã e o suor já nos fede. Não na sala dos
professores porque estes estão livres das coisas mundanas e a prova
disso é o alto salário dos educadores e o prestígio social que
dispõem. O décimo terceiro em dia. Rerrê.
Uma
dupla conversa aqui; outra ali e de um dos diversos grupos, dando-me
um susto, surge do nada:
-
MU MUU, MUUUUUUUU. MUU MUUUUUU, MU. MUUUUUUUUUUUUU. MU MU MUMU MU
MUUU, MUUUUU MU, MU, MUU. MU MU MUMUMU MU MUUUU, MU. MUMU,
MUUUUUUUUUUUUUUUUUUUU.
-
O que ela está dizendo?
-
Não sei. Vamos ouvir pelo ‘go o gle’ tradutor:
Votei
no Boçalnato sim. Lula estava preso. Se foi preso é porque é
criminoso. Vergonha é votar em presidiário. Votei no Boçalnato e
votarei nele outra vez. Pelo menos enquanto ele estiver solto. Se for
preso saberei que ele é bandido, mas se está solto é porque é
honesto; diferente do Lularápio.
-
Professor tem a obrigação de ser a elite intelectual do município.
Sim, tem. – Entro na conversa. – Pois deve preparar os demais
para serem cidadão. Contudo, uma grande parcela só sabia e continua
ignorantemente a dizer “Petêêê; Mamadeira de pi##ca; Lulinha
Friboi; Lula mal; Boçalnato bonzinho; etc.” e votou no Zemagogo e
no ‘aumentativo de Elena’ e com isso destruiu Minas e o país.
-
Não devemos nos por em campos diferentes. – Intervém uma colega.
– Estamos todos do mesmo lado.
-
A senhora quer “paz e amor”? A gente está batalhando para
corrigir a desgraça que esses imbecis criaram. Não os amo; sequer
os respeito como profissionais. Não estamos do mesmo lado não. Eles
que lutem no canto deles para limpar a ca###ça que fizeram para não
nos atrapalhar mais que já atrapalharam.
-
Os políticos adversário podem até se abraçar, mas jamais estarão
no mesmo palanque. – Acrescenta Ana Glaicy Souza. – Já nós,
professores, precisamos compreender que os políticos passam e nós
prevalecemos, porque somos concursados na ativa ou aposentados.
Precisamos de políticas públicas que qualifiquem desde os
profissionais até os investimentos estruturais. Embora pareça papo
de socialista, na verdade é assunto de especialistas em políticas
públicas. E é essa ideia que todo candidato deveria agregar no seu
plano de gestão ou legislatura e praticá-la quando eleito.
-
Professores! – Interrompe o diretor. – No início da tarde de
ontem havia trinta e cinco possíveis casos de coronavírus. Ao fim
dela passou para cinquenta*. A Secretaria Municipal de Educação
mandou um circular a todas as escolas dizendo que até segunda ordem
hoje é o último de aula. Dediquem a primeira aula para explicarem
bens aos alunos que não são férias antecipadas. Eu mesmo irei de
sala em sala explicar o que está acontecendo.
-
O FZema quer que estudantes das escolas estaduais vão uma vez por
semana à escola buscar material de estudo para na semana seguinte
devolver respondido e buscar novos materiais de estudo. E assim
evitar o contágio.
-
E como os alunos irão à escola sem ter contato com ninguém?
-
Mistérios das caraminholas do governador.
As
aulas transcorreram naturalmente e em casa recebo visitas. Não
devia, mas...
-
¡Buenos días, profe! ¿Cómo está?
-
Estou bem e você?
-
Mi marido y yo estamos preocupados por eso del coronavirus. El
presidente de acá no toma medidas.
-
A situação brasileira é como foi na Itália quando lá começou o
perigo. O povo pensava que apenas um viruzinho: “não é nada
demais. Não é nada perigoso e vou sair de férias”. Itália está
na situação terrível que está hoje por esse motivo. Contudo, lá
tem uma vantagem. Tem um governo enquanto o Brasil tem apenas um
vírus caminhante como governante, mas governo mesmo… Estamos mal.
-
Es horrible todo eso porque las medidas de prevención dejan de tener
sentido porque hay pocos que cobijan¹ estas medidas y muchos que se
toman vacaciones¹.
-
Tudo isso está acontecendo na Itália porque trataram com a mesma
leviandade que o Brasil está a tratar a situação. E nosso caso é
pior porque não temos um bom e capacitado governo.
-
Espero realmente que eso sirva de ejemplo para Brasil. Y que el
pueblo comprenda el peligro.
-
Lamentavelmente a quarentena é para quem pode ficar em casa. Os
trabalhadores mais pobres têm que ir. Operários não podem adoecer.
-
En Latinoamérica ocurre el mismo. Quien tiene buena vida se queda en
casa. Pero los pobres que se mueran. El capitalismo es injusto. Solo
los pobres pierden.
-
No Brasil tem o ditado “a corda sempre arrebenta pelo lado mais
fraco”. As duas primeiras pessoas a morrerem aqui foram um porteiro
e uma empregada doméstica e ambos contraíram o covit 19 de seus
patrões. E mais, a patroa da doméstica sabia que estava com
coronavírus, tratou-se, mas não disse nada a empregada.
-
¡Qué injusto, profe! ¡Qué cruel! Y estos hipócritas siguen
diciendo sus plegarías².
-
O Presidente disse: “Vai morrer gente?!? Vai! Mas temos que
proteger a economia; não podemos fechar igrejas, shoppings,
empresas”.
-
Primero las iglesias como mantenedora económica… Pero, ¿qué
lees, profe?
-
“Estado, monstro de maxilas leoninas, por meio da qual a minoria
astuta parasitará a maioria estúpida”. Disse Monteiro Lobato no
conto O Macaco que se fez homem.
Ofereço
como presente aos aniversariantes:
Ana
L. Pena, Manoela S. Bicalho, Diony Stefano e o grande Girvany de
Morais.
Recomendo
a leitura de:
“O
Macaco Que se Fez Homem”, de Monteiro Lobato. Pela editora Globo
pode ser adquirido através do sítio www.globolivros.com.br
“Rude
Peleja”, de António MR Martins:
http://poesia-avulsa.blogspot.com/2020/03/rude-peleja.html
*
Timóteo, Minas Gerais. 21 de março de 2020. Dados da PMT.
¹
Cobijar é amparar, receber ou acolher alguém ou algo. Vacaciones é
férias.
²
Plegarías é prece, orações.
Rubem
Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu
blog literário: aRTISTA aRTEIRO.
É
professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes.
É
graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do
Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”,
“Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura
e Literatura”.
Autor
dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em
Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura
Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”,
“Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista”
e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”.
Foi,
por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG
(representando a Literatura).
Imagens:
CÉLLUS.
https://www.facebook.com/DesopilandoOFigado/photos/a.725994847456214/2834993593222985/?type=3&theater
SCHRÖDER.
https://www.facebook.com/DesopilandoOFigado/photos/a.725994847456214/2833829480006063/?type=3&theater
Do
autor pelo autor.
Escrito
entre os dias 18 e 22 de março de 2020.
Marcadores:
política e sociedade,
Suplemento literário
domingo, 15 de março de 2020
DEUS ENVIOU CRISTO, O DIABO ENVIOU OS CRISTÃOS
A
tarde talvez fosse tranquila se meu corpo não fosse problemático.
Mas ele não é fácil.
-
Benito, desculpe dizer o que vou falar… Até me sinto sem graça…
Mas tenho que dizer. Você tem cheiro forte e tem gente fazendo
piada.
Fora
agradecer pelo aviso não soube o que dizer. Falta de banho não é.
Será sua psique a causa do forte odor?
Em
casa vejo o Caralivro e fico a
rolar a tela.
Era
uma vez um pobre e inocente coronavírus que, por não pensar
direito, votou, digo invadiu o Boçalnato e lá dentro nada
encontrou. Tamanho era o vazio interior.
-
Alô! – Gritou e ecoou: ou, ou, ou.
-
Tem alguém aí? – Aí, aí, aí.
Assustado
deu mais um passo e da beira do abissal abismo que estava caiu no
buraco negro e foi parar em outra dimensão.
Enquanto
isso, nesta dimensão:
-
Estou infectado. – Disse o presidente.
-
Não estou infectado – Desdisse o presidente.
Ainda
no Caralivro há
quem
divulga foto de trabalhador informal como se sua miséria fosse
dádiva divina.
-
Você
está de brincadeira? – Digo ao fotógrafo. – Alguém ser
obrigado a trabalhar sem nenhuma segurança, sem vínculo
empregatício nem
garantia e você elogia? Duas coisas se vê em quem elogia o trabalho
informal: frequenta muito igreja e por isso perde a empatia. A outra
coisa que se vê é que votou no Boçalnato.
-
Tudo provém de Deus, meu amigo Benito. Mu.
-
Isso é o que pastores dizem para justificar a miséria: “é a
vontade de Deus”. E pelo visto você comprou essa ideia; o que te
faz compactuar-se com a desgraça alheia. Trabalho informal não é a
vontade de Deus. Dignidade sim. E qual é a dignidade em sofrer
horrores para receber uma miséria?
-
Tudo é a vontade de Deus. Muu.
-
Sai da igreja porque está te afastando de Deus. Veja bem, você está
comemorando a miséria daquele homem como se fosse bonito não ter
dignidade. Realmente você só pode ter votado no Boçalnato e no
FZema.
-
Jamais
deixarei Cristo, meu grande amigo Benito. Muuu.
-
Nunca disse para deixá-lO. Veja como a frequência a igreja acaba
com a empatia e acaba igualmente com a capacidade de percepção,
interpretação, compreensão. Falei para sair da igreja e você
entendeu Cristo. Colocaram na sua cabeça que o importante é ela, a
religião. Ao ponto de você não distinguir Ele dela e de confundir
os dois.
-
Sem
igreja não vai a Cristo. Muuuu.
-
Foi a igreja que te fez acreditar que a indignidade é bonita e
louvável. A repetir, com certeza, “petêêê; Lula mal; tripleeex;
Lulinha Friboi etc.” assim como a escolher para presidente alguém
que ama prisão e tortura. Esquecendo que votar em alguém assim é
abandonar a Cristo, mesmo que não pare de falar no Nome dEle, pois
Jesus foi preso e torturado. Em outras palavras, ao votar no
Boçalnato você declarou aprovar o sofrimento de Jesus. A antegozar
a agonia dEle.
-
Muuuuu.
Acho
melhor pegar um livro, mas antes:
-
Estamos ao vivo entrevistando o coronavírus. Após sua viagem
psicodélica o que o senhor tem a dizer em relação ao Boçalnato?
-
O EleNão é tão vazio que a gente não conseguia se situar.
Pensávamos estar na veia, mas como o capitão não tem sangue a
gente saiu junto com as fezes.
-
Então o presidente se curou no banheiro?!?
-
Não, não. A gente saiu enquanto ele falava.
A
repórter sorrindo bovinamente para a câmera:
-
Aqui é Patty Faria, do Jornal do SbsTeira.
Ofereço como presente aos aniversariantes:
Camila Vaz, Jeferson Adriano, André Amorim, Maria Cloenes, Juli
Ariel e Alexia Silva.
Recomendo a leitura de:
“Imperfeição Humana” e “Quarentena na praia”, de António
MR Martins:
Rubem
Leite
é
escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog
literário: aRTISTA aRTEIRO.
É
professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes.
É
graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do
Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”,
“Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura
e Literatura”.
Autor
dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em
Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura
Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”,
“Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista”
e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”.
Foi,
por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG
(representando a Literatura).
Imagens:
Imagem do
coronavírus enforcando-se
foi tirada do fb;
Foto do autor pelo autor.
Escrito
nos dias 10 a 15 de março
de 2020.
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