domingo, 25 de julho de 2021

SANHA DOS SONHOS

  

Sentado, olho para cima a admirar o ipê rosa e o céu azul pálido. Comigo estão meus pensamento e sentimentos; tristes e agourados. Estão também O Picapau Amarelo, de Monteiro Lobato mais A Língua de Eulália, de Marcos Bagno para me consolarem e fortalecerem.

Esteve na Praça Primeiro de Maio (Ipatinga) uma barraca para alistar apoiadores para Boçalnato. Uma musiquinha rezava “os comunistas vão fugir, esconder”. Não me passa pela cabeça como alguém possa querer destruir tanto que alguém precise fugir, esconder-se...

Sei que essa é a prática.

É como define Nietzsche (ou como escreverei doravante: Nite) “Ser forte é ser mau. Ser bom é ser fraco”. Partindo do que ainda mais falou Nite no seu livro O Anticristo compreendo: o “deus” no judaísmo, cristianismo e islamismo teve três involuções.

Primeiro era um deus forte e invadiu Canãa e exterminou toda a população. Toda! Homens e mulheres: crianças, jovens, adultos e idosos. Era um deus mal, portanto, forte. Quando o Catolicismo tinha poder usava de violência como bem nos mostra a “santa inquisição” mais a sua ação na América Latina e o protestantismo na América do Norte; como mostra o cristianismo na África, Ásia, Oceania.

Depois tornou-se um Deus praticante do bem e do mal: “Para que se saiba, até ao nascente do sol e até ao poente, que além de mim não há outro; eu sou o Senhor, e não há outro. Eu formo a luz e crio as trevas; faço a paz e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas as coisas” (Isaías 45, 06-07). Tornou-se um deus “que rouba, mas faz”, um deus político.

Em sua terceira fase tornou-se apenas bom e o demônio passou a ser algo efetivo: o mau fazedor do mal. Deus tornou-se fraco. Justifica-se que deus permite o diabo para deixar a humanidade livre para escolher o lado que preferir. A verdade, porém, é que ele não teria força de decisão.

As religiões, para justificar sua existência, precisou promover a cisão entre o bem (fraco deus) e o mal (forte diabo). E a força para propagandear é dizer que um deus bom é o que tem de melhor.

Eu não discutiria se isso fosse a verdade: Deus bom é forte e o ideal. A verdade é, diz Nite e quem mais for pensante, que o homem é mau e pratica o mal. Criou as religiões para dar a doce ilusão de um bom futuro no céu se aceitar viver baixo a maldade alheia, pois essa é a garantia de um cantinho no Paraíso.

Dizer “o homem criou as religiões” é dizer “a humanidade criou Deus”? Não discutirei isso; por hora. Discuto as justificativas humanas para o mal; como:

Preto não tem alma. Para não irem pro inferno devem ser escravos aqui e, quando morrerem, os bons pretos merecerão ser escravos no Céu.” Mas se não têm alma, como irão pro inferno? Essa é a ignorância cristã. Não tem lógica, mas tem ganância.

Os “livros sagrados” gritam não pode homem com homem, mas se calam mulher com mulher não pode. Isso porque sexualidade feminina não se considera... O amor entre homens é vedado, mas a prática masculina do incesto, da pedofilia, do estupro, da guerra, da violência e da escravidão são aceitáveis. Por quê? A lógica é procriar mais guerreiros e produzir mais operários sem se importar com quais meios.

Já tive vontade, muita vontade de dar aula de religião:

- Alunes! Nas igrejas vocês encontrarão Satanás. Cuidado ao passarem na frente de uma; é a porta do inferno. Sabe essas cantorias e discursos que se ouvem nas igrejas? São os gemidos de agonia dos torturados no inferno e os palavrões dos demônios. 

Levanto-me e após alguns passos admiro o ipê rosa, outras árvores, a estrada, o céu azul pálido com o sol a pôr-se e os postes apagados. Tenho o que escrever para produzir pensamentos. Tenho que ensinar para promover pensamentos.

- Iguais aos seus?

Perguntaram-me, perguntam-me e hão de perguntar-me.

- Produzir pensamentos e reflexões; não cópias de minhas ideias que não sou de igreja. Produzir pensamentos e reflexões; eis a sanha de meus sonhos.

 

 

Ofereço como presente aos aniversariantes:

Emilci R. Martins e Silvia M. Coronel.

 

Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO. É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”. Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).

Imagens – fotos do autor.

 

Sem anotação de quando comecei a escrever, mas encerrado em 25 de julho de 2021.

domingo, 18 de julho de 2021

CORAÇÕES

Retrato dos corações:

  

PERIGO!

Este cronto é o último de uma novena a pensar criticamente a Bíblia. Se isso te amedronta pare por aqui. Está avisade. Se continuar será por sua conta e risco. Não me responsabilizo pelo desconforto que sentirá, pois é difícil não ser misantropo quando se tem neurônios funcionais.


Se o marido provar que não se casara com uma virgem, levará a jovem até a porta da casa de seu pai e os homens da cidade a apedrejarão até que morra.

(Deuteronômio 22, 20-21)¹

 

 

Dona Júlia é dona de casa. Estudou até o final do ensino médio e quatro anos depois casou-se com Jorge, de trinta e um anos na ocasião. Agora, aos trinta, tem oito anos de casada.

Está a maquiar-se com atenção redobrada no olho esquerdo. Pelo espelho vê a filha sentada na cama:

- Anjinho! – A mãe fala para a menina de cinco anos. – Fecha as pernas porque moça educada não senta de pernas abertas. Isso, querida. Agora fica quietinha enquanto a mamãe pega o lacinho cor de rosa para minha borboletinha.

- Marquinhos! Comporte-se! Ai, não. Você já sujou a camisa! Meninos são tão irrequietos...

- Mamãe! – Diz a filha, Carolina. – Quero a camisa do Pawer Ranger...

- Não, amor. Não é para você.

- Mas Marquinhos usa!?!

- Isso é roupa de menino. Menininhas usam roupas da Barbie.

Rapidinho terminaram de aprontar-se e saíram para a festinha.

- Mamãe, quero fazer xixi.

- Vai ali, atrás da árvore, Marquinhos.

- Também quero fazer xixi, mamãe.

- Espere um instante querida. Em cinco minutos chegamos na casa de Mariana e lá você poderá fazer xixi.

- Mas o Marquinhos pode...

- Marquinhos é menino.

A festa foi divertida. Os meninos correndo uns atrás do outro, derrubando-se uns aos outros no chão e como era uma casa ainda subiram nas árvores. As meninas correram um pouco, mas disseram as mães, isso não é comportamento de mocinhas e foram para a varanda brincarem de bonecas.

O aniversário de quinze anos de Carolina foi muito bonito. Muitas amigas, muitos rapazes, os amigos dos pais.

Já sei que não será estranho o que virá a seguir.

Para burlar a vigilância dos pais de Carolina, Renato subornou Marcos para não contar que ela beberia pela primeira vez e, claro, às escondidas.

Ao fim da festa Carolina voltou para a casa com o namorado, rapaz cinco anos mais velho e de boa família. E todo mundo sabe qual é o verdadeiro sinônimo de boa família...

No carro disse para a garota deixar a janela aberta que o verdadeiro presente seria uma surpresa que ele daria quando estivessem a sós no quarto de Carolina.

Um belo quarto rosado, com ursinhos, bonecas... Uma frescura.

Na porta da pequena mansão, Renato abriu a porta do carro para Carolina descer e Marcos – sem saber dos planos do... digamos cunhado – ajudou rindo a irmã entrar em casa para os pais não virem que estava bêbada.

No quarto, trancou a porta, abriu a janela, tirou a roupa e deitou para dormir. Ela nem pensava no que viria depois. Embriagada, não entendia que aquela noite não mais seria virgem.

O jovem cidadão de bem pulou o muro, brincou com os cachorros, foi à janela da Carolina, entrou, deu um pouco mais de bebida para a namoradinha que se resguardava pelo medo culturado pela família. Sem camisinha fez o que quis e foi embora.

Nove meses depois nasceu Ana.

Mas antes:

No primeiro mês Renato foi perdendo o interesse pela assustada Carolina: Sexo fora do casamento? Puta!

No terceiro mês ele terminou com a apavorada Carolina.

No quinto mês não tinha mais como esconder a barriga de sua família. Na mesma semana Renato foi para Estados Unidos. Por que será?

O pai comprou um apartamento de dois quartos em outra cidade, bem longe. Para a Vergonha parir e cuidar da criança sem ficar expondo a cria para todo mundo.

Dona Júlia mandava uma mesada para a Vergonha e sua cria não passarem necessidade... Amorosa! Assim se sentia quando ajoelhava para rezar.

Sem ingressar na faculdade, apesar de terminar o ensino médio, Carolina tornou-se vendedora de uma loja. E com a mesada completando o seu salário foi sobrevivendo.

Aninha estava sempre limpa, com boa alimentação, bons materiais escolares na escola pública.

Ana é o nome sem sobrenome paterno e é assim chamada na escola e na vizinhança. Nunca viu nenhum dos avós nem tios.

Em casa, cada fim de mês, quando chegam a mesada e o salário, Carolina paga as contas, faz as compras para o mês, guarda um pouco, quase nada, para isso ou aquilo que venham necessitar, compra alguma bebida e mais ou menos na metade da garrafa muda o nome da filha para Castigo e nos dias seguintes ninguém via os roxos em suas costas.

Ana fez quinze anos com uma festinha sem baile. Também deixou de ser virgem naquela noite. Após uns tapas na cara terminou a gestação e na casa passaram a morar Carolina, Ana e Luiza.

Thiago, sendo pobre, não teve como fugir e pagava a pensão estipulada pela justiça e só via filha contra a vontade.

Dona Júlia, Carolina, Ana e Luiza não foram assassinadas, não morreram, mas estão vivas?

 

 

¹ Violência contra a mulher é o ensinamento de Deuteronômio 22, 20-29.

 

Ofereço como presente aos aniversariantes:

Alex Pontes e Sarah Lombello.

 

Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO. É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”. Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).

Imagens – fotos do autor.

 

Escrito entre os dias 05 de maio e 18 de julho de 2021.

domingo, 11 de julho de 2021

PLANETA SILENCIOSO

 

Nove e meia da manhã a escola liberou a saída dos alunos e dos professores para o recreio. O sol estava com a quentura típica de quase meio de julho; um calor que queima sem aquecer. Desconfortável a céu aberto e frio à sombra.

Quase todos já tinham comido e estavam brincando. E todos embarulhando a maior parte da escola. Exceto quatro alunos; três do nono ano e um do sétimo.

Um deles é um vívido planeta com dois satélites a sair de sua órbita e indo ao encontro de um planeta silencioso.

- Deixe o monstro dormir. Não o acorde.

Riram.

- Você não me vê? Não me enxerga?

- Não!

- Então não precisa de olhos... 

- Como uma criança conseguiu machucar tanto assim?

À voz ríspida outra – baixa como um cochicho – responde:

- Todo mundo tem um monstro dormindo dentro de si. Ele acordou. Mas voltou a dormir. – Pausa. – Espero que nunca mais alguém o acorde outra vez. – Pausa. – Agora estou leve.

 

 

En español:

PLANETA SILENCIOSO

 

Nueve y media de la mañana, la escuela autorizo la salida de alumnos y maestros para el recreo. El sol estaba ardiendo, típico de casi mitad de julio; un calor que quema sin calentar. Inconfortable al cielo abierto y frío a la sombra.

Casi todos ya habian comido y estaban jugueteando. La mayoria alborotando casi todos los rincones de la escuela. Excepto cuatro pibes; tres de quince años y uno de trece.

Uno de ellos es un vívido planeta con dos satélites a salir de su órbita y llendo al encuentro de un planeta silencioso.

- Dejen el monstruo dormir. No lo despierten.

Rieron.

- ¡Vos no mirás! ¿No me ves?

- ¡No!

- Entonces no necesitas de ojos… 

- ¿Cómo un chico puede lastimar tanto?

La otra voz ríspida  – baja como un susurro – contesta:

- Todos llevan un monstruo dormido dentro de sí. El mío despertó. Pero volvió a dormir. – Pausa. – Espero que nunca más alguien lo despierte otra vez. – Pausa. – Ahora estoy liviano.

 

 

Ofereço como presente aos aniversariantes:

Cida Lima, Solange Maria, Paulo G.C. Pimenta e Pablo Figueroa.

 

Recomendo a leitura de:

“O Picapau Amarelo”, de Monteiro Lobato. Editora Autêntica.

 

Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO. É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”. Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).

Andres Garcia é revisor em espanhol. Natural da Colômbia e estudou até o quinto semestre de Licenciatura en Filosofia.

Imagens:

Desenho do monstro pelo autor; feito em 10-7-21;

Do autor pelo autor.

 

Escrito na tarde de 23 de maio de 2021 e trabalhado entre os dias 10 e 11 de julho do mesmo ano.

domingo, 4 de julho de 2021

O CASULO

  

Visita II

Dona Brabuleta inda qui maloprigunte, com tanto pé de couve no mundo, causa de quê todo dia visita o meu? E põe ovos minuscrinhos, bunitinhos, que viram lagartas devoradoras? HUMPF! Não lhe dou tais intimidades, vê se me erra! ARA!

Porque “apousas” no meu pé de couve brabuleta infeliz? Vou te dar um cascudo, bem no nariz!

O que digo, me ouve. O mundo é tão grande, voa por aí e põe seus ovinhos tão amarelinhos bem longe daqui...

(Nena de Castro)¹.

 

Em português:

 

- Ah, dona Neníssima de Castríssimo! Nem te conto. – Responde a borboleta e como todos que dizem isso ela conta tudo. – Meus filhinhos são imaturos. Tudo pobre de direita. Classe média que se acha rica e não vê que é pobre, pobre, pobre de marré, marré desci. Não são iguais a mim: Linda, delicada, mas vivida. Sendo eu resiliente sou de esquerda. Mas meus pobres filhinhos são tuuuuuuudo eleitores e fãs do Boçalnato. Por isso destroem o meio ambiente. Mas a culpa não é deles. É que quando nascem baixa neles o espírito de Ber...

- Espirito de Ber? O que é isso?

- É um demônio terrível, terrível! É a Bancada Evangélica Ruralista.

- Entendo... Continue.

- Com o espírito de Ber meus filhinhos ficam dizendo coisas como "Terra plana; vacina, quando não faz virar jacaré, implanta chip comunista". Estou triste, tão triste.

- Fica assim não.

- Estou tão tristinha, mas não demora e os colocarei na escola, sabe.

- Borboleta tem escola?

- Claro, boba. A escola é quando fazem um casulo e ficam lá lendo. Estudando Literatura, Português, História, Sociologia, Ciências etc. É assim que abre os próprios horizontes e respeita as múltiplas diversidades.

- Não é muito fechado o casulo? Tanto tempo imóvel...

- Sim, é um pouco duro. Mas melhor isso que adorar Ber.

- Educação resolve todos os problemas.

- Educação sim, mas só diploma não. Tem muita borboleta diplomada, mas com alma de lagarta. Semana passada ouvi uma lagartinha do Jardim do Palácio do Governador do Rio Grande do Sul elogiando o Escatológico Borboletofóbico, mas como a lagartinha sabe que vai virar borboleta ontem entrou no casulo.

- Isso é bom. Afinal, aprenderá muitas coisas.

- Infelizmente, o pai é doutor Jairinho e a mãe é Flordeliz. Pelo que vi daquela família só tem fruto podre. E assim a lagartinha não aprenderá nada no casulo e sairá mau caráter diplomada.

 

 

En español:

 

EL CAPULLO

 

- ¡Ah, doña Nenísima de Castrísimo! Estoy tan preocupada. Mis hijos son tan inmaduros. Son pobres de derecha. La clase media que se creen ricas y no ven que son pobres, muy pobrecitas. No son iguales a mí: Linda, delicada pero vivida. Siendo yo resiliente soy de izquierda. Sin embargo, mijos son toooooooodos electores y fans de Bozalnato. Por eso están destruyendo el medio ambiente. Pero la culpa no es de ellos. Es que cuando nacen, baja en ellos el espíritu de Reelpo.

- ¿Espíritu de Reelpo? ¿Qué es eso?

- Es un terrible demonio. Reelpo es el “Religioso en la Política”.

- Comprendo… Continúe, por favor.

- Con el espíritu de Reelpo mis hijos quedan charlando cosas como “Tierra Plana; vacuna es la causa de autismo, cambia el adn”. Estoy triste, tan triste.

- ¡No! Tienes valor. ¡Fuerza!

- Estoy muy triste pero no tarda; los pondré en la escuela.

- ¿Hay escuela de mariposas?

- ¡Sí! ¿Cómo no? La escuela es cuando hacen su capullo y se quedan leyendo alli. Estudiando Literatura, Español, Historia, Sociología, Ciencias…

- ¿No es muy cerrado el capullo? Un largo tiempo inmóvil…

- No es fácil. Sin embargo, mejor eso que adorar Reelpo.

- La educación soluciona todos los problemas.

- Educación sí, pero solo un diploma no. Hay muchas mariposas diplomadas. Pero con alma de gusano. La semana pasada oí un gusanito del Jardín del Palacio del Gobernador del Rio Grande del Sur tejiendo elogios al Escatológico Mariposofóbico. Sin embargo, como sabe que cambiará a mariposa entró en el capullo.

- Eso es bueno. Al fin y al cabo, aprenderá muchas cosas.

- Infelizmente, el padre es doctor Jairito y la madre es Flordeliz. Y aquella familia solo produce frutos podridos. Y así el gusano no aprenderá nada en el capullo y saldrá basura diplomada.

 

 

Ofereço como presente aos aniversariantes:

Edgar Soares, Rita E.M. Rocha e Neide R. Azevedo.

 

Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO. É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”. Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).

Andres Garcia é revisor em espanhol. Natural da Colômbia e estudou até o quarto semestre de Filosofia.












     








Imagens:

Da borboleta e das lagartas: Erika Aviles (natural da Colômbia, artesã e fotógrafa amadora);

Do autor e do revisor (pai e filho na cachoeira): por Gustavo Drumond.


¹ Nena de Castro é escritora, professora aposentada, advogada residente em Ipatinga MG. Importante personalidade regional e pessoa a quem agradeço a Deus por ter no meu rol de amizades e de quem aprendi/aprendo muito. A historieta foi publicada em 17/01/21 no Caralivro.

 

Escrito em 17/01/21 e trabalhado no mesmo ano; revisto na metade de abril e depois nos dias 03 e 04 de julho.

domingo, 27 de junho de 2021

BATEU, DOEU. PEGA QUE É TEU¹


Pegó, dolió. Agarra que es tuyo, mi amor:

“Las nuevas prostituciones en Latinoamérica”. Alguien gritaba. Se acerca y escucha mejor: “Las Nuevas Constituciones en Latinoamérica”. Pero… En verdad, ¿los Senados se ocupan de la Constitución o de la prostitución?

Todos hablan de Bozalnato sacando el tapabocas de un niño, pero nadie charla de quién lo entregó en las manos del monstruo. Creo yo que es como un ritual satánico. Quien ofrece el sacrificio es lo peor villano, no el monstruo.

La ligación entre la prostitución, la constitución y esa escena es el moralismo.

Sexualidad, sensualidad, sexo, género, salud, política, sociedad… Tantas cosas a decir, pero el placer a la ignorancia, a los discursos de odio son tantos que me callo. Así como Caio Fernando Abreu no son para esos que escribo y de un trozo de un texto de él – A Morte dos Girassóis – termino mi discurso:

“Me fue a cuidar de que restaba, que es siempre lo que necesita hacer” (traducción libre). 

Nelson Rodrigues escutou um camelô gritando seu produto: A nova prostituição do Brasil. Surpreso, Nelson percebeu que ninguém ficou curioso ou escandalizado. Aproximou-se para ver o produto e percebeu que escutara errado. O camelô vendia exemplares da Nova Constituição do Brasil.

Mas será que realmente o Senado lida com a Constituição? Ou lida com prostituição?

Bem. Estou lendo o Beijo no Asfalto. E vejo o delegado Cunha se deslumbrando com o descaro do repórter Amado Ribeiro.

Como o homoerotismo masculino é potente e latente. Atenção! Não disse homossexualidade, mas homoerotismo. É comprovado cientificamente que cinquenta por cento dos sonhos de qualquer mulher é com outra mulher e a segunda metade é com outras coisas. E setenta por cento dos sonhos de qualquer homem é com outro homem e o restante com mulheres, coisas etc.

Estes sonhos – dos homens ou das mulheres – não envolvem obrigatoriamente o ato sexual. Mas o foco é o próprio sexo/gênero.

O gosto dos homens em admirar fisiculturismo, boxe, futebol e outros esportes é o corpo masculino. Mesmo quando heterossexual.

Alguns meses atrás publiquei aqui, no aRTISTA aRTEIRO, a história de uma família desajustada ( http://artedoartista.blogspot.com/2021/02/anturio-vida.html ). Mãe que queimava com cigarro os próprios filhos. O mais velho acabou morrendo numa sarjeta e o mais novo fora adotado por dois homens e teve um bom futuro.

No antúrio, o que nós chamamos de flor é, na verdade, folha. É uma “artimanha” da planta para atrair polinizadores. A flor é tão pequena que apenas vemos pontinhos pretos. No cronto em questão, todos na família possuem nomes de flor: Crisântema, Antúrio e Jacinto. Mas a vida deles de nenhum deles fora “um mar de rosas”. O único que escapou foi o bebê. Os outros dois padeceram a ironia de suas vidas serem falsas flores.

Iouloúdi é flor em grego e este passou a ser o nome de Jacinto, o bebê: Iouloúdi Rosa da Silva.

Iouloúdi se tornou um “adolescente cuja graça leve que esconde uma alma profunda”. Mais tarde, ainda bem jovem, mas não adolescente, ele beijou um homem.

Talvez você pense: E daí? Ele foi criado por viados. Mas o rapaz se encanta é com as mulheres.

O garotão beijou um homem que agonizava antes de morrer. Mas as pessoas – muita, muita gente – verão que ele é homossexual por causa dos pais.

O rapaz é bom leitor, mas até então não conhecia Nelson Rodrigues. O engraçado é que fez como em O Beijo no Asfalto. Beijou um moribundo. E os muitos que se calavam por ele ser adotado por bichas passaram a falar.

Iouloúdi tem uma sofrida simpatia. Seu coração ainda é puro; ele não sabe o porquê é atormentado por tantos.

Mas no mundo não existe apenas Iouloúdi. Há Benito, Aparecifo, Cimam, Cintia, Jhenifer...

Ainda precisam acontecer coisas como:

Com raiva corri até você e mesmo tentando desviar-se o derrubei no chão.

- Sou homem. – Gritou.

- Gay é homem. – Gritei.

E sexualidade não é tudo neste cronto.

Poucos dias antes desta publicação uma cena “político-saúde” foi muitíssimo comentada no Caralivro. Mas a observei de outra forma. Vi assim:

Todos falam do Boçalnato tirando a máscara do menino, mas ninguém fala de quem o entregou nas mãos do monstro. Para mim é como um ritual satânico. Quem oferece o sacrifício é o maior vilão, não o monstro.

O elo entre essa cena, a sexualidade, a prostituição e a Constituição é o moralismo.

Poucos anos atrás os quase cinquenta e oito milhões que gritaram “tem homem pelado no museu” sobre uma criança que viu uma performance artística. Hoje estes estão calados diante da cena do Escatológico tirando a máscara da criança em plena pandemia.

Quem grita “tem monstro infectando criança” é quem compreendeu que uma coisa é uma mãe consciente da arte, que o corpo não é tabu, mas natural; e outra são os pais entregando seu filho a um genocida.

Na semana passada, em uma das aulas para o sexto ano, expliquei sobre adjetivo concordar obrigatoriamente com o substantivo em gênero e número, mas não em grau. Exemplo: bonito concorda com gato, porém bonita não concorda com gato. Entretanto pode-se dizer gatinho bonitão.

Antes da explicação perguntei quem sabe o que é gênero, número e grau. Em algumas turmas ouvi que gênero é sexo. Então, sempre com palavras adequadas à idade, expliquei: sexo é genital e gênero é cultural. Homem diz “muito obrigado” e mulher fala “muito obrigada”; aceita-se que homem tenha cabelo comprido, mas ainda isso é associado à mulher; menino usa azul e pode fazer xixi na rua enquanto menina usa rosa e não pode fazer xixi na rua. Não disse, talvez por serem crianças, que homem pode bater na mulher e mulher deve apanhar (apesar, graças a Deus, que estamos lutando para acabar com a violência doméstica; entretanto essa luta é contemporânea). Tudo isso são papéis de gênero.

Sexualidade, sensualidade, sexo, gênero, saúde, política, sociedade... Tantas coisas a dizer, mas o gosto pela ignorância, pelos discursos de ódio são tantos que me calo. Como Caio Fernando Abreu não são para esses que escrevo e com um trecho do texto dele – A Morte dos Girassóis – encerro minha fala:

“Fui cuidar do que restava, que é sempre o que se deve fazer”.

 

 

Ofereço como presente ao aniversariante Daniel Cristiano. Ofereço também Ronix Malabardo, Educadores Conectados e Gustavo Drumond.

27 de junho de 1214 é o "nascimento" da Língua Portuguesa. Data do mais antigo registo escrito.

 

Recomendo a leitura de:

“Pequenas Epifanias”, de Caio Fernando Abreu; editora Nova Fronteira.

“Beijo no Asfalto”, de Nelson Rodrigues; editora Nova Fronteira.

 

¹ Jout Jout em Saia Justa no GNT, publicado em 28 de junho de 2020: https://www.facebook.com/gnt/videos/620209198595381

 

Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO. É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”. Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).

Imagem:

Fiat lux, foto de Erika Aviles.

 

Manuscrito, digitado e trabalhado entre o final da manhã ou início da tarde de 14 de março até a manhã de 27 de junho de 2021.

domingo, 20 de junho de 2021

DANAÇÃO DA NAÇÃO


Uma névoa... Não! Muito pequena para ser névoa. É gás. O vento cada vez mais forte não dispersou o gás que tinha, reparei, uma forma... Uns dois metros de altura, uns cinquenta ou sessenta centímetros no seu meio, seu alto quase tem um separação... como se fosse uma quase esfera pequena acima da parte ovalada... No ar, indo de uns dez a cinquenta centímetros, subindo, descendo, o gás. Uma parte à sua esquerda se destaca sem se desprender erguendo como se fosse um braço. O corpo gasoso, sim, só pode ser um corpo, e vivo, deslizou pelos vários metros que nos separava. Percebi uma forma levemente humana e quanto mais se aproximava, mais sólida parecia se tornar. Um corpo de homem. Parou com os pés no chão tão próximo de mim que se erguesse outra vez seu braço me tocaria. O medo que me silenciou começou a se esvair abrindo a minha boca e ele me disse

- Não se assuste. Está perdido?

Respondo para uma coisa dessa? Você responderia?

- Não se assuste. Posso te ajudar a encontrar o caminho para onde quer ir.

- Muito obrigado! Mas não precisa se incomodar.

- Não é incômodo. Vem! Vem!

Não saio do lugar então ele vem até mim. Dou um passo para trás. Ele não para.

- Não precisa ter medo. O caminho é por aqui.

Fala passando por mim. A luz da lanterna quase não o pegando mais sigo-o.

- Meu nome é Guino. O seu?

Guino é bem mais alto que eu. E adulto. Branco, cabelos pretos. Rosto comprido. Calça preta, camisa branca. Não é feio. A única coisa que assusta é um gás se solidificar...

- Ah! Meu nome é Breno.

Enquanto andamos, Guino não parou de falar sobre a noite, a floresta, livros (acho que viu o que estava comigo), mulheres, animais. Comida. Não sei porque resolvi olhar para ele através do meu espelho que peguei no meu farnel. Na mesma hora ele se virou pela primeira vez para me olhar e se vê. Seus olhos se avermelham de ódio, seu rosto estava horrível, suas mãos... duas garras e seus dentes enormes. No espelho, sob sua forma transparente ele me abraça. Beija meu pescoço. Meu pênis erige-se enquanto meu corpo amolece. Foi a melhor coisa do mundo. É a melhor coisa do mundo.

 

Em português:

 

Na Argentina e no Uruguai os casais trocam doces e juras de amor, pois é o Día de San Valentín; o dia dos namorados destes e outros países. Mas esta história não se passa fora, mas dentro do Brasil.

Aqui o dia amanheceu nublado e neblinado; algo meio avermelhado, meio cinza. Isso em todos os estados e municípios do país. Em todos!

Guino é do poder econômico e todos do poder econômico, são como Guino. Com mais de quatro anos de planejamentos e estratégias, Guino e seus semelhantes, assumem o poder político.

Com a venda das águas brasileiras; desgaste do saneamento básico; tomada das reservas indígenas; extermínio da população do MST; uso indiscriminado de agrotóxico da Bayer, Monsanto, BASF, Dow AgroSciences, Du Pont, Syngenta e a mais popular e perigosa: Roundup; queimadas no Pantanal mais as queimadas e desmatamentos na Amazônia. Não se pode esquecer dos desenvolvimentos de empresas de ônibus e, principalmente, de caminhões; com o desvio de dinheiro para maquinários ecológicos ou menos poluentes compraram os mais baratos, mais nocivos e com tecnologia ultrapassada; o descuido com a FIOCRUZ, com o Butantã, com as Universidades Federais; a recusa em comprar vacinas contra covid-19. O não gasto em desenvolvimento foi contabilizado, mas ficaram nos bolsos dos empresários.

Guino e seus pares somados aos quase cinquenta e oito milhões de Párias criaram o clima nublado, neblinado e vermelho acinzentado fazendo a danação da nação. Disse antes que isso aconteceu em todos os municípios do Brasil; mas aqui cabe uma correção. Nuvens e neblinas não obedecem às fronteiras. Para os padrões humanos elas têm organização aleatória. Há partes do Oceano Atlântico cobertas e partes costeiras descobertas. Há cidades antes das fronteiras com países Sul Americanos e há cidades nessas nações cobertas pelo mal.

Sim, pelo mal. Explico-me se ainda não entendeu (o que acho pouco provável).

Na epígrafe já foi muito bem explicitado que Guino é um vampiro. Já falei dele em outras histórias. E agora ele tomou posse do Brasil.

Durante os anos de preparação os alimentos para os humanos foram garantindo pelas indústrias de agrotóxicos; cuja renda maior passou a ser a venda de sementes geneticamente modificadas. Nada saudáveis, mas tornam o sangue mais saboroso.

E agora a luz que chega ao território nacional é ineficiente para controlar os vampiros. Uns poucos mil vampiros, cinquenta e oito milhões de semivampiros (estes são os Párias); e no Planalto Central o Escatológico assinando documento e não dizendo coisa com coisa desviando a atenção.

O ataque começou assim:

No correr do dia treze de fevereiro de 2021 o céu formou um pálio cobrindo parte da Terra do Sol.

Às 3:33 da madrugada do dia quatorze, Guino deu seu grito de guerra ecoado pelos outros vampiros.

Os Párias despertaram. Saíram de sua zona de falsa consciência para sua natureza de inconsequente inconsciência.

Atacaram, destroçaram seus pais, avós, seus filhos, netos, seus maridos ou esposas. Depois foram aos vizinhos.

Em pouco tempo duzentos mil mortos. Quatro meses depois já eram meio milhão; e o número a crescer exponencialmente.

Um exemplo:

O advogado Sá Teixeira ainda dormia quando o eco vampírico despertou o gene ruim. Suas pupilas avermelharam, sua íris ficou amarela e a esclerótica, arroxeada. Os caninos dobraram de tamanho, arquearam como dentes de serpentes e afinaram como agulhas com um sulco por onde escorre os venenos.

O primeiro veneno é paralisante, anestesiante e contrastando com eficiência sensibiliza os genitais excitando-os mesmo sem toques. Assim, o vampiro suga o sangue, come a carne da presa sem este reagir.

Após algumas vítimas o Pária consegue controlar-se o suficiente para imobilizar a presa, alimentar-se sem destroçá-la e inocular o segundo veneno.

Para produzir o segundo veneno o Pária necessita de sangue e carne para suas glândulas digestivas produzirem uma espécie de vômito que vai para a boca e diluindo-se forma a saliva. As gengivas absorvem o veneno e através dos dentes modificados transforma a vítima em outro Pária. Uma vez lançado o veneno transformador a fome retorna para destroçar novas presas. Assim é formado o ciclo.

O advogado Sá Teixeira e sua mulher, uma médica, passaram pelo mesmo processo. Ainda dormindo os olhos, os dentes, os órgãos digestivos, as mãos e unhas se modificaram nas poucas horas antes do que seria o nascer do sol.

Abriram os olhos juntos, olharam-se e não se reconheceram. Rosnaram um para o outro, mas não servindo de comida saíram da cama.

A mulher foi para o quarto ao lado e o marido para a cozinha.

No quarto, duas crianças e na cozinha a sogra preparava o café.

A velha deu um leve grito de surto, mas empurrada para a parede recebeu a mordida. Ficou vendo o genro acabar com seu sangue e arrancar partes de seu pescoço, seios flácidos e braços. Foi gostoso como orgasmos múltiplos.

A criança mais perto da porta não gritou; paralisada antes de assustar-se. Sem conseguir abrir os olhos sentiu seu sangue molhar a cama enquanto sentia um prazer desconhecido.

O som da carne destroçando-se acordou a criança da outra cama ao mesmo tempo que o pai ia para o quarto do filho adolescente.

O grito da criança acordou o irmão no outro aposento e chamou a atenção da mãe.

A criança tentou correr e o adolescente quis avançar para o pai sem saber o que lhe esperava.

A criança quebrou a janela ao ser jogada contra ela e o sangue jorrou pelos cortes; atiçando a Pária.

O adolescente sentiu seu pau e se assustou com o tesão sem sentido pelo pai. Morreu sem entender porque seu pai o devorava e porque ejaculava.

Sem mais ninguém na casa o casal saíra desvairado à rua. Em algumas casas acontecia o mesmo e outras casas eram invadidas.

O céu cinza e o ar nublado não eram percebidos pelos Párias e as presas não tinham tempo de observá-las.

No Brasil e no mundo há outros grupos não humanos. A maioria não é parasita; como os bruxos, sacis, curupiras...

Saci.

Vampiros não ousam enfrentá-los. Se estes não indestrutíveis também não são presas fáceis. Os Párias não dispõem de razão, mas não atacam os não humanos por instinto.

Os não humanos não se envolvem nos negócios dos vampiros. Porém desta vez o clima intervém no seu habitat.

A primeira medida que tomaram foi a criação de redomas com consistência de bolhas. E mesmo nos centros urbanos o ar é bom, a neblina não é tóxica e quando o céu se nubla é a natureza em um de seus momentos.

A segunda medida tomada foi não entrar em guerra. O planeta se cuida mesmo sem gente humana ou não humana. Em verdade, o planeta não necessita de gente. Os não humanos sabem disso e deixam a natureza fluir. Enquanto ela se equilibra os não humanos criam campos urbanos ou silvestres para eles, para os animais, plantas e humanos que os encontrar.

Meses depois do Valentim da Morte em um acampamento, humanos e não humanos festejam a lua no céu limpo.

Lima e Barreto se beijam debaixo de um caramanchão. Uma mulher passa perto deles e bate a cabeça num enfeite. Rindo, Barreto diz “só mesmo humano para não diferenciar lata de flor”.

O tempo não para e não sobra mais humanos fora dos acampamentos mágicos. Do Brasil não resta muita coisa então Guino vai de país em país da América Latina e depois para a parte Norte do continente. Os Párias vão se inanindo à extinção. Após o fim da América quais serão os próximos países? O que sei é que o mundo não precisa de gente...

O planeta continua se cuidando (é por isso que o mundo permitiu os parasitas, para limpar-se). Um dia a vida como foi até o século XXI não mais subsistirá. Parasitas se extinguem com a morte do hospedeiro. O que será dos vampiros? Dos Párias já sabemos, mas dos conscientes? De qualquer modo a Terra está tranquila.

Os não humanos estão igualmente tranquilos. Se a natureza os selecionar continuarão no que disse Antoine Laurent Lavoisier.

 

 

Principales partes en español:

CONDENACIÓN DE LA NACIÓN

 

Guino es del poder económico y todos del poder económico son vampiros. Tras años de planes y estrategias Guino y sus pares asumen el poder político.

Con la venda de las aguas brasileñas; desgaste del saneamiento básico; tomada de las reservas indígenas; exterminio de la población de las reformas agrarias; uso indiscriminado de pesticidas de la Bayer, Monsanto, Basf, Dow AgroSciences, Du Pont, Syngemta y la más popular y peligrosa: Roundup; quemadas en el Pantanal más las quemadas y derribada de Floresta Amazónica. No se puede olvidar del desarrollo de empresas de autobús y camiones; del desvío de dinero para la ecología; ni del descuido con la FIOCRUZ, con el Butantan, con las Universidades públicas; la recusa en comprar vacunas contra el covid-19…

Guino y sus iguales más los casi cincuenta y ocho millones de Parias crearon el clima nublado, brumoso y rojo grisáceo haciendo la condenación de la nación.

En los años de preparación los alimentos para los humanos fueron garantizados por las industrias agrícolas; cuya renta principal era la venda de semillas genéticamente modificadas. Nada saludables, pero tornan la sangra más rica.

Con la luz que ahora llega al territorio nacional es ineficiente para controlar a los vampiros unos mil vampiros, cincuenta y ocho millones de semivampiros (eses son los Parias); y Brasilia el Escatológico firmando documentos y nunca dando pie con bola descarrilla la atención.

El ataque empezó así:

En el correr del día trece de febrero de 2021 el cielo fue cubierto por una pabellón a empanar el Sol.

A las 3:33 de la madrugada del día catorce, Guino hizo el grito de guerra que despertó a los Parias. Ellos salieron de su zona de falsa consciencia para su naturaleza de inconsecuente inconsciencia.

Atacaron, destrozaron sus padres, abuelos, hijos, nietos, maridos, esposas… Después a los vecinos. En un rato, doscientos mil muertos. Cuatro meses después ya eran quinientos mil muertos y el número a crecer exponencialmente.

El eco del grito vampírico despertó el gene malo; enrojeció la pupilas, las iris amarillaron y la esclerótica se quedaron moradas. Los colmillos doblaron de tamaño, arquearon como dientes de serpientes y afilaron como agujas de donde salían los venenos.

El primer veneno es paralizante, anestésico y provoca sensibilización y excitación de los genitales. Así el Paria chupa la sangre y come la carne sin la presa reaccionar.

Tras un par de víctimas el Paria consigue controlarse el suficiente para inmovilizar la presa, alimentarse sin destrozarla e inocular el segundo veneno.

Para producir el según veneno el Paria necesita de sangre y carne para sus glándulas digestivas produjeren una especie de vómito que va para la boca y diluyéndose se forma la saliva. Las encías absorben el veneno y a través de los dientes modificados convierte a la víctima en otro Paria. Una vez lanzado el veneno cambiante el hambre retorna para destrozar nuevas presas. Así es formado el ciclo.

No Brasil hay otros grupo no humanos. La mayoría nos es de parásitos; como los brujos, los sacís, los curupiras…

Curupira.

Porque son inteligentes los vampiros no los enfrentan. Y por instinto los Parias también no los enfrentan. Y los demás no humanos no se involucran en los asuntos de los vampiros. Sin embargo, ahora el clima interviene en sus reinos.

La primera medida que tomaron fue la creación de redomas con consistencia de burbujas con la capacidad de limpiar la polución y virus.

La segunda medida tomada fue no entrar en guerra. El planeta se cuida mismo sin gente humana o no humana. En verdad, el planeta no necesita de personas. Los no humanos saben de eso y dejan la naturaleza fluir. Mientras ella se equilibra los no humanos crean campos urbanos y silvestres para ellos, para los animales, plantas y, si los encuentran, para los humanos.

Meses después del Valentín de la Muerte en un acampamento, humanos y no humanos, festejan la luna en el cielo limpio.

El tiempo no para y no hay más humanos fueran de los acampamentos mágicos. De Brasil no hay mucha cosa más y por eso Guino se traslada de un país a otro en toda Latinoamérica hasta ocupar todo el continente, de Sur a Norte. Los Parias se van muriendo de inanición. Después de América, ¿cuáles países y continentes se han de morir? No sé, pero el mundo no necesita de personas…

 

 

Ofereço como presente aos aniversariantes:

Faire (Amnon K. Oliveira), Jaydson Sousa, Salomão A. Costa, Vilma Zeferino e Feliciana Saldanha.

 

BORGES, Helena (o Globo). Estudo mapeia as dez empresas que dominam o mercado de agrotóxicos no mundo. Disponível: https://actbr.org.br/post/estudo-mapeia-as-dez-empresas-que-dominam-o-mercado-de-agrotoxicos-no-mundo/17568/ . Acesso 22 Fev 2021.

 


Rubem Leite
é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO. É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”. Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).

Imagens:

Saci: https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/trick-ou-treat-dizia-o-saci-polarizacao-do-dia-das-bruxas.phtml

Curupira: https://dana.com.br/social/nossos-projetos/lendas-brasileiras/curupira/

Autor: Vinícius Siman.

 

Na madrugada de 14 de fevereiro de 2021 tive o sonho ruim que deu origem a este cronto. No hospital Municipal de Ipatinga, acompanhando minha mãe, escrevi o manuscrito enquanto ela descansava. Dia 16 de fevereiro ela falece por parada cardíaca súbita motivada pelo convid-19. O cronto foi digitado e trabalhado entre os dias 22 de fevereiro e 20 de junho do mesmo ano.