domingo, 17 de outubro de 2021

UNIÃO SEM COMUM

 

 

 

- Não te amo mais.

- Desculpa se te faço sofrer.

- Você não exclusividade...

Pausa e olha nos olhos. Quando os desviam, repete:

- Não te amo mais.

- Não é exclusividade sua... Também não te amo mais.

E se abraçam. Retiram as roupas e se deitam olhando um ao outro e se tocando. Acariciam-se sem amor, sem desejo e com carinho à espera do sol.

 

 

Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO. É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”. Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).

 

Escrito na manhã de 29 de setembro e trabalhado entre os dias 13 e 17 de outubro de 2021.

domingo, 10 de outubro de 2021

HISTORIETAS SEM COMPROMISSO

  

Rubem Leite.

 

 

- Amor! Abra a porta.

- Não!

- Abra. Estou batendo na porta.

- Não!

- Abra e veja com o que estou batendo...

E a porta se abre.

 

- Kyller, ô Kyller! Quero namorar com você.

“É namorar você e não namorar com”, pensa, mas diz:

- Claro, amor. Vamos naquela velha e abandonada... É tão assombrad... Digo, tão assombrosamente aconchegante.

- Ai, que romântico.

- Claro, amor. Sou muito romântico.

Na casa:

- Que barulho é esse?

Ela pergunta.

- Não sei...

Faz cara de mistério, de quem prepara uma agradável surpresa.

- Ai, vai. Conta.

E o barulho outra vez vindo do porão.

- Ai, tô tããão curiosa que não resisto.

- “E ela sumiu, sumiu e nunca mais voltou” – canto Tim Maia. – E aí, monstro, gostou?

- Da hora.

Sorrimos um para o outro.

- Continue trazendo esses lanchinhos pra mim. São tão legais.

- Claro, amigos são para essas coisas. Estamos sempre prontos para ajudar.

 

 

Escrito e trabalhado entre os dias 06 e 10 de outubro de 2021.

domingo, 3 de outubro de 2021

O HINO É INOCENTE, MAS NÃO A GENTE

  

Árvores choram flores!

Abrigamos pássaros

É quando estes voam

Que nos florescemos.

 


- Gosto de entoar o Hino Nacional. Creio poder ser bom nas escolas, nas empresas, nos lares.

- Quanta bobagem. Cantei o Hino quando criança, meus pais cantaram e meus avós também. E essas três gerações, assim como a atual, não deixaram de ser corruptas.

- Creio que ele – o Hino Nacional –, quase como os livros, podem mudar as pessoas para mudarmos o mundo.

- É?!? Estas quatro gerações pouco tiveram de bom. Ignorantes, corruptas, preconceituosas...

- Mas a Arte, a Literatura, o Hino Nacional não podem obrigar a pessoa a ser sábia, amorosa, vívida, vivificante, harmoniosa, solidária, forte, corajosa. Não podem! O que podem é mostrar o bom caminho. Cabe a pessoa seguir; ou não...

- Veja o veio da Havan. Diz ele que a esposa lhe encorajou: “Vão atacar sua honra, mas a verdade está com você, pois só fez bem ao Brasil e aos brasileiros” e o dito cujo repetiu com toda tranquilidade. Realmente não consigo entender a ‘cara de pau’ e falta de decoro dessas e outras pessoas.

- Não há como discordar de sua indignação. Igualmente sofro. O que faço é

Tapete de sibipiruna

Alimenta o dia

Não, espero, para disputa

Mas para coragem e, desejo,

                                   Alegria.


 

Minha casa é lar

Lar é lugar

Não de alugar

Vitória espezinhando

É vitória a si

E solidarizando.

 

 

Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO. É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”. Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).

Imagens: fotos do autor – A primeira é vista da janela do meu quarto e a segunda é em uma das ruas do bairro Primavera. Todas em Timóteo MG.

 

Escrito entre 29 de setembro e 03 de outubro de 2021.

domingo, 26 de setembro de 2021

OVELHAS DO PASTOR

 


 

Domingo.

A menina acordou, não do sono, mas do desfalecimento.

- Bom dia, ovelhinha do pastor.

 

Quarta-feira.

- Benito, qual é o trecho bíblico onde Deus manda matar todos os homens e meninos e mulheres não virgens; e estuprar as meninas e adolescentes?

- É o que está nos versículos nos versículos treze a dezessete do capítulo trinta e um do livro de Números. E tem tam...

- É, mas tem que observar o período histórico! – Intervém um pastor que se encontrava perto.

Por não estar disposto a prolongar assunto com tanto o que tenho para fazer – desta vez – somente penso:

Sempre fazem isso. Quando é algo incômodo ou fora de seu interesse justificam “período histórico...”, “contexto da época...”, “interpretação de texto...” E quando é para seu interesse afirmam “é a verdade...”, “palavra do Senhor...”, “compreensão do texto...”.

 

Sábado.

- Boa noite, ovelhinha do pastor.

A menina ia para seu desfalecer. Nem sabia o que era falecer, mas já estava morta em vida; já desfalecia em sua vida falecida.

 

 

Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO. É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”. Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).

Imagem: foto de Erika Aviles.

 

Escrito entre 22 e 26 de setembro de 2021.

domingo, 19 de setembro de 2021

TERCEIRO DOMINGO DO SETEMBRO AMARELO

 

“Deus está cansado de ouvir. Quem te ouviu foi o diabo e te abençoou lá no inferno”.

(Mia Couto, em Padre Novo. Do livro O Fio das Missangas). 


Na semana do segundo domingo do setembro amarelo observei e senti muitas coisas e transcrevo algumas no terceiro domingo.

 

Uma é como diz minha sobrinha Thaís: “Pra que vou melhorar, se Jesus pode e DEVE pagar por mim?”. Também vi outra vez a perseguição a ciência e a educação.

Ainda senti a doce saudade. Sonhei com um cachorrinho que morreu ano passado. E num ponto de ônibus me lembrei das vezes que minha mãe e eu pegamos esperávamos o meio de voltar para casa.

De tudo isso registrei:

- Que Cristo tome para si nossas enfermidade e doença. Amém!

- Por que manda coisas ruins para Cristo? Que Ele faça funcionar o cérebro do povo e dos governantes. Não sei se é possível... Se esses cérebros têm cura... Mas podendo ou não, Cara, muita saúde pro Senhor e que a gente te deixe em paz.

 

Só consigo sentir-me triste. E nem tudo pelo que me atinge.

Queria ser pedra, mas sou, como disse Mário Quintana, Grilo: alma dos poetas mortos.

A Consul no shopping do Vale fechou. Quantas e quantos “desempregades”. O desespero avança no Brasil.

 

“Em Terra de Cegos”, de H.G. Wells

Quem tem um olho é louco.

Este se acha rei dos céus

E aqueles o cegam ou ele morre...

 

Sonhei com Florbela, Pessoa, Iemanjá e, o já falecido, Vitório – meus cachorrinhos –. Disse: “Oi, Vitório! Você está aqui?” E o sonho termina comigo fazendo-lhe carinho e ele abanando o rabo.

Será que me visitou? Não importa. Foi bom enquanto durou e o que ficou não é resto; é memória.

Eu, mesmo sendo apenas um ponto no universo, ainda estou aqui. A registrar, denunciar e atuar. É bem possível que meu esforço seja o de um ponto num parágrafo, mas não há de ser, ainda, o final do parágrafo.

 

 

Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO. É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”. Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).

Imagens – fotos do autor.

 

Escrito entre 12 e 19 de setembro de 2021.

domingo, 12 de setembro de 2021

SEGUNDO DOMINGO DO SETEMBRO AMARELO

 


 

 

Tem o sol e a lua,

Flores, pássaros e borboletas,

Cães e gatos,

Mas há também muitos

Parentes e vizinhos.

 

Tem um Pe. Júlio Lancelot,

Mas há também muitos

Silas Malafaia, Edir Macedo, Valdemiro Santiago.

 

Tenho emprego,

Mas quantos, no muito, só trabalho.

Tenho casa e comida,

Mas quantos estão sem guarida.

 

É muito para atravessar.

É muito para atravessar.

 

“Já raiou o sol da liberdade”

“Ainda que tardia”.

Declamam gente de toda idade;

Fazem os que têm rebeldia.

 

 

Rubem Leite é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO. É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”. Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).

Imagens – fotos do autor.

 

Pensado e sentido por muitos anos. Escrito nas manhãs de 11 e 12 de setembro de 2021.

domingo, 5 de setembro de 2021

PONTO FINAL AINDA NÃO

 

 

 

O que tenho para dizer no primeiro domingo do setembro amarelo? Há tantas falas paralelas...

Nesta semana que se encerrou disseram sobre Boçalnato: corno e gay.

A impressão que tenho é que, na verdade, é uma agressão à ex-esposa (por extensão: mulher). Se fosse ela a traída pouco ou nada ficariam chamando-a de chifruda.

E ser gay não é ofensivo nem engraçado.

Por que gente ruim tem que ser homossexual ou, se for, por que tem que destacar a homossexualidade?

Disseram-me: “Até onde sei, ninguém fala aquele hétero malvado, peste. Então o que gênero ter a ver com caráter? Nada!”.

Prefiro saber que Leonardo Da Vince, João do Rio, Renato Russo, Cássia Eller, Santos Dumont, Alan Turing eram homossexuais. Estes sim são exemplos a serem citados.

O que dizer no atual ponto histórico-geográfico tão conturbado?

- Não se mate!?!

- A vida vale a pena!?!

Não tenho muito a dizer sobre o mês de prevenção ao suicídio num período tão conturbado.

Está tão difícil viver. Mas a verdade é que nunca foi fácil. Nunca houve um período histórico ou ponto geográfico bom para o povo. Se nos matássemos por causa das dificuldades não ficaria ninguém.

Bem, estou aqui.

Manipulável. Querendo ou não somos todos manipuláveis, mas acho que me sobressaio...

Mas, porém, todavia... Aprendendo um pouco mais a cada dia. Fortalecendo-se um pouco mais a cada dia. Não por vontade, mas porque estou aqui.

Mas, porém, todavia... Solidarizando com um e outro. Denunciando um e outro. Unindo-me a um e outro. Por vontade porque estou aqui.

Estou aqui. Um ponto em Timóteo, em Minas Gerais, no Brasil, na América Latina, no mundo, no sistema solar, na galáxia, no universo...

Um ponto que pode vir a ser a semente de uma flor ou a pedra no sapato.

Mas no momento sou um ponto que ainda não é final.

 

 


Rubem Leite

é escritor, poeta e crontista. Escreve todo domingo neste seu blog literário: aRTISTA aRTEIRO. É professor de Português, Literatura, Espanhol e Artes. É graduado em Letras-Português. E pós-graduado em “Metodologias do Ensino da Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica”, “Ensino de Língua Espanhola”, “Ensino de Artes” e “Cultura e Literatura”. Autor dos artigos científicos “Machado de Assis e o Discurso Presente em Suas Obras”, “Brasil e Sua Literatura no Mundo – Literatura Brasileira em Países de Língua Espanhola, Como é Vista?”, “Amadurecimento da Criação – A Arte da Inspiração do Artista” e “Leitura de Cultura da Cultura de Leitura”. Foi, por duas gestões, Conselheiro Municipal de Cultura em Ipatinga MG (representando a Literatura).

 

Pensando no correr da semana anterior. Escrito no dia 05 de setembro de 2021.